Uma das categorias mais obscuras de toda a premiação, a de Melhor Curta de Animação costuma ser vista como um “estranho no ninho” pela audiência da festa, que na grande maioria das vezes não assistiu a nenhum dos indicados. Bom, ao menos em parte, o cenário foi alterado neste ano. E contribuiu para tanto, também, o fato da “temporada de premiações” em 2021 ter sido estendida em alguns meses, o que gerou um tempo extra para que se possa ir atrás e oferecer a devida atenção aos candidatos. Se na categoria-irmã de Longa de Animação a Disney e a Netflix praticamente dividiram a seleção, com dois indicados de cada uma, por aqui ambas estão de volta, mas em menor número: cada uma possui apenas um concorrente. Ou seja, ao menos dois desses títulos já podem ser vistos pelo espectador brasileiro, um na plataforma da Netflix, o outro no Disney+. Não chega a ser surpresa, ainda, que esses dois sejam os favoritos ao ‘ouro hollywoodiano’. Sendo assim, confira a seguir as nossas apostas em Melhor Curta de Animação.
Indicados
- Toca (Madeline Sharafian, Michael Capbarat)
- Genius Loci (Adrien Mérigeau, Amaury Ovise)
- Se Algo Acontecer… Te Amo (Will McCormack, Michael Govier)
- Opera (Erick Oh)
- Yes-People (Gísli Darri Halldórsson, Arnar Gunnarsson)
FAVORITO
Se Algo Acontecer… Te Amo
Dos cinco indicados, o representante da Netflix é o único que também foi indicado ao Annie Awards, considerado o “Oscar da animação”. Ou seja, já é meio caminho para a vitória junto ao Oscar. Criado pelos diretores, roteiristas e também atores Michael Govier (visto em séries como This Is Us, 2020) e Will McCormack (Celeste e Jesse Para Sempre, 2012), Se Algo Acontecer… Te Amo fala de um problema recorrente na sociedade norte-americana: jovens armados que acabam protagonizando chacinas em suas escolas. E quando o filho de um casal é uma dessas vítimas deixadas pelo caminho, como a família reage à perda e à tristeza consequente? Em apenas 13 minutos e sem diálogos, mas com bastante criatividade, os cineastas e animadores oferecem sua visão para essa situação de imenso pesar. Premiado nos festivais de Bucheon (Coréia do Sul), Edmonton (Canadá), Los Angeles, Ojai, Omaha, Phoenix, Sidewalk, SoHo, USA Film Festival e WorldFest Houston (todos nos EUA), entre outros, é não apenas um filme digno da vitória, como provavelmente também o mais visto dentre todos os concorrentes – o que já é uma ajuda e tanto.
AZARÃO
Toca
O senso comum afirma: nunca aposte contra a Pixar/Disney. Pois essa é a única razão para o curta escrito e dirigido por Madeline Sharafian aparecer na condição de “azarão” do ano. Segundo os especialistas, chega a ser indiscutível que o melhor dos cinco concorrentes é o francês Genius Loci – você pode conferir a nossa crítica aqui – mas que, por outro lado, este é também um dos mais experimentais e artísticos, digamos, e que por isso mesmo talvez não se comunique tão bem com o espectador mediano. O que não se verifica nessa história de uma coelhinha em busca do melhor lugar para construir sua casa, uma narrativa absolutamente tradicional – mas, não por isso, menos bela. Apenas é de maior alcance. Parte do projeto Sparkshorts – curtas independentes desenvolvidos por animadores da Pixar – que no ano passado já havia indicado nessa mesma categoria o mais ousado Kitbull (2019) – e que, mesmo assim perdeu para o empoderado e convencional em sua estrutura Hair Love (2019) – Toca é lindo de se ver, sucinto em seus meros seis minutos desprovidos de diálogos e cuja mensagem a respeito da importância de ajudar o próximo – e aceitar esse apoio – é universal.
SEM CHANCES
Opera
Se Genius Loci é apontado por alguns como um filme mais “arriscado” e “difícil”, então Opera poderia ser definido como quase incompreensível – por estes mesmos críticos, por assim dizer. A partir da sinopse “nossa sociedade e história, que é repleta de beleza e absurdos”, em apenas nove silenciosos minutos o diretor Erick Oh – que já trabalhou na Pixar e fez parte das equipes de animadores de sucessos como Divertida Mente (2015) e Procurando Dory (2016) – construiu uma animação de imensa beleza, mas também de árduo acesso. Inspirado em artistas do movimento renascentista, como Michelangelo e Botticelli, tem deixado aqueles que decidem por sua narrativa de aventurar literalmente de boca aberta, sem saber se estão diante de algo genial ou simplesmente inexplicável. Premiado nos festivais de Londres (UK), Slamdance e SXSW (ambos nos EUA), configura-se como uma das apostas mais arriscadas desse ano, e a impressão geral é que sua mera indicação já foi uma vitória e tanto.
ESQUECIDO
Umbrella
E não é que quase deu Brasil? Quer dizer, mais ou menos. O representante brasileiro que disputava uma indicação nessa categoria chegou a se qualificar, mas não passou pela pré-seleção, quando foram anunciados 10 semifinalistas – os que chegaram a ir adiante nessa fase, mas não foram selecionados, estavam o francês Traces (2018), o havaiano Kapaemahu (2020), o aclamado To Gerard (2020) – premiado no Festival de Annecy e indicado ao Annie – o alemão The Snail and the Whale e o impactante Segredos Mágicos (Out, 2020) – que também fazia parte do programa Sparkshorts, da Pixar, e fala sobre um casal gay em que um dos namorados precisa se assumir para os pais (esse pode ser visto no Disney+). Bom, voltando ao nacional Umbrella, escrito e dirigido por Helena Hilario e Mario Pece, é certo que não teríamos feito feio caso nosso candidato tivesse sido selecionado. Premiado no Independent Short Awards e no Indy Shorts International Film Festival, dois importantes eventos da área, e selecionado para mais de uma dezena de festivais ao redor do mundo, conta a história de um garoto órfão que guarda como lembrança do pai um guarda-chuva amarelo, e como esse objeto será capaz de mudar sua vida. Uma história singela e emocionante que merece ser descoberta.
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