INDICADAS

 

Duas novatas, duas antigas premiadas em suas primeiras indicações pós-vitória e uma veterana em busca de sua primeira conquista. Se apenas por essa descrição resumida já se pode ter uma ideia de por quem torcer na corrida ao prêmio de Melhor Atriz no Oscar 2015, é com felicidade que podemos afirmar que qualquer impressão apressada estará mais do que certa! Afinal, somente um hecatombe poderá impedir a consagração de Julianne Moore, nesta que é sua quinta indicação – ela nunca foi premiada antes, e é possível contabilizar com folga no mínimo mais umas quatro ocasiões em que foi “esquecida” sem receber uma justa nominação. Rosamund Pike e Felicity Jones, duas estreantes no prêmio da Academia – a primeira tem 36 anos, e a segunda 31 – são jovens, e por mais que uma ou outra tenha tido um retorno positivo da crítica, certamente a mera indicação já é uma vitória e tanto para suas carreiras.

Ficamos, então, com dois casos similares, porém bastante distintos. Reese Witherspoon e Marion Cotillard, ambas já premiadas – a primeira por Johnny & June (2005) e a segunda por Piaf: Um Hino ao Amor (2007) – são duas estrelas de peso em Hollywood, e com a lembrança neste ano se livram de vez da tal “maldição do Oscar”, comprovando que são atrizes de talento, e não de um único sucesso. Witherspoon, no entanto, é um nome muito popular, e teve em Livre seu primeiro trabalho ‘sério’ desde a vitória, então sua indicação é quase como um aval do clube de que ela “ainda faz parte do time”. O contrário do que acontece com Cotillard, uma intérprete francesa atuando em sua língua original – algo raro entre os indicados ao Oscar, pois seus eleitores costumam sempre privilegiar os conhecidos. Ela já havia sido ignorada neste meio tempo por Ferrugem e Osso (2012) – pelo qual foi indicada ao Globo de Ouro, ao Bafta, ao SAG e ao Critics Choice – e sua inclusão de última hora neste ano (infelizmente, não é nem de longe uma das favoritas) apenas serve para indicar que talvez a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood esteja deixando de olhar somente para o próprio umbigo e percebendo que há muitos outros talentos d’além mar!

 

FAVORITA: Julianne Moore, por Para Sempre Alice
Julianne Moore já conta com quatro indicações anteriores no currículo – Boogie Nights (1997) e As Horas (2002), como coadjuvante, e Fim de Caso (1999) e Longe do Paraíso (2002), como protagonista. E foi injustamente esquecida em outras tantas ocasiões, como Mal do Século (1995), pelo qual concorreu ao Spirit, Magnólia (1999), que a colocou na disputa do SAG e lhe rendeu um National Board of Review, Direito de Amar (2009), que lhe rendeu indicações ao Globo de Ouro e ao Critics Choice, e Minhas Mães e Meu Pai (2010), pelo qual foi indicada ao Globo de Ouro e ao Bafta. E isso que nem estamos falando do “esquecimento”, neste ano mesmo, pelo superior Mapas para as Estrelas (2014), pelo qual foi premiada como Melhor Atriz no Festival de Cannes e concorreu ao Globo de Ouro (Atriz em Comédia). O veículo da vez, Para Sempre Alice, segue uma fórmula muito mais simples – importante intelectual e mãe de família que se descobre vítima de um forma bastante precoce de Alzheimer – que serve quase que exclusivamente para abrir espaço e criar oportunidades para um show particular de interpretação da protagonista, que mostra todo o seu potencial em um filme menor do que o seu trabalho em particular. Para constar, foi premiada no Globo de Ouro (Atriz em Drama), no Bafta, no SAG (Sindicato dos Atores), no Critics Choice Award e pelos críticos de Chicago, Houston, Londres (melhor atriz estrangeira), São Francisco e Washington, além do National Board of Review.

 

TORCIDAMarion Cotillard, por Dois Dias, Uma Noite
Qualquer olhar mais preciso e desprovido de preconceitos será justo em afirmar que a melhor interpretação feminina do ano é a de Marion Cotillard neste filme dirigido pelos irmãos Dardenne. O longa, no entanto, estreou no Festival de Cannes do ano passado – onde ela perdeu para a própria Moore, porém por outro filme, Mapas para as Estrelas – e tudo indica que deverá ser derrotada novamente pela mesma atriz, porém agora por outro trabalho. Cotillard não foi indicada – muito menos ganhou – praticamente nada neste ano – ganhou o European Film Awards e os prêmios dos críticos de Boston, de San Diego e da Georgia, além de ter concorrido ao Critics Choice. Contou a seu favor, no entanto, outro desempenho arrebatador nesta temporada, no drama Era Uma Vez em Nova York (2013), e pela atuação conjunta dos dois trabalhos foi eleita a melhor do ano pelos críticos de Nova York e pela Sociedade Nacional dos Críticos dos EUA. Foi o empurrão definitivo para conquistar seu lugar de direito entre as cinco selecionadas deste ano. No entanto, por melhor que esteja – e está – é difícil torcer por ela. Afinal, merece mesmo dois Oscars – enquanto que Julianne, uma atriz nunca menos do que excelente, ficaria novamente de mãos abanando? Jogo difícil, este.

 

AZARÃORosamund Pike, por Garota Exemplar
A atriz mais premiada pela crítica, no entanto, é Rosamund Pike, por seu desempenho assombroso em um filme que tinha pinta de campeão, mas acabou morrendo na praia – ela é a única indicação em um sucesso de público que prometia muito mais. Sinal de que o trabalho de David Fincher talvez não tenha agradado tanto aos eleitores da Academia como se pensava. Pike, que até então nunca havia feito nada de destaque – e em um projeto produzido por sua concorrente Reese Witherspoon, que foi rejeitada pelo diretor para esse personagem – já foi premiada em quase duas dezenas de associações de críticos nos EUA e no exterior, entre elas as associações dos profissionais de Austin, Denver, Detroit, Florida, Kansas, Londres (melhor atriz inglesa), Texas, Oklahoma, Phoenix, St. Louis e Utah, entre outras. Uma quantidade impressionante, porém de baixa relevância – nas premiações maiores, como Globo de Ouro, SAG, Critics Choice e Bafta, por exemplo, ela foi apenas indicada, sem nenhuma conquista de peso. É trabalho para ganhar, mas parece lhe faltar fôlego para cruzar a linha da vitória.

 

ESQUECIDA: Amy Adams, por Grandes Olhos
Por um lado, como seria bom ver o trabalho que Amy Adams desempenha na cinebiografia da artista Margaret Keane ser reconhecido com uma indicação ao Oscar. Poderia ser o caso até de premiação – ela ganhou o Globo de Ouro (Atriz em Comédia) e foi indicada ao Bafta – pois talento e qualidade para isso ela tem de sobra. No entanto, com uma disputa tão acirrada, parece ter lhe faltado espaço. Ainda mais se levarmos em consideração que esta seria sua sexta indicação sem vitória, uma marca que ninguém gosta muito de carregar. Que a próxima participação do prêmio da Academia venha na condição de favorita, portanto, e não somente como convidada de luxo. Outro nome que apresentou uma ótima e surpreendente atuação no último ano foi Jennifer Aniston, por Cake: Uma Razão para Viver (indicada ao Globo de Ouro, SAG e Critics Choice). Mas, infelizmente, são apenas cinco vagas – ainda que, na minha opinião, estas duas mereciam muito mais estar entre as indicadas do que Felicity Jones e Reese Witherspoon!

 

Confira a lista completa de indicados e as chances de cada um no nosso Especial Oscar 2015

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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