Ao contrário de outros festivais, que procuram distribuir durante sua programação a presença dos seus homenageados, o XVII Cine PE preferiu concentrar os momentos de honra do evento logo no início, numa sequência que ocupou os três primeiros dias de atrações. E após o resgate histórico do Canal 100, bastante propício ao tema deste ano do encontro – Brasil, país do futebol e cada vez mais também do cinema – e da participação iluminada de Marieta Severo – que ao mesmo tempo em que foi recebida com honras aproveitou para apresentar seu último longa, Vendo ou Alugo, também na competição oficial – no terceiro dia de atividades ofereceu uma luz a um dos mais importantes cineastas brasileiros, merecedor de todo aplauso possível: Silvio Tendler.
Apresentado como o maior documentarista do cinema nacional, responsável pelas três produções do gênero campeãs de bilheteria em nosso país – O Mundo Mágico dos Trapalhões (1981), com 1,8 milhões de espectadores; Jango (1984), com 1 milhão de espectadores; e Os Anos JK (1980), com 800 mil espectadores – Tendler tem estado doente nos últimos anos, apresentando um estado de debilidade física que o tem impedido de seguir filmando no mesmo ritmo das últimas décadas. Com apenas 63 anos, o diretor construiu uma obra vasta e abrangente, no cinema e na televisão, e o reconhecimento com o Calunga de Ouro foi justo e merecido. Ao aparecer, de cadeira de rodas, cercado de familiares, para o discurso de agradecimento, a plateia presente o recebeu de pé, diante de uma ovação intensa.
Mas o domingo guardou outras novidades para os frequentadores do XVII Cine PE. Após as coletivas com os concorrentes exibidos na noite anterior, pela manhã, e da mostra competitiva de Curtas-Metragens Pernambucanos, à tarde, houve a exibição do longa Hereros Angola, documentário de Sergio Guerra que integrou a mostra especial Brasil / Angola. Por fim, a programação paralela abriu espaço para uma reapresentação especial do já citado Jango, de Tendler.
À noite, o centro de convenções do Teatro Guararapes exibiu cinco curtas-metragens – talvez o excesso tenha sido para justificar a ausência de produções do gênero na noite anterior – e o quarto longa-metragem em competição. Os dois primeiros curtas foram animações bem humoradas e já bastante premiadas em diversos festivais anteriores: Cadê Meu Rango?, de George Damiani, de São Paulo, um trabalho de conclusão de curso dono de uma ideia simples, porém muito bem executada, e Linear, de Amir Admoni, já exibido nos recentes festivais de Gramado e de Brasília, que combina animação com cenas de externa num registro crítico do urbanismo social. O bom é que a cada vez que é visto o filme fica ainda melhor, seja pela denúncia que carrega ou pela excelência de sua realização.
Depois da ficção insuportável Os Contratadores, de Evandro Rogers e Marcus Nascimento, de Minas Gerais, que provocou mais desconforto do que interesse na plateia, foi a vez dos documentários Confete, de Jo Serfaty e Mariana Kaufman, do Rio de Janeiro, e Alexina – Memórias de um Exílio, de Claudio Bezerra e Stella Maris Saldanha, de Pernambuco. O primeiro parte dos papeizinhos picados para compor uma alegoria sobre o colorido do carnaval e sua efemeridade. Bonito, poético, mas tão descartável quanto o elemento em foco. Já o segundo tem em cena uma importante figura histórica, porém se perde em dificuldades de produção e em uma realização que ficou aquém do que o tema merecia. Infelizmente.
Encerrando a programação oficial competitiva da terceira noite do XVII Cine PE, houve a exibição do longa-metragem Mazzaropi, documentário de Celso Sabadin. O maior porém envolvendo essa projeção foi a forte chuva que tomou conta de Olinda, afastando quase que por completo os espectadores do Teatro Guararapes. Bem realizado e pertinente pelo personagem que resgata, é um filme que tem um valor educacional de bastante relevância. Confira a crítica completa do filme e a cobertura de todas as atrações no nosso especial sobre o festival pernambucano!
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