Dono de um dos rostos mais marcantes do cinema norte-americano, Christopher Walken, nome artístico de Ronald Walker, nascido no seio de uma família metodista no distrito do Queens, em Nova Iorque, ostenta uma trajetória exitosa e diversificada como poucas. Foi ator na infância, assim como os irmãos que também aspiravam à carreira artística. Trabalhou na televisão nos anos 50, estudou dança e trafegou constantemente pelos palcos até chegar ao cinema, por meio do qual ficou amplamente conhecido. O primeiro dos personagens, digamos, “estranhos” que interpretou, uma constante em suas incursões pelas telonas, foi em Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977). Para quem não lembra, no filme de Woody Allen ele vive o irmão caçula de Annie (Diane Keaton).

Christopher Walken foi vilão na Saga James Bond, em 007 Na Mira dos Assassinos (1985), e no universo dos super heróis, em Batman: O Retorno (1992). Colaborou com diretores do calibre de David Cronenberg, Sidney Lumet, Tim Burton, Steven Spielberg, Michael Cimino…a lista é extensa. Possui um Oscar de Melhor Ator Coadjuvante na estante, por O Franco-Atirador (1978), e foi indicado novamente ao prêmio máximo de Hollywood pela atuação em Prenda-me Se For Capaz (2002). Por conta de seu aniversário, resolvemos homenageá-lo, elencando cinco dos seus melhores trabalhos e mais um que merece (re)descoberta. Confira e não deixe de comentar.

 

 

O Franco-Atirador (The Deer Hunter, 1978)
Este drama do diretor Michael Cimino é um dos principais expoentes do filão que deu conta, relativamente ainda no calor dos fatos, das feridas que a Guerra do Vietnã deixou nos regressos. Christopher Walken levou para casa o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por sua participação neste filme, sendo indicado na mesma categoria em outras premiações, como o BAFTA, por exemplo. Ele interpreta Nick, parte daquela turma de metalúrgicos que acompanhamos desde a expectativa anterior ao embarque para o conflito, passando pelas agruras no campo de batalha, até o retorno marcado por severas cicatrizes, físicas e emocionais. Nick é um tipo quieto, caracterizado pela introspecção, que tem na caça sua maior paixão. É uma figura talhada para o semblante enigmático de Walken, à sua capacidade de expressar, com o mínimo de recursos, as dores causadas pelos mergulhos nas crises de consciência ou nas demais problemáticas de seus personagens. Reza a lenda que, para reforçar a esqualidez e a palidez de Nick, atributos necessários à última parte da trama, Walken comeu arroz, banana e água durante uma semana. Esse empenho, em consonância com o talento nato do ator, oferece a recompensa da verossimilhança. Sem dúvida, um grande trabalho, felizmente bastante reconhecido. – por Marcelo Müller

 

Na Hora da Zona Morta (The Dead Zone, 1983)
Uma obra adaptada de Stephen King sempre gera expectativas, especialmente quando se fala dos cinemas de terror e suspense. Ainda que não tenha sido tão bem recebido na época, este título de David Cronenberg consegue mesclar toda a atmosfera de mistério do escritor e as raízes do cineasta. Na trama, o professor Johnny Smith (Christopher Walken) tem a vida mudada ao sofrer um grave acidente de carro. Após passar cinco anos em coma, ele acorda num cenário diferente: com os pais mais velhos e a namorada com outro marido e até um filho. Além de tudo, ele tem o dom de prever e até mudar o futuro. Algo que pode (e vai) ser usado num esquema político. Não poderia haver escolha melhor para o protagonista desta história. Acreditamos que o “poder” de Johnny é real, ainda mais com os sustos e as revelações que passam por sua mente, ela que se torna mais perturbada à medida que a história avança. É um dos melhores trabalhos de Walken, prova, ao contrário do que muitos imaginam, que o ator pode liderar um elenco sem problemas, mesmo que seja constantemente chamado para ser o coadjuvante perfeito. Interpretação que merece uma conferida mais cuidadosa, assim como esta pequena jóia da filmografia de Cronenberg. – por Matheus Bonez

 

