A noite de segunda-feira, 24 de novembro, oitavo dia de programação do 7° Curta Taquary, aqui em Taquaritinga do Norte, no estado de Pernambuco, foi reservada para a exibição de uma seleção de filmes em curta-metragem com a temática de terror, suspense e sobrenatural em comum. A Mostra Curtas Fantásticos apresentou sete títulos vindos do Rio de Janeiro, São Paulo e Pernambuco. E se a projeção do CineTeatro Santo Amaro ficou um pouco prejudicada pela qualidade do som, ao menos os trabalhos esbanjaram criatividade e ousadia em suas propostas. Confira:
Deuses e Titãs (14 minutos, RJ), de Clodoaldo Lino
O carioca Clodoaldo Lino está presente no Curta Taquary com dois trabalhos: este e o anterior Ecce Homo (comentário a seguir), feito no ano passado. Entre os dois ele dirigiu mais um curta, A Cidade É Nossa (2014), que, no entanto, não será exibido por aqui. Entre os dois selecionados este é o mais elaborado e, também, apropriado ao recorte que esta mostra se propõe. O protagonista é Tito (Marco Antonio Cals), um rapaz que passa seus dias 100% do tempo conectado ao mundo virtual: computadores, smartphones, tablets. A dependência é tamanha que um surto se manifestará, levando-o a uma internação. Mas quem pensa que esta será a solução dos problemas do rapaz pode estar muito enganado. Com um orçamento de R$ 5 mil – dez vezes o valor do outro curta – e maiores cuidados técnicos, o resultado surpreende, ainda que sua conclusão seja um pouco gratuita e exagerada. Preste atenção à participação do crítico de cinema Rodrigo Fonseca (O Globo, RJ) como um dos amigos na festa final. Foi selecionado para o Suspiria Fest, festival de gênero fantástico que ocorre na Espanha.
Abrupto (2 minutos, PE), de Ayodê França
Animação pernambucana com apenas dois minutos de duração, tem desenrolar truncado e conclusão que, ao menos, está de acordo com o título. A impressão é que foi selecionada apenas para cumprir uma cota regional e também por sua reduzida metragem. É mais um exercício narrativo e artístico, sem grandes repercussões.
Ecce Homo (6 minutos, RJ), de Clodoaldo Lino
Segundo curta de Clodoaldo Lino, não teve repercussão internacional e nem mesmo por aqui, ainda que tenha sido selecionado para o Cine PE: Festival do Audiovisual, que acontece em Abril em Recife, também em Pernambuco. Combinando imagens documentais de maus tratos aos animais utilizados pela indústria da alimentação – porcos, coelhos, gado, galinhas, pintos, cabras – com uma parte ficcional que não convence, ao menos é bem intencionado – ainda que de boas intenções o inferno já esteja cheio. O clima de protesto e denúncia é pertinente, mas sua realização carece de um olhar mais experiente. Percebe-se com clareza se tratar de um trabalho de conclusão de curso – no caso, da Escola de Cinema Darcy Ribeiro.
Os Bons Parceiros (20 minutos, SP), de Elder Fraga
Se o cuidado técnico, o bom elenco – Thogun Teixeira é um dos nomes de destaque – e a finalização publicitária chama logo atenção, o desenvolvimento da história de um grupo de marginais dispostos a enfrentar uma noite de crimes para saldar uma dívida pouco convence. Misturando diferentes técnicas – live action, animação – e recursos gráficos interessantes, este é um título que brinca com várias referências – a começar pelo título, que lembra o clássico de Scorsese – mas resulta em algo inócuo e descartável. Foi, no entanto, selecionado para a mostra competitiva oficial do Festival de Cannes!
Meu Neném (11 minutos, SP), de Ricardo Santini
Gilda Nomacce é uma das grandes atrizes do atual cinema alternativo brasileiro, mas ela precisa se cuidar para não se tornar repetitiva. Aqui ela aparece com um personagem que é praticamente o mesmo visto no curta Nua Por Dentro do Couro (2014) – que, aliás, está na mostra competitiva nacional aqui em Taquaritinga. Um casal jovem (o diretor Rafael Primot, de Gata Velha Ainda Mia, 2013, interpreta o homem) em plenos amassos dentro de um carro é surpreendido por zumbis assassinos. Em fuga, os dois conseguem abrigo ao serem socorridos por uma senhora que vive sozinha com o seu ‘neném’. Porém, ao lhes oferecer um chá de camomila para acalmá-los, o verdadeiro pesadelo irá começar. A premissa é interessante, assim como a exceção é competente. Lamenta-se, no entanto, a falta de originalidade do assunto.
Retratos (7 minutos, SP), de Marcelo Reis
A falta de originalidade de Meu Neném é tamanha e este curta seguinte, também de São Paulo, explora praticamente a mesma temática. Um menino se oferece para ajudar uma senhora idosa que caminha pela rua com duas sacolas cheias de compras do supermercado. Ao chegarem na casa dela, ele estranha ela ser tão sozinha, apesar de possuir diversos retratos de jovens como ele espalhados pela sala. Claro que, assim que toma um gole do suco oferecido pela velha, seus sentidos se desvanecerão, preparando o caminho para ela acrescentar mais um garoto à sua coleção. O que faz com eles, no entanto, pouco interessa. É o típico filme que começa bem, mas é simplesmente abandonado no meio do caminho, com um final apressado e inacabado. Soma-se a isso o roteiro que praticamente plagia o anterior, e o resultado revela-se ainda mais frustrante.
Toca pra Diabo! (15 minutos, RJ), de João Velho
O melhor dos títulos dessa seleção ficou para o final. Inspirado em lendas regionais e feito a partir de um roteiro do contista Juca Filho – que aparece também no filme como o personagem de São Gonçalo – essa é a história de um jovem músico que aceita vender sua alma para se tornar um artista de sucesso. A trama é velha conhecida – longas como Coração Satânico (1987), de Alan Parker, já a exploraram com resultados superiores – mas o bom humor da narrativa, os diálogos inspirados e a divertida caracterização dos personagens compensa os deslizes mais evidentes. Fácil de se assistir e eficiente em prender a atenção da plateia até sua conclusão, ainda tem o mérito de resgatar lendas típicas do regionalismo brasileiro. Gol dentro – e sem sustos!
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