A festa de premiação do 81º Academy Awards, o popular Oscar, foi uma verdadeira volta ao mundo. E se o show, conduzido com habilidade e visível prazer por Hugh Jackman, foi um belo espetáculo – como há anos não acontecia – os resultados mais uma vez apontaram para uma previsibilidade atroz! Praticamente todos os favoritos confirmaram suas condições, restando poucas – ou praticamente nenhuma – surpresas. E, enquanto isso, os amantes da sétima arte mais uma vez tiveram suas suspeitas confirmadas: esta é, sim, uma festa cada vez mais fútil e saborosa, ao mesmo tempo em que serve menos como um indicativo de qualidade cinematográfica.
Primeira Parada: Índia
Quem Quer Ser um Milionário? foi o grande vencedor. Mas o longa do diretor inglês Danny Boyle, filmado em Mumbai, teve um efeito rolo-compressor, atropelando os demais concorrentes de uma forma tão esmagadora como não se via desde 2004, quando O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei conquistou 11 estatuetas! Quem Quer Ser um Milionário? saiu com nada menos do que 8 prêmios, dos nove que disputava (e entre 10 indicações, já concorria em duas vagas para Canção Original): Filme, Direção, Roteiro Adaptado, Som, Canção Original (para a contagiante Jai Ho) e Montagem eram já imaginadas, mas Fotografia (tanto O Curioso Caso de Benjamin Button quanto Batman – O Cavaleiro das Trevas eram melhores) e Trilha Sonora (como superar Wall-E?) foram vitórias injustas. E, na onda indiana, um dos poucos resultados inesperados da noite: o Documentário em Curta-Metragem Smile Pinki, que também foi filmado na Índia.
Segunda Parada: Japão
Um dos momentos mais engraçados da noite foi a vitória do animador Kunio Kato, pelo Curta-Metragem de Animação La Maison en Petits Cubes (derrotando favoritos como Presto, da Pixar, o inglês This Way Up e o francês Oktapodi). Sem conseguir pronunciar uma frase completa compreensível em inglês, o discurso de agradecimento dele se resumiu a uma constante repetição da expressão “thank you”, porém com um sotaque absolutamente hilário! E quando achávamos que os orientais se contentariam com isso, mais uma surpresa: A Partida, também japonês, levou o primeiro Oscar de Melhor Filme Estrangeiro para seu país, após 12 indicações! Valsa para Bashir, de Israel, e Entre os Muros da Escola, da França, eram os favoritos, e este resultado surpreendente deve ser o motivo do porque ninguém deve ter acertado 100% das previsões dos resultados.
Terceira Parada: Espanha
Penélope Cruz foi a pessoa mais sortuda deste ano. Se no início da temporada pré-Oscar ela começou despontando como favorita, aos poucos ia sendo ofuscada por Kate Winslet, em O Leitor, que foi eleita Melhor Atriz Coadjuvante em premiações importantes como o Globo de Ouro e o Screen Actors Guild. Mas, como no Oscar Winslet conseguiu apenas uma indicação, e como protagonista – e por este mesmo papel! – o espaço ficou livre para Penélope, que levou tranquilamente sua estatueta para casa, sem uma forte competidora ao seu lado. Primeira atriz espanhola a ganhar um Oscar, fez parte do seu discurso na língua materna e agradeceu ainda diretores que a incentivaram durante sua carreira, como Pedro Almodóvar, Fernando Trueba e Bigas Luna. E outra curiosidade foi ela ganhar, por Vicky Cristina Barcelona, exatamente um ano após o namorado, o igualmente espanhol Javier Bardem, que também venceu por uma produção americana: Onde os Fracos não tem Vez (2007), dos irmãos Coen.
Quarta Parada: Austrália
Um dos momentos mais comoventes da noite foi a entrega do prêmio de Melhor Ator Coadjuvante para Heath Ledger, pelo impressionante Coringa de Batman – O Cavaleiro das Trevas – filme que teve que se contentar com apenas mais um prêmio, o de Edição de Som, apesar das 8 indicações! Resultado não só previsível como aguardado, o Oscar de Ledger foi saudado de pé por todos os presentes, que, emocionados, aplaudiram os familiares do ator que receberam o prêmio em nome da filha dele, Matilda, ainda criança. Mas se Ledger provocou tristeza e lamento, seu conterrâneo Hugh Jackman foi só alegria e excitação. Esnobado neste ano por seu desempenho no constrangedor Austrália, mesmo assim conseguiu um lugar de destaque na premiação: mestre de cerimônias! E, como um verdadeiro showman, protagonizou sequências arrebatadoras, como o número de abertura, citando todos os principais concorrentes (“The Reader, I haven’t seen The Reader…”), além da fantástica performance celebrando a volta dos Musicais, em que cantou e dançou algumas das músicas e coreografias mais famosas do cinema, ao lado das estrelas Beyoncé Knowles (Dreamgirls), Amanda Seyfried e Dominic Cooper (a dupla de Mamma Mia!) e Zac Efron e Vanessa Hudgens (o casal de High School Musical 3). Simplesmente estonteante!
Quinta Parada: Inglaterra
A força inglesa esteve presente não só nas conquistas de Quem Quer Ser um Milionário?, mas também no já aguardado reconhecimento da atriz Kate Winslet, por O Leitor. Este não é o melhor trabalho dela, mas, como já é de praxe na Academia, sou vitória foi mais pelo “conjunto da obra” do que por este desempenho em si – é sua sexta indicação, sendo que tem apenas 34 anos de idade! Winslet estava magniífica também em Foi Apenas um Sonho, outra produção deste ano, e a soma das duas performances teve um impacto imbatível. Tudo bem que a veterana Meryl Streep (em sua 15ª indicação!) merecia muito mais, mas quem disse que o Oscar é lugar de justiça? Outro inglês premiado foi Michael O’Connor, pelo figurino de A Duquesa (mais um resultado bastante previsível).
