Morgan Freeman é um dos melhores atores de sua geração. Fato incontestável. Porém, quem olha para o norte-americano não imagina quanto tempo ele levou para ser reconhecido em Hollywood. Foi apenas aos 34 anos que o astro estrelou seu primeiro filme nos cinemas, Who Says I Can’t Ride a Rainbow! (1971), após algumas participações não-creditadas em produções dos anos 1960 e depois de muito trabalho na Broadway.

Mais de 40 anos de carreira nas telonas, um Oscar, 55 prêmios e outras 45 indicações atestam: Morgan Freeman é um dos atores mais respeitados da indústria cinematográfica. E para comemorar seu aniversário no dia primeiro de junho, a equipe do Papo de Cinema resolveu eleger seus cinco melhores filmes – e mais um que merece ser lembrado, é claro.

 

Conduzindo Miss Daisy (Driving Miss Daisy, 1989)
Por Robledo Milani

Vinte e cinco anos atrás, questões como direitos humanos, liberdades individuais, respeito ao próximo e tolerância racial já eram, certamente, temas importantes, porém ainda engatinhavam para atingir uma unanimidade pública. Foi neste cenário que Morgan Freeman apareceu como o motorista de uma velha e aristocrática senhora judia (Jessica Tandy) que, com muita paciência e entendimento da situação, vai aos poucos contornando a dinâmica da relação que se estabelece entre os dois, a ponto de deixá-la conveniente e agradável não somente a ele, mas aos dois envolvidos. A senhora Daisy age com repúdio ao descobrir que seu novo empregado é negro, mas aos poucos não só se acostuma com a ideia para passar a valorizá-lo – não que um mude em função do outro, mas conseguem desenvolver uma nova visão de mundo basicamente por serem quem são, com respeito e dignidade. Por este sensível trabalho, Freeman conseguiu sua primeira indicação como protagonista ao Oscar – ele já havia sido indicado, dois anos antes, como Coadjuvante por Armação Perigosa (1987) – e ganhou o Globo de Ouro, o National Board of Review e um prêmio especial no Festival de Berlim. Reconhecimentos merecidos em um filme discreto, porém arrebatador.

 

Os Imperdoáveis (Unforgiven, 1992)
Por Marcelo Müller

Os Imperdoáveis surgiu numa época em que o western já agonizava. E o diretor Clint Eastwood soube capturar muito bem a melancolia dessa morte iminente do gênero norte-americano por excelência, sobretudo frente às novas demandas (comerciais) de uma plateia cada vez mais infantilizada.  No filme, Morgan Freeman interpreta Ned Logan, ex-parceiro do personagem de Eastwood, com quem reedita a amizade e a ligação profissional de outrora em busca da recompensa que as prostitutas da cidade oferecem. Enquanto o protagonista segue sua senda num misto de arrependimento e euforia culpada, Ned encara a reedição da sociedade de ambos, bem como a consequente necessidade de novamente pegar em armas e dar cabo de alguém, como parte orgânica de quem ele é, ou seja, aceita sua natureza com mais sobriedade do que o parceiro que prometeu à sua mulher, no leito de morte, nunca mais empunhar uma arma de fogo. Freeman, como de costume, transcende sua coadjuvância com um trabalho essencial ao protagonismo de Eastwood, tornando-se, assim, uma espécie de co-protagonista. Um dos grandes atores de sua geração, ele mostra não como roubar cenas, mas como apropriar-se delas com generosidade.

 

Um Sonho de Liberdade (The Shawshank Redemption, 1994)
Por Thomás Boeira

Um dos filmes mais prestigiados da década de 1990, Um Sonho de Liberdade até hoje empolga e emociona com todo o brilhantismo que permeia sua história, adaptada a partir de um conto de Stephen King. Estreia do talentoso Frank Darabont como diretor de longas-metragens (antes ele era mais conhecido por seu trabalho como roteirista), o filme acompanha o bancário Andy Dufresne (Tim Robbins), que é preso acusado de matar a esposa e o amante dela. Ele vai parar na prisão de Shawshank, onde faz amizade com o contrabandista local Red (Morgan Freeman) e passa a usar seus conhecimentos em contabilidade para ajudar o diretor e os guardas do lugar. A história é contada pelo ponto de vista de Red, o que é apropriado não só por ele estar preso há anos e conhecer Shawshank muito bem, mas também porque a amizade dele com Andy representa uma grande parte da essência do filme. E Morgan Freeman brilha interpretando o personagem (que lhe rendeu a terceira indicação ao Oscar), além de ter uma dinâmica maravilhosa com o igualmente excelente Tim Robbins. Todos esses elementos somados à direção sensível de Darabont tornam Um Sonho de Liberdade um clássico absoluto.

