Reais ou figurados, títulos de filmes que façam menção aos mais variados tipos de bichos parecem realmente chamar a atenção do espectador, pois causa aquela dúvida: se o animal não está no filme, o que querem dizer com isso? Bom, aí é dúvida de interpretação, mas só nesta semana estreiam dois filmes com títulos metafóricos sobre animais: o nacional O Gorila e o iraniano O Último Poema do Rinoceronte. Por conta disto, o Top 10 da semana não é sobre nenhuma data comemorativa ou um tema específico. Nós reunimos dez filmes da melhor qualidade que trazem animais no título. Literais ou não, escolha o seu favorito e comente o que acha. Confira!

 

Sangue de Pantera (Cat People, 1942)
Citada por Martin Scorsese como imprescindível dentro da produção norte-americana dos anos 1940, a realização de Jacques Tourneur é uma das provas de que baixo orçamento e má qualidade não precisam andar juntos. Devido ao insucesso comercial de Cidadão Kane (1941), os estúdios RKO decidiram investir em produções de custo menor, entre elas esta que conta a história de Irina, sérvia que possui uma estranha fascinação pela pantera negra do zoológico de Manhatan. Ela conhece um norte-americano, se apaixona e com ele acaba se casando. Irina, na verdade, acredita ser descendente direta de uma linhagem de mulheres que se transformam em panteras tão logo sejam beijadas ou sintam ciúmes. A impossibilidade da consumação do matrimônio é o primeiro dos problemas que surgem ao novo casal, assombrado pela crendice ou pela maldição. Tourneur impregna o filme de uma tensão sexual latente, ao passo que trata o mistério ora com a incredulidade dos céticos, ora com a cautela dos crentes em sua literalidade. A iminente metamorfose de Irina é real ou apenas uma metáfora? Clássico, este filme ganhou um remake de respeito nos anos 1980, dirigido por Paul Schrader e protagonizado pela bela Nastassja Kinski. – por Marcelo Müller

 

Um Dia de Cão (Dog Day Afternoon, 1975)
Depois de fazerem juntos uma obra-prima em Serpico (1973), o diretor Sidney Lumet e Al Pacino retomaram a parceria nesta produção que, baseada em uma história real, resultou em mais um filme que ajuda a definir o cinema norte-americano da década de 1970. Aqui, Pacino interpreta Sonny Wortzik, que, ao lado de seu amigo Sal Naturale (John Cazale), decide assaltar um banco com o propósito de conseguir dinheiro para a operação de mudança de sexo de seu namorado, Leon Shermer (Chris Sarandon), um plano que não sai como deveria e faz os assaltantes serem encurralados pela polícia enquanto pensam em formas de sair dali. Com uma direção envolvente e que cria uma atmosfera de tensão envolta dos personagens, Lumet consegue fazer com que o público se identifique com a situação vulnerável do protagonista, e consequentemente nós nos importarmos com seu destino. A atuação magnética de Al Pacino também ajuda nisso, já que ele cria um Sonny essencialmente humano. Sem dúvida é uma obra fantástica, que arranca o melhor de seus artistas e até hoje influencia outros filmes de assalto. – por Thomás Boeira

 

Tubarão (Jaws, 1975)
Entrar no mar nunca mais foi o mesmo após a estreia desta produção assinada por Steven Spielberg. O diretor modificou completamente o status dos filmes de grandes estúdios com este lançamento em 1975, moldando o que viríamos a conhecer tão corriqueiramente como “filme-evento” e blockbuster. Na trama, estrelada por Roy Scheider, Richard Dreyfuss e Robert Shaw, uma pacata zona litorânea nos Estados Unidos é virada de cabeça para baixo com a chegada de um perigoso tubarão, que vem espalhando medo (e sangue) por onde passa. Desta lista, Tubarão talvez seja um dos nomes mais literais, visto que o maior vilão da história é realmente o animal em questão. Mas se nos embrenharmos na atmosfera criada pelo diretor em seu filme e lermos nas entrelinhas, é  possível também entender a figura daquele animal como uma representação do medo. Uma forma que o cineasta – e o escriba responsável pelo livro original, Peter Benchley – encontrou de contar aquela história, transformando o pavor (algo não palpável ou de difícil transposição para a tela) em uma figura de carne, osso e dentes. Muitos dentes. – por Rodrigo de Oliveira

