Deusa do sexo. A primeira princesa de Hollywood (e não Grace Kelly, como pensa o senso comum), ao se casar com o Príncipe Aly Khan, em 1949. Citada por Madonna como uma das maiores estrelas de todos os tempos na canção Vogue. Inspiração para o desenho da personagem Jessica Rabbit, de Uma Cilada para Roger Rabbit (1988). O popular coquetel ‘Margarita’ foi batizado em sua homenagem. Eleita uma das 100 maiores celebridades de Hollywood pelas revistas Empire, Premiere e Entertainment Weekly. Tudo isso e muito mais pode ser dito a respeito de Margarita Carmen Cansino, a mulher que o mundo conheceu como Rita Hayworth, nascida no dia 17 de outubro de 1918 e falecida em 14 de maio de 1987, aos 68 anos, vítima de Alzheimer. Ambos os eventos se sucederam na cidade de Nova York, EUA.

Filha de um casal de dançarinos ciganos, Rita começou a estudar dança ainda criança. Aos 12 anos já se apresentava ao lado do pai, e aos 15 foi contratada pelo chefão dos Estúdios Fox, Winfield R. Sheenan, que a chamou para seu primeiro papel de destaque em A Nave de Satã (1935). O sucesso, no entanto, não surgiu de imediato. Após cinco pequenos papéis, a Fox abriu mão da atriz. Com a ajuda do seu primeiro marido, Edward Judson, ela acabou assinando com a Columbia logo em seguida. Foi por sugestão do diretor Harry Cohn, aliás, que ela decidiu trocar o sobrenome paterno – Cansino – pelo mais sonoro Hayworth (nome de solteira da mãe). Foi nessa ocasião que ela aproveitou também para substituir a cor dos cabelos, do castanho para o ruivo que se tornaria uma marca registrada.

A Columbia, no entanto, parecia não saber o que fazer com ela. Em 1935, foi tirada do elenco de Ramona e substituída por Loretta Young (“Foi a maior decepção da minha vida”, afirmaria anos depois do episódio). Só em 1939 teria seu primeiro papel de destaque no estúdio, em Paraíso Infernal, de Howard Hawks, em que apareceu ao lado de Cary Grant e Jean Arthur. Mais uma dezena de trabalhos na tela grande ainda não foram suficientes para fazer dela uma estrela. Mas tudo começou a mudar quando foi emprestada para participar de um filme da concorrente Warner Bros. A produção se chamava Uma Loira com Açúcar (1941), em que apareceu ao lado de James Cagney e Olivia de Havilland. O incrível retorno deste trabalho junto ao público a levou a ser chamada por Fred Astaire para participar de Ao Compasso do Amor (1941), lançado no mesmo ano. Rita Hayworth era, finalmente, um grande nome de Hollywood.

Apontada por muitos como um vulcão sexual, Rita se considerava mais uma comediante desajeitada, e na vida íntima era muito tímida e reservada. Seu verdadeiro carisma só foi revelado de vez no clássico Gilda (1946), um dos cinco longas em que atuou sob o comando de Charles Vidor. Foi casada ao todo cinco vezes, inclusive com o cineasta Orson Welles, com quem teve sua primeira filha, Rebecca, e ao lado de quem estrelou o noir A Dama de Shanghai (1947), que não foi bem recebido na época pela crítica, nem pelos fãs. Sua carreira seguiu num ritmo irregular no início dos anos 1950, quando se sentia cada vez mais inclinada a permanecer em casa e cuidar dos filhos. Teve um papel de destaque como protagonista de Salomé (1953), e então ficou em um retiro voluntário por quatro anos, até retornar em Meus Dois Carinhos (1957), comédia musical que estrelou ao lado de Frank Sinatra e Kim Novak. Ao serem questionados qual dos três deveria ter o nome em destaque no cartaz do filme, Sinatra se adiantou, resolvendo a dúvida: “Rita deve vir primeiro. Ela é a Columbia Pictures (estúdio responsável pelo filme)!”

Gilda foi o filme mais importante de sua carreira, e como todo ápice, marcou também o início de sua derrocada. No final da década seguinte ela seguiria em atividade, trabalhando não apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa, mas sem conseguir reprisar o sucesso de outrora. Trabalhou pela quinta vez com Glenn Ford em O Dinheiro é a Armadilha (1966), e encerrou sua carreira com A Ira Divina (1972), ao lado de Robert Mitchum.

Morreu na casa da filha, Yasmin (fruto do casamento com o Príncipe Aly Khan, seu terceiro marido), em Nova York, aos sessenta e nove anos. A causa do falecimento foi mal de Alzheimer, doença que sofria desde a década de 1960, mas que só foi diagnosticado em 1980. Está sepultada no Cemitério Holy Cross, em Culver City, Califórnia, não muito longe do endereço 1645 da Vine Street, em Los Angeles, onde se encontra sua estrela da Calçada da Fama, ao lado dos grandes astros imortais de Hollywood.

Filme imprescindível: Gilda (1946), de King Vidor. Afinal, “nunca houve uma mulher como Gilda!”

Primeiro filme: Cruz Diabo (1934), como extra em uma participação não-creditada. O primeiro papel de destaque foi em Sob o Luar dos Pampas (1935), quando assinava ainda como “Rita Cansino”

Último filme: A Divina Ira (1972), no papel da Señora de La Plata. Por sinal, um faroeste, assim como seu primeiro longa como protagonista, fechando um ciclo.

Papel perdido: Ela interpretou a irmã de Barbara Stanwyck em Mensagem a Garcia (1936), mas após uma exibição-teste todas as suas cenas foram cortadas da versão final sob ordem do produtor Darryl F. Zanuck. Anos depois, foi a primeira opção do estúdio para interpretar o principal papel feminino de Casablanca (1942), mas como não pode aceitar o convite devido a outros compromissos já assumidos, Ingrid Bergman ficou no seu lugar.

Cinebiografia: A História de Rita (1983), telefilme em que foi interpretada por Lynda Carter – famosa por viver a heroína Mulher-Maravilha no seriado de televisão. Ela aparece também na trama de Hollywoodland: Bastidores da Fama (2006), desta vez interpretada por Veronica Watt.

Premiações: Nunca chegou a ser indicada ao Oscar ou a qualquer prêmio de maior expressão. O máximo que conseguiu foi concorrer ao Globo de Ouro como Melhor Atriz em Drama por sua performance em O Mundo do Circo (1964)

Frase inesquecível: “A maioria dos homens se apaixona por Gilda, mas acorda na cama comigo

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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