Paterson é um homem. Paterson é a cidade. Paterson é um estado de espírito, praticamente. Paterson ganha vida e corpo na pele de Adam Driver, um dos grandes talentos da atual geração de Hollywood, visivelmente mais confortável em um projeto pequeno e independente como este do que em qualquer blockbuster intergaláctico. Ele é motorista de ônibus, e passa seus dias dirigindo pelas ruas de Paterson, New Jersey. Ele é feliz. Casado com uma mulher que o ama (Golshifteh Farahani), e por quem ele também é apaixonado. Ela trabalha em casa, e cada dia se descobre empolgada por algo novo: cupcakes, cortinas, guitarras. Ele, por sua vez, tem poucas preocupações. Vê-la satisfeita é uma delas. Outra é fazer bem o seu trabalho, sempre no horário certo. E, por fim, a cada momento livre que encontre, escrever algumas linhas. Gosta de se imaginar, afinal, um poeta. Amador, ainda segundo ele próprio. Não se sente seguro em mostrar aos outros o que produz. Tudo que redige é basicamente para si, em um exercício pessoal e bastante íntimo. Paterson vive das pequenas coisas, da rotina dos dias, da beleza do que não é visto. Uma conversa inesperada com uma garota à espera dos pais pode lhe trazer mais ensinamento do que um livro inteiro de anotações. O que se tem é o que se vive, não aquilo que se acumula. O diretor Jim Jarmusch sabe bem disso, e faz aqui uma ode ao que não é percebido, mas de valor inestimável. Tanto quanto uma caixa de correio, que insiste em não permanecer ereta, ou um cachorro de estimação, cuja pior das diabruras não pode acabar com o simples prazer da sua companhia.
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