Não é só pela beleza e pela pose que Charlize Theron chama a atenção. Primeira sul-africana a ganhar o Oscar por seu imersivo papel em Monster: Desejo Assassino (2003), a atriz e modelo é uma das mais completas de Hollywood atualmente, além de possuir um belo timbre de voz. Alternando filmes mais densos como A Batalha de Seattle (2007), Vidas que se Cruzam (2008) e A Estrada (2009) com blockbusters (de qualidade até duvidosa em alguns casos), como Aeon Flux (2005), Hancock (2008), Prometheus (2012) e Branca de Neve e o Caçador (2012), Charlize ganhou respeito e admiração do público e da crítica não só por sua entrega aos personagens que interpreta como também pelo ativismo social. Algo que não é fora do comum entre as estrelas, mas qual delas fala que não vai se casar até que os homossexuais tenham o mesmo direito?

Exemplo de atitude, a ex-modelo começou a chamar a atenção dos executivos de Hollywood em papéis pequenos como em O Advogado do Diabo (1997), Poderoso Joe (1998) e no divertido Celebridades (1998), de Woody Allen, com quem voltaria a trabalhar tempo depois em O Escorpião de Jade (2001). No dia 7 de agosto, Charlize completa mais um aniversário. E para celebrar esta data, a equipe do Papo de Cinema resolveu escolher seus cinco melhores trabalhos – e aquele que, apesar de dividir opiniões, merece uma segunda chance.

 

Caminho Sem Volta (The Yards, 2000)
Por Pedro Henrique Gomes
Neste filme de James Gray, Charlize Theron, como pode parecer para quem ainda não assistiu, ocupa apenas um papel secundário. No entanto, seguindo o ritmo fulminante das imagens logo percebemos sua importância na história que ganha corpo a partir de um fluxo irrefreável de ações e práticas nas quais os personagens se envolvem. Não há como escapar. Todos estão ativamente dentro das coisas. Theron, em particular, o ocupa não o espaço da femme fatale, mas ainda melhor: ela é o núcleo deste drama familiar (além de suspense político-afetivo inequívoco), corpo por onde passam todas as ações dos outros personagens. Atriz de beleza fulcral, tem “re-imaginado” seu perfil, é parte de uma teia conspirações da qual só pode ser cumplice. Sua interpretação vai de acordo com o clima da ação, é pesada, sombria, reveladora das fragilidades. Obra-prima do diretor, é também um pequeno tour de force de Charlize Theron, em sua dor e em sua agonia.

 

Monster: Desejo Assassino (Monster, 2003)
Por Robledo Milani
A escola é sabida e de efeito comprovado: basta uma grande alteração física no intérprete para que seu trabalho seja percebido com um interesse renovado. Se Robert De Niro é um dos mais lembrados como referência, ao mesmo tempo é impossível ignorar o trabalho de Charlize Theron ao recriar os passos de Aileen Wuornos em Monster, filme que ainda hoje, dez anos após seu lançamento, segue sendo o ponto alto da carreira da atriz. Ao marcar presença como protagonista com um visual praticamente irreconhecível, ela não só criou o personagem, como se perdeu nele dando espaço e voz para uma criação singular, como se fosse a própria biografada em cena. Ao deixar qualquer vaidade de lado, a ex-modelo se firmou de vez como uma atriz completa e dona de inegável talento, e não foi o Oscar, o Globo de Ouro ou o Urso de Prata em Berlim que atestou esse fato: foi, sim, o queixo caído de qualquer um na audiência, que aqui presenciou uma das atuações mais completas, detalhistas e surpreendentes da última década.

 

Terra Fria (North Country, 2005)
Por Conrado Heoli
Charlize Theron ainda ostentava o Oscar por Monster: Desejo Assassino (2003) quando recebeu sua segunda indicação ao prêmio pelo drama Terra Fria. Na época, cada vez mais empenhada em sublimar sua incomparável beleza por interpretações marcantes, a atriz elegeu entre muitos roteiros a revoltante história de Lois Jenson, operária de Minnesota que venceu o primeiro grande processo contra um abuso sexual nos Estados Unidos, na década de 1980. Como em Norma Rae (1979), Acusados (1988) e Erin Brockovich: Uma Mulher de Talento (2000), Terra Fria critica um grave problema social enquanto a tensão e a injustiça guiam a narrativa, até o momento em que o espectador é levado ao ponto de ruptura juntamente com sua protagonista – que é severamente agredida em seu corpo, psique e reputação. Com a direção de Niki Caro, que já havia demonstrado talento para guiar protagonistas femininos em A Encantadora de Baleias (2002), Charlize Theron entregou uma de suas performances mais profundas e foi muito além da fuligem e lágrimas que constantemente escondiam seu rosto de feições sobre-humanas. Com esse filme, ela reiterou sua posição como uma das atrizes mais notáveis de Hollywood.