 

A Mosca (The Fly, 1986)
Uma das empreitadas mais famosas de David Cronenberg, A Mosca é popularmente mais conhecido como: “aquele filme nojento com o Jeff Goldblum”. Sim, quando Seth (Goldblum) inventa um teletransportador e a experiência sai um pouquinho errada, o longa-metragem começa a se tornar um pouco repulsivo. Acontece que um pequena mosca entra na máquina com ele e acaba os dois acabam se tornando um só. Saindo do outro lado primeiramente normal, Seth aos poucos começa a sofrer pequenas mutações que vão transformando-o em uma gigantesca mosca, para o terror de sua querida Veronica (Geena Davi ). Contando com um ótimo trabalho de maquiagem quando efeitos digitais ainda não eram uma realidade, Cronenberg concebe a transformação do protagonista em inseto como algo extremamente dolorido e asqueroso. Das unhas que perde até o líquido ácido que passa a expelir para consumir seus alimentos, Seth vai ganhando o asco de todos ao seu redor, o que não deixa de remeter diretamente a obra clássica de Kafka, A Metamorfose, discutindo mesmo que de forma menos compromissada, a rejeição social do diferente e como o monstro nasce primeiro na cabeça de quem teme àquilo que não segue o padrão. – por Yuri Correa

 

Cães de Aluguel (Reservoir Dogs, 1995)
O primeiro filme dirigido por Quentin Tarantino tem tudo aquilo que tornaria o cineasta conhecido: humor negro, violência, roteiro esperto, diálogos demoras e “inúteis” (mas não menos divertidos), além de um elenco primoroso. Comandar Harvey Keitel, Tim Roth, Michael Madsen, Chris Penn, Steve Buscemi e outros como marinheiro de primeira viagem não é tarefa para qualquer um, ainda mais com a história criada: criminosos que não se conhecem e são contratados para um assalto descobrem que há um delator da polícia entre eles. O jogo de detetive está rolando, mas quem é o culpado? Título metafórico mais que apropriado, Cães de Aluguel é um show de traição e desconfiança como só o diretor parece saber entregar na filmografia mundial contemporânea, além de ter aquele charme quase despretensioso de cineasta de primeira viagem.  – por Matheus Bonez

 

Os 12 Macacos (Twelve Monkeys, 1995)
No ano de 2035, após uma epidemia causada por um vírus desconhecido, quase toda a população da Terra foi dizimada. Buscando a salvação dos poucos sobreviventes, cientistas criam uma máquina do tempo e enviam o prisioneiro James Cole (Bruce Willis) ao passado para impedir a catástrofe, que teria sido iniciada pelo grupo terrorista “O Exército dos 12 Macacos”. Inspirado no cultuado curta-metragem francês La Jetée, de Chris Marker, o cineasta Terry Gilliam se volta novamente à criação de um futuro distópico de grande inventividade visual, como em Brazil: O Filme (1985). Com uma trama intrincada, mas muito bem desenvolvida, misturando fantasia e suspense, o filme abandona o humor típico do membro do Monty Python e adota um tom mais sombrio e pessimista. Apesar de trabalhar nesta chave dramática, Gilliam não renega outras das principais características de sua filmografia, como um universo onírico, imagens surrealistas e seu quixotesco personagem principal. Personagem que proporciona a Willis um dos melhores papéis de sua carreira, acompanhado pela bela e competente Madeleine Stowe e por Brad Pitt, fugindo de seu estereótipo de galã e sendo indicado ao Oscar de ator coadjuvante.  Uma obra fundamental dos anos 90 e da ficção científica. – por Leonardo Ribeiro

 

