A trajetória paupérrima de um músico freelancer encontra uma narrativa apropriada no típico humor melancólico dos irmãos Joel e Ethan Coen. Afinal, o Llewyn do título, apesar de sua boa índole e gentileza inerentes, é um homem solitário, e isso muito por causa das convicções no próprio talento, que o impedem de abandonar a sua paixão: fazer música. Oscar Isaac vive o cantor com a sobriedade de uma pessoa lúcida, capaz de reconhecer os absurdos em que às vezes se encontra – como, por exemplo, ao pegar carona com o viciado e rabugento Roland (John Goodman, sempre ótimo). E como condená-lo por outro ato, quando a vida não parece sorrir para ele ou seu inseparável violão? Os percalços na trajetória do protagonista apenas se acumulam, o que explica seu cenho constantemente carregado, em contraponto às expressões delicadas de prazer que exibe quando tem a chance de cantar algo. Sua jornada pode até ser cômica de tão triste e azarada, mas nem por isso torna-se menos humana. Aliás, se trata de um dos filmes mais centrados dos Coen, com a fotografia de Bruno Delbonnel abraçando Llewyn nos seus sentimentos; as cores frias e a iluminação difusa e aquarelada remetem a uma atmosfera densa, dura e sombria. O artista só encontra algum conforto junto daqueles que apreciam suas canções – momentos em que a luz se torna mais calorosa e convidativa, tanto para nós quanto para essa figura melancólica e magnética. – por Yuri Correa

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