O Rei de Nova York (King of New York, 1990)
Nesta sua primeira colaboração – outras três viriam – com o diretor Abel Ferrara, Christopher Walken interpreta o chefão do tráfico de drogas de Nova York, Frank White, que, recém-saído da prisão, busca retomar o controle de seu império criminoso. Suas intenções, obviamente, não são bem vistas pela lei – os policiais vividos por Victor Argo, David Caruso e Wesley Snipes – nem pelas gangues rivais, o que dá início a uma sangrenta batalha por poder. Filmando com o apuro e a pulsação habituais, Ferrara constrói uma fascinante saga sobre a máfia filtrada pela urgência e pela estilização que marcam seu cinema. No centro desse universo está o personagem de Walken que, assim como o meio que o cerca, se divide entre o brutal e o sofisticado. Com sua aparência peculiar, pele pálida e cabelos arrepiados, o ator caminha pela paisagem noturna como um verdadeiro vampiro urbano, ao mesmo tempo ameaçador, imponente e sedutor. Walken se vale de todo o seu carisma – incluindo o notório talento para a dança – para construir uma figura que, mesmo tendo um comportamento reprovável, não deixa de emanar charme e empatia, ganhando contornos cada vez mais trágicos conforme a conclusão crua e poética de Ferrara se aproxima. – por Leonardo Ribeiro

 

Batman: O Retorno (Batman Returns, 1992)
Max Shreck, o personagem de Christopher Walken nesta continuação das aventuras do Homem-Morcego, curiosamente, nem deveria existir. Originalmente, Harvey Dent (interpretado por Billy Dee Williams no longa original) serviria como um dos vilões, se transformando em Duas-Caras no final, dando o start para sua aparição no terceiro filme da série. Quis o destino – e o estúdio – que o personagem fosse limado e que um novo surgisse em seu lugar. Para viver o empresário corrupto, ninguém melhor que o aterrorizante Walken, um sujeito que, sem dizer uma palavra, consegue parecer ameaçador na medida. Reza a lenda que Tim Burton tinha ficado um tanto nervoso pela escalação do ator para o papel, visto que Walken metia muito medo no cineasta. Esse pavor é bem transportado para a tela. Embora não seja um personagem clássico da extensa galeria de vilões de Batman, Shreck é o homem atrás do palco, é o titereiro que coloca os antagonistas em ação. Não fosse por ele, não existiria uma Mulher Gato (Michelle Pfeiffer). Não fosse por suas maquinações, Pinguim (Danny DeVito) estaria ainda escondido nos esgotos. Não fosse por Shreck, Batman (Michael Keaton) não teria vilão algum para combater nessa continuação quase tão boa quanto o filme original, comandada por Burton. – por Rodrigo de Oliveira

 

Os Chefões (The Funeral, 1996)
Se o diretor Abel Ferrara reinventou o filme de gângster em plenos anos 90, Walken fez o mesmo com a interpretação do ítalo-americano Ray, responsável por iniciar uma guerra que vai além de seu bairro. Tudo para vingar a morte de seu irmão mais novo, interpretado por Vincent Gallo. Fugindo da dramaticidade exagerada de Marlon Brando em O Poderoso Chefão (1972), o ator criou um mafioso calado, sem trejeitos e muito assustador. Seus discursos sobre a vingança e a forma seca e crua de agir nos momentos de violência tornaram Ray um dos mafiosos mais importantes do cinema. Entre os grandes momentos do personagem está o diálogo sobre fé e justiça que ele trava com o assassino do irmão antes de tomar a decisão de puxar ou não o gatilho e vingar a honra de sua família mais uma vez. A interação de Ray com a esposa ressalta a dura situação da mulher dentro da máfia, sofrendo diante das perdas de seus filhos e maridos e também buscando na oração algum alívio para uma rotina que inclui muito sangue e poucos perdões. – por Bianca Zasso

 

+1

 

Pulp Fiction: Tempo de Violência (Pulp Fiction, 1994)
A participação de nosso homenageado neste filme é pequena, mas memorável. Aparecendo em apenas uma cena, Walken encarna Capitão Koons, um veterano de guerra com a dura tarefa de entregar um objeto ao filho de seu amigo falecido em combate: um relógio de ouro que esteve na família por três gerações. A explicação que Coons oferece ao pequeno Butch (o pugilista interpretado por Bruce Willis e vivido por Chandler Lindauer quando criança) sobre a importância do relógio e a árdua tarefa de protegê-lo funciona para estabelecer um dos pontos-chave de toda a narrativa, o que desencadeia uma série de consequências violentas e hilárias que afetam quase todos os outros personagens. O monólogo de cerca de quatro minutos virou um dos mais famosos do cinema moderno norte-americano – algo extraordinário quando se leva em conta que esta obra de Quentin Tarantino é repleta de outros monólogos célebres. Essa pequena cena é uma ótima amostra do talento de Walken, um ator que, mesmo com pouquíssimo tempo em mãos, consegue deixar sua marca neste jovem clássico, ao equilibrar a aparente solenidade da incumbência de seu personagem e um timing cômico preciso. – por Marina Paulista

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