 

No Vale das Sombras (In the Valley of Elah, 2007)
Por Matheus Bonez
O filme escrito e dirigido por Paul Haggis logo após seu Oscar por Crash: No Limite (2005) pode ter como chamariz a delicada atuação de Tommy Lee Jones como o pai que quer descobrir o paradeiro de seu filho após voltar do Iraque. Charlize, no entanto, se não rouba a cena, fica de igual para igual com o veterano ator como a detetive que resolve ajuda-lo no caso. Hostilizada por ser única em um ambiente predominantemente masculino (primeiro a delegacia onde trabalha, após a base militar onde deve tentar encontrar pistas), a policial, forte por natureza, encontra em Theron sua intérprete perfeita. Morena, sem nenhum glamour e até com alguns trejeitos masculinizados (repare no caminhar duro), a atriz mais uma vez mostra que seu ego é muito menor que sua vontade de se superar na interpretação, entregando aqui uma performance contida em boa parte do tempo, mas explosiva quando a situação pede. Um trabalho que não foi premiado, mas que recebeu aplausos da audiência e da crítica por onde passou. Merecidamente.

 

Jovens Adultos (Young Adult, 2012)
Por Rodrigo de Oliveira
Jason Reitman e Diablo Cody reuniram-se após o celebrado (e superestimado) Juno (2007) para reverter alguns clichês em Jovens Adultos, uma dramédia que se beneficia do talento de Charlize Theron interpretando a definitiva highschool bitch. Diferente do trabalho anterior da dupla, quando as frases cheias de referências pop pareciam alienígenas vindas de Ellen Page, a verve venenosa de Cody não parece deslocada na boca de Theron, uma quase quarentona que nunca amadureceu. A atriz dá vida à escritora Mavis Gary, uma mulher insensível, arrogante, preconceituosa e completamente fora da realidade. Inventando suas próprias verdades, Mavis é vista como uma pessoa que se deu bem na vida – até aparecer novamente em sua cidade natal. Com sérios problemas alcoólicos, deprimida, ela pensa que reatar o romance com seu ex lhe trará aquela velha chama do passado – da promessa de brilhar no futuro. O problema é que o futuro já chegou. Charlize Theron está em grande forma como a protagonista, conseguindo a proeza de ser venenosa e falsa, mas não ter a plateia toda contra si. Na verdade, é muito possível que o público sinta até pena das ideias amalucadas de Mavis. Uma bela performance em um bom filme de Jason Reitman.

 

+1

Doce Novembro (Sweet November, 2001)
Por Renato Cabral
Nada excepcional (o que não quer dizer que seja ruim), Doce Novembro traz um Keanu Reeves apático e uma história que a maioria já imagina seu final lá pela metade da duração do filme. Porém, em meio a essas características de um filme meia-boca, encontramos na atuação contrastante de Charlize Theron o frescor e a relevância da produção. A loira interpreta Sarah, que esbarra no garanhão Nelson (Reeves) prestando um exame de habilitação. Ele, um solteirão workaholic que não se compromete com as mulheres, e ela, uma espontânea mulher que apresenta a proposta de mudar a vida dele por um mês. Parecendo natural e crível no papel dessa mulher que se revela com câncer e em seus últimos momentos busca mudar a vida dos que a cercam, Charlize retoma sua parceria com Reeves (eles trabalharam juntos em O Advogado do Diabo, 1997) e novamente rouba a cena do parceiro. O novembro do título pode não ser tão doce e a produção muito menos uma obra-prima, mas certamente tem seu valor melodramático e uma delicadeza na performance de Theron que fazem o filme merecedor de uma revisão.

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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