“A Vida Invisível é sobre mulheres lutando para existir ao largo da configuração falocêntrica de uma sociedade machista, construída sobre as bases, os anseios e as vontades dominantes. É um homem, no caso o pai delas, o responsável pela brutalidade que carimba os destinos. Em primeiro lugar, por conta da suposta nódoa deixada pela escandalosa gravidez distante dos moldes familiares consentidos. Num segundo instante, em virtude da manutenção da mentira, da perpetuação dessa mágoa advinda da quebra de uma ordem construída como certa a partir da lógica vigente. Não é apenas por meio da imagem granulada que a textura da produção sobressai, nem somente pela direção de arte esmerada na recriação de um Rio de Janeiro romântico, mas não menos atravessado por toda sorte de questões. Karim trabalha as minúcias espaciais até conferir ao cenário uma organicidade complementar à genuinidade dos vínculos como essenciais nessa sóbria epopeia de dores (…) Os homens de A Vida Invisível reproduzem inadvertidamente a toxicidade da masculinidade alimentada por séculos. Antenor (Gregório Duvivier), marido de Eurídice, é um rapaz de infantilidade evidente. A primeira transa entre os dois deflagra bem a nocividade do machismo. Ele somente se preocupa em deflora-la, assim cumprindo um papel, num gesto mecânico oriundo da determinação do que fazer para encaixar-se na configuração pré-estabelecida de provedor”.
:: Confira na íntegra a crítica de Marcelo Müller ::
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