Elefante (Elephant, 2003)
No final dos anos 1990,  dois adolescentes resolveram entrar armados em sua escola e assassinaram, à sangue frio, colegas e professores. A tragédia ocorrida na pequena cidade de Columbine, no interior dos Estados Unidos, invadiu também a ficção neste excepcional filme de Gus Van Sant. Aqui o cineasta faz seu melhor trabalho como diretor, mesmo tendo em seu currículo outras obras de inegável respeito. Não importa, aqui, a relevância de sua veracidade quanto aos fatos que realmente aconteceram. Não se nomeia lugar, prédio ou data – apenas pessoas. O roteiro alterna-se por vários protagonistas, alertando a audiência do quão patéticas – e, talvez por isso mesmo, fundamentais e únicas – são aquelas vidas. Muitos não entenderam o longa em sua proposta, outros preferiram simplesmente ignorá-lo. Uma lástima que só é redimida com a certeza de que cada um terá seu tempo para se “encontrar” com esta obra. Muitos dos estudantes que estiveram em Columbine num certo dia de aula certamente não terão essa oportunidade. É de se esperar que o espectador saiba reconhecer essa sorte. Afinal, ela é tão evidente quando um elefante no meio da sala. – por

 

Peixe Grande e Suas Histórias Maravilhosas (Big Fish, 2003)
Tim Burton é um diretor que costuma deixar sua marca sombria nos filmes, até quando trabalha em adaptações. Às vezes dá certo (Batman, 1989), noutras o casamento não funciona (Alice no País das Maravilhas, 2010). No caso de Peixe Grande, Burton deixa um pouco de lado seus cacoetes e oferece o filme mais colorido de sua cinematografia. Essa opção combina com o espírito do enredo, sobre um contador de histórias que costuma exagerar em suas narrativas inacreditáveis – daí o nome Peixe Grande, em alusão às histórias de pescadores. Outra decisão importante foi não escalar Johnny Depp, que poderia ficar acima do tom singelo que o roteiro pede e que Ewan McGregor consegue apresentar. Infelizmente, desde Peixe Grande, Tim Burton não conseguiu mais de desapegar de sua assinatura artística e não ofereceu outro título que se iguale a esse. – por Edu Fernandes

 

A Lula e a Baleia (The Squid and the Whale, 2005)
Divórcios de pais nunca são fáceis de lidar. Ainda mais para dois irmãos em fase de transição, um da juventude para a idade adulta e outro que chega a adolescência. Nada fáceis e pouco explorados de maneira nada melodramática no cinema. Aqui em A Lula e a Baleia, Noah Baumbach finalmente encontra o seu impulso para uma das mais proeminentes carreiras do cinema norte-americano atual. Com tons de autobiografia, o realizador conta a história desses dois irmãos que, nos anos 80, precisam lidar com a separação dos pais (Jeff Daniels e Laura Linney), um casal de intelectuais. O retrato da juventude, que viria se tornar principal mote do cinema de Baumbach está lá imersa em um jogo psicológico se inicia conforme a batalha pela guarda dos irmãos é travada. O título faz referência à lula e a baleia que lutam em um painel do American Museum of Natural History, que é revelado em determinado momento do filme. Essa imagem e título são quase como a representação dos pais e seus constantes conflitos.  – por Renato Cabral

 

O Tigre e a Neve (La Tigre e la Neve, 2005)
Poucos filmes conseguem traduzir para título a história que contam. Essa dificuldade é ainda maior como neste caso, em que o enredo singelo exige criatividade e delicadeza. Dirigido e protagonizado pelo italiano Roberto Benigni, conta a aventura do professor de Literatura Attilio de Giovanni na tentativa de não se afastar da amada Vittoria. Para isso, ele a acompanhará até o Iraque, onde ela adoecerá e ambos acabarão impossibilitados de deixar o país por conta da invasão norte-americana. Além da combinação inusitada, tigre e neve têm a característica de serem imagens que remetem tanto à força quanto à sensibilidade. E, nas circunstâncias de uma aventura de amor durante a guerra (assim como A Vida é Bela, 1998), é preciso agir como um tigre, alimentando a resistência sem cuidar para jamais perder a ternura. – por

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