Um dos maiores pesares relacionados ao Oscar 2021 foi a decisão, quase involuntária e nunca declarada, de transformar a categoria de Melhor Ator não em uma disputa, mas em uma homenagem. Em agosto do ano passado, aos 43 anos, morria de um violento câncer o astro Chadwick Boseman. Ainda que, enquanto vivo, ele não tenha sido um dos intérpretes mais celebrados – longe de ser um Denzel Washington na sua juventude, por exemplo – ele se tornou popular em todo o mundo, como exemplo de força e de superação, ao aparecer como o herói Pantera Negra, no Universo Cinematográfico Marvel. Perdê-lo tão cedo, portanto, deixou uma marca profunda, e é claro que não passaria em branco. Curioso, no entanto, é que tenham escolhido o lugar errado para tal honraria – ele merecia muito mais, por exemplo, pela presença como coadjuvante em Destacamento Blood, também lançado após a sua morte. Enfim, se nas demais categorias de atuação todas as apostas parecem um tanto confusas, por aqui não há nenhuma dúvida: há apenas um a ser reconhecido, enquanto todos os demais são meros figurantes. Infelizmente. Confira nossas previsões para Melhor Ator.
Indicados
- Riz Ahmed, por O Som do Silêncio
- Chadwick Boseman, por A Voz Suprema do Blues
- Anthony Hopkins, por Meu Pai
- Gary Oldman, por Mank
- Steven Yeun, por Minari: Em Busca da Felicidade
FAVORITO
Chadwick Boseman, por A Voz Suprema do Blues
Desde 1977, quando Peter Finch ganhou o Oscar de Melhor Ator por Rede de Intrigas (1976), que o Oscar de protagonista masculino não era uma escolha póstuma – claro, houve o caso de Heath Ledger, mas ele ganhou como coadjuvante. Como o músico Levee de A Voz Suprema do Blues, Chadwick Boseman se mostrou disposto a um duelo de igual para igual com a grande Viola Davis, e não faz feio na comparação. O fato do seu personagem falar muito, com diálogos rápidos e entonações convincentes, também colaborou. Tanto é que até o momento foi premiado no Globo de Ouro, SAG, Critics Choice e pelos críticos de Chicago, Columbus, Dallas-Fort Worth, Denver, Iowa, Londres, Los Angeles, Phoenix, San Francisco, Southeastern, St. Louis e Washington, além de ter estar concorrendo também ao Bafta e ao Independent Spirit. Ou seja, ganhou todos os principais prêmios da indústria e também fez bonito junto à crítica. É um legítimo “rolo compressor”, e dificilmente alguém se levantará para ficar no seu caminho. Não é a vitória merecida, mas, enquanto homenagem, Boseman é ainda muito maior!
AZARÃO
Anthony Hopkins, por Meu Pai
Se a disputa neste ano fosse equilibrada, sem o fato homenagem envolvido, a corrida de fato seria entre Anthony Hopkins e Riz Ahmed, de fato os dois intérpretes com as melhores atuações masculinas da temporada. E se Ahmed – o primeiro ator muçulmano a ser indicado ao Oscar – é quase uma surpresa, estreando na premiação e com talento suficiente para voltar mais vezes no futuro, a nossa torcida estaria, portanto, com o veterano protagonista de Meu Pai. Em sua sexta indicação, Hopkins entrega aquela que é, provavelmente, a melhor atuação de toda a sua carreira – e olha que estamos falando do homem que ganhou o Oscar como o icônico Hannibal Lecter de O Silêncio dos Inocentes (1991). Sensível, frágil e aberto ao improviso, ele agora aparece como o personagem-título, um homem que está se perdendo de si mesmo por causa do Alzheimer. Uma composição poderosa, que lhe rendeu indicações ao Globo de Ouro, Bafta, SAG, Critics Choice e Satellite, além dos prêmios dos críticos de Boston, British Independent, Florida e Nevada. Todos muito merecidos, mas ainda insuficientes diante do quão enorme é este trabalho.
SEM CHANCES
Gary Oldman, por Mank
Para começar, Gary Oldman acabou de ganhar o seu Oscar – por O Destino de uma Nação (2017), há apenas três anos. Ou seja, ainda é muito recente na memória dos votantes. Depois, por melhor que ele esteja em Mank, esse é um filme muito mais respeitado do que amado. E como bem se sabe, na hora do voto, na maioria das vezes, manda mais o coração do que a razão. Gigante em cena como Herman Mankiewicz, o roteirista que teria sido responsável pelo clássico Cidadão Kane (1941), ele oferece uma composição daquelas impossíveis de serem ignoradas. Tanto é que foi indicado ao Globo de Ouro, SAG e Critics Choice, entre tantos outros, mas premiado, de fato, não foi em absolutamente lugar nenhum, nem mesmo junto aos críticos regionais mais distantes. Ou seja, é uma presença de prestígio, com certeza – afinal, estamos falando de um dos grandes de Hollywood – mas, ao contrário do que lhe aconteceu na última vez, agora é sua vez apenas de marcar presença, mas bem longe do pódio.
ESQUECIDO
Delroy Lindo, por Destacamento Blood
Como foi possível Delroy Lindo ter ficado de fora do Oscar? É uma das maiores injustiças deste ano. Claro, outros poderiam ser apontados nesse lugar de “esnobado da temporada”, como Tahar Rahim, indicado ao Globo de Ouro e ao Bafta por The Mauritanian, ou Mads Mikkelsen, indicado ao Bafta e premiado no European Film Awards por Druk: Mais Uma Rodada. Mas, se é chegado, de fato, o momento de enaltecer uma tão sonhada diversidade – veja bem, dos cinco indicados, apenas dois são caucasianos – será que não havia espaço para dois finalistas negros? Bom, independentemente do tom de pele, o que Lindo faz em Destacamento Blood é algo raro de se ver em cena, ao simplesmente dominar todas as atenções, mesmo quando se trata de um filme de elenco, com vários intérpretes ao seu lado tão afiados quanto ele. Não por acaso, foi eleito o Melhor Ator do ano pela Sociedade Nacional dos Críticos de Cinema dos EUA, uma das poucas premiações que realmente lhe concedeu o reconhecimento merecido. Ele merecia muito mais, assim como o filme, que viu-se com apenas uma indicação – em Melhor Trilha Sonora. É de se torcer, agora, que numa próxima ocasião a justiça, enfim, lhe seja feita.
:: Confira aqui tudo sobre o Oscar 2021 ::
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