Sexta Parada: Alemanha
Assim como O Leitor, outro filme que aborda o tema do Holocausto saiu premiado: Toyland, de Jochen Alexander Freydank, produção alemã vencedora do prêmio de Melhor Curta de Ficção. E isso que a Alemanha concorria ainda na categoria de Melhor Filme Estrangeiro!
Sétima Parada: Volta ao Mundo?
Dois dos melhores filmes do ano tiveram que se contentar com prêmios secundários. O caso mais trágico foi O Curioso Caso de Benjamin Button, indicado em 13 categorias e vitorioso em apenas três: Melhores Efeitos Visuais, Direção de Arte e Maquiagem. Prêmios técnicos, que não apontam para as impressionantes qualidades artísticas da produção, como o excelente desempenho dos atores, a condução segura do diretor e o roteiro emocionante. Mas nada foi mais comovente do que as duas vitórias de Milk – A Voz da Igualdade! Dustin Lance Black, ao receber o Oscar de Melhor Roteiro Original, não conteve as lágrimas ao lembrar das dificuldades que enfrentou – tanto para realizar este trabalho específico quanto em sua própria jornada pessoal, de aceitação e preconceitos. Já Sean Penn, dono da performance mais impressionante do ano, conquistou sua segunda estatueta, num resultado justo e acertado. Para se ter uma idéia, ele foi saudade por Robert De Niro, que lhe perguntou: “como você conseguiu nos enganar por todos estes anos interpretando personagens heterossexuais?”!
Oitava Parada: Universo
Do incrível mundo interior que só pode existir dentro de uma mente inquieta e singular ao espaço sideral. Man on Wire, que no Brasil provavelmente irá se chamar O Equilibrista, confirmou seu impressionante favoritismo ao ganhar o Oscar de Melhor Documentário, com o retrato bastante particular de um homem sem paralelos. Já Wall-E, premiado como Melhor Longa de Animação, viu suas outras cinco indicações irem para trabalhos mais convencionais. Certamente o melhor filme do ano, sofreu com a discriminação que o gênero tem por contar como principal público o infantil. Mas basta assisti-lo para reconhecer que as mensagens filosóficas e as mensagens que transmites estão muito além de uma mera restrição etária.
Última Parada: Hollywood!
Combinando entretenimento com uma emocionante declaração de amor ao cinema, a 81ª entrega do Oscar foi um espetáculo à parte. As alterações no formato do show foram muito bem vindas, principalmente pela agilidade na entrega dos prêmios e na proposta seguida, que procurou mostrar as principais etapas da realização de um filme, desde a elaboração do roteiro até a pós-produção. Inovações consagradas foram a escolha de cinco vencedores antigos para apresentarem os cinco candidatos deste ano nas categorias de atuação – algo verdadeiramente emocionante! E os clipes que celebraram o melhor visto na tela grande nos últimos 12 meses, como comédias ou romances, muito bem editados, além prêmio humanitário entregue ao genial Jerry Lewis e da comovente performance de Queen Latifah relembrando todos os falecidos em 2008. Enfim, o Oscar 2009 foi um belo programa de televisão, que ainda por cima saudou grandes filmes e confirmou o talento de muitos.
Abaixo, todos os premiados:
FILME: Quem Quer Ser um Milionário?
DIREÇÃO: Danny Boyle, por Quem Quer Ser um Milionário?
ATOR: Sean Penn, por Milk – A Voz da Igualdade
ATRIZ: Kate Winslet, por O Leitor
ATOR COADJUVANTE: Heath Ledger, por Batman – O Cavaleiro das Trevas
ATRIZ COAVJUVANTE: Penélope Cruz, por Vicky Cristina Barcelona
ROTEIRO ADAPTADO: Quem Quer Ser um Milionário?
ROTEIRO ORIGINAL: Milk – A Voz da Igualdade
FILME ESTRANGEIRO: Okuribito (Japão)
CANÇÃO ORIGINAL: Jai Ho, de Quem Quer Ser um Milionário?
TRILHA SONORA: Quem Quer Ser um Milionário?
MONTAGEM: Quem Quer Ser um Milionário?
SOM: Quem Quer Ser um Milionário?
EDIÇÃO DE SOM: Batman – O Cavaleiro das Trevas
FOTOGRAFIA: Quem Quer Ser um Milionário?
MAQUIAGEM: O Curioso Caso de Benjamin Button
EFEITOS VISUAIS: O Curioso Caso de Benjamin Button
DIREÇÃO DE ARTE: O Curioso Caso de Benjamin Button
FIGURINO: A Duquesa
ANIMAÇÃO – LONGA: Wall-E
ANIMAÇÃO – CURTA: La Maison en Petits Cubes
DOCUMENTÁRIO – LONGA: O Equilibrista
DOCUMENTÁRIO – CURTA: Smile Pinki
CURTA-METRAGEM FICÇÃO: Toyland
Quem Quer Ser um Milionário? 8 Oscars (filme, direção, roteiro adaptado, canção original, trilha sonora, montagem, som e fotografia)
O Curioso Caso de Benjamin Button: 3 Oscars (direção de arte, efeitos visuais e maquiagem)
Milk – A Voz da Igualdade: 2 Oscars (ator e roteiro original)
Batman – O Cavaleiro das Trevas: 2 Oscars (ator coadjuvante e edição de som)
O Leitor: 1 Oscar (atriz)
Vicky Cristina Barcelona: 1 Oscar (atriz coadjuvante)
Wall-E: 1 Oscar (animação-longa)
A Duquesa: 1 Oscar (figurino)
A Partida: 1 Oscar (filme estrangeiro)
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