 

Menina de Ouro (Million Dollar Baby, 2004)
Por Matheus Bonez

A Academia devia um Oscar a Morgan Freeman fazia tempo. Dez após sua arrebatadora performance em Um Sonho de Liberdade (1994), o reconhecimento chegou às suas mãos como Melhor Ator Coadjuvante por Menina de Ouro. Porém, o filme vai muito além disso, dos outros prêmios recebidos ou da polêmica sobre eutanásia. Antes de mais nada, Clint Eastwood realizou um filme humano sobre personagens desamparados que se apoiam um no outro para reerguerem suas vidas. Pode soar clichê, mas é algo tão bem trabalhado que fica difícil não se identificar ou sentir empatia pelos tipos na tela. No meio dos protagonistas, encontra-se Freeman no papel do ex-boxeador que perdeu a visão de um olho, mas continua ao lado do amigo e treinador. Seu carisma serve de ponte para a aproximação dos carrancudos personagens de Eastwood e Hilary Swank, dando o toque humano e conciliador que a dupla tanto precisa para seguir em frente. E, com um ator de talento como Freeman, fica difícil não torcer não apenas para os personagens principais, mas para ele próprio.

 

Invictus (2009)
Por Rodrigo de Oliveira

Invictus não é o melhor filme que Clint Eastwood dirigiu na última década. Alguns pecadilhos no meio do caminho acabaram transformando o filme em uma obra rasa do ponto de vista político. No entanto, a força de Nelson Mandela e a história real – cinematográfica por si só – do time de rugby sul-africano conseguem segurar o rojão e fazer com que Invictus seja um longa-metragem emocionante. E muito dessa emoção passa pela atuação de Morgan Freeman, impecável e indicado ao Oscar por sua interpretação. Freeman era amigo de Mandela e tentava levar a vida do ex-presidente da África do Sul ao cinema há anos. Depois de muitas tentativas infrutíferas, o ator se decidiu pelo recorte da Copa do Mundo de rugby. Sabendo disso, fica fácil entender o vigor de Freeman ao interpretar Mandela, dada a preparação e antecipação de seu desejo. Há tempos o ator não estava tão focado e entregue a uma performance como em Invictus. Seu modo de falar, o cuidado com o sotaque, a forma de sorrir, o jeito de caminhar. Tudo ali soa verdadeiro. Uma interpretação magnífica, que dá o escopo correto do carisma de Nelson Mandela.

 

+1

Antes de Partir (The Bucket List, 2007)
Por Yuri Correa

Responsável por memoráveis longas-metragens como A Princesa Prometida (1987), Louca Obsessão (1990), Harry & Sally: Feitos um para o Outro (1989) e o primoroso Conta Comigo (1986), o diretor Rob Reiner perdeu um pouco de sua força ao investir em uma sequência de filmes mais fracos no início da década passada. E quando se fala em Antes de Partir, são os nomes dos intérpretes dos protagonistas que primeiro são lembrados. Por isso, talvez, que o projeto não seja muito reconhecido em meio à gloriosa carreira de Morgan Freeman. Uma pena, já que trata-se de um belíssimo retorno de Reiner à sua boa forma, conduzindo com sensibilidade  a história de dois homens que, diagnosticados com câncer, resolvem fazer tudo o que sempre desejaram antes de morrer. Tendo Freeman e Jack Nicholson à frente de seu elenco, Antes de Partir ganha com a química que surge naturalmente entre os dois experientes e excepcionais atores, estrelas incontestes da produção. O longa possui momentos tocantes e hilários, algo que seria repetido em O Reencontro (2012), outro filme – ainda menos lembrado que esse – também dirigido por Reiner e protagonizado pelo nosso homenageado. Vale a pena conferir e descobrir essas duas discretas investidas cinematográficas da dupla.

 

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