Ele tem pouco mais de três décadas de vida, mas quando percebemos que dois terços deste tempo foram ocupados construindo uma das carreiras mais brilhantes do cenário artístico nacional, é fácil concordar com o fato de que Caio Blat de Oliveira – ou apenas Caio Blat, como o Brasil inteiro o conhece – é um dos melhores atores de sua geração. Atuante tanto na televisão quanto no teatro, é no cinema, no entanto, em que podemos perceber melhor sua versatilidade. Neste tempo todo ele já participou de mais de 25 longas-metragens – um número que, numa indústria tão instável quanto a nossa, é realmente impressionante! Seja em projetos com grandes elencos ou com poucos personagens, dramas urbanos ou rurais, comédias românticas ou thrillers policiais, recriação de episódios históricos ou produções religiosas, adaptações de clássicos da literatura nacional ou trabalhos polêmicas: não importa o estilo, se o material for bom, pode ter certeza que ele estará envolvido. E na semana do seu aniversário, prestamos nossa singela homenagem apontando cinco trabalhos imprescindíveis de sua extensa filmografia, mais um pouco conhecido, mas que merece uma revisão. Confira – e descubra o talento de Caio Blat!

 

Carandiru (2003)
Hector Babenco tem por tradição saber dialogar bem com o seu elenco, especialmente quando o material humano que tem em mãos é prolífico. Talvez a atuação mais surpreendente desta adaptação da obra de Dráuzio Varella nem seja a do Deusdete de Caio Blat, no entanto, a mais crível construção de ethos e consistência em interpretação certamente é dele, por méritos ainda maiores do ator do que do ótimo realizador. Esta é uma história de pessoas, enjauladas por crimes que possivelmente cometeram, explorando dramas devastadores, que tem uma base forte no episódio da luta fraternal entre Deusdete e Zico (Wagner Moura), remontando ao conto de Caim e Abel de uma maneira moderna e inspirada. Blat faz o papel de um homem bem mais novo que seu registro em carteira de identidade, fomentado não só por sua aparência jovial, mas também por sua postura em tela, com uma perícia poucas vezes vista, não interrompida nem por sua brusca chegada ao presídio, tardia. Seu fim é o resumo do drama de muitos, executado pelo irmão de criação, o mesmo que jurou protegê-lo, e que depois o carrega para o delírio de Peixeira (Milhem Cortaz), fechando sua participação de maneira esplendorosa. – por Filipe Pereira

 

Batismo de Sangue (2006)
Este é um dos filmes mais impactantes sobre o período da ditadura no Brasil. Adaptado a partir do livro homônimo de Frei Betto, lançado em 1983, e com direção de Helvécio Ratton, o longa revela os bastidores da relação entre os frades dominicanos e o grupo Ação Libertadora Nacional, comandado por Carlos Marighella, nos anos 1960. O apoio velado da igreja no combate à ditadura acompanha a trajetória de Tito (Caio Blat), Betto (Daniel de Oliveira), Oswaldo (Ângelo Antonio), Fernando (Léo Quintão) e Ivo (Odilon Esteves). Retratados pelas lentes de Lauro Escorel (do clássico Toda Nudez Será Castigada, 1973), a trama reconstitui a tensão e os horrores do tenebroso momento político vivido no país. Como um dos frades, Caio Blat desenvolve com habilidade um personagem complexo, moralmente em dúvida com os limites do envolvimento entre a Igreja e a guerrilha de Marighella, e psicologicamente instável, alternando entre a resiliência proporcionada pela fé e alucinando frente à lembrança dos horrores cometidos pelo regime brasileiro. – por Willian Silveira

 

Bróder (2010)
No primeiro longa de Jeferson De como realizador, Caio Blat interpreta Macú, nascido e criado no Capão Redondo, comunidade paulistana marcada pela violência. Ele reencontra dois amigos que não moram mais por lá, embora mantenham uma relação afetiva com o local. O corretor de imóveis e o jogador de futebol voltam para comemorar o aniversário do amigo, para relembrar os velhos tempos, para comer aquela feijoada com gosto de infância, enfim, para revisitar um tempo que não volta mais. Macú flerta com a criminalidade, está cheio de problemas em virtude da falta de perspectiva que o fez buscar nas atividades ilícitas o ganha-pão. Os amigos, em meio aos festejos e à expectativa da convocação para a Copa do Mundo, vão ajudá-lo, pois a enrascada parece mais grave que qualquer outra vivida até então. Caio Blat, ator que transita com desenvoltura na televisão e no cinema, consegue expor todo dilema do personagem. Ele se mudou de verdade para o Capão Redondo antes das filmagens, a fim de ambientar-se na comunidade e entender a dificuldade pela qual Macú passa mais adiante, ao constatar que acabou tomando um caminho praticamente sem volta. – por Marcelo Müller

 

Xingu (2012)
Com direção de Cao Hamburger, o filme conta a trajetória dos irmãos sertanistas Orlando (Felipe Camargo), Cláudio (João Miguel) e Leonardo (Caio Blat) Villas Boas, um trio engajado nas causas indígenas que desbravou o norte do Brasil. Ao observar que suas ações e o inevitável contato com os índios estavam, na verdade, prejudicando o povo dali, os Villas Boas resolveram lutar para preservar a maior área possível para a sobrevivência de tribos do Xingu. O trio de atores escalado, além de excelentes intérpretes, guardam algumas semelhanças físicas com os retratados. E aqui o destaque fica para Blat. Um dos melhores atores de sua geração, aparece menos que Felipe Camargo e João Miguel, mas deixa sua marca como o volátil Leonardo. Mesmo avisado que não deveria mexer com as mulheres indígenas, o conselho não é seguido à risca. Dos três, era ele quem tinha a menor vocação para o trabalho, já que costumava reclamar de algumas tarefas. Com boa performance e ótima química com os seus “irmãos”, ele rouba a cena e é uma pena que seu personagem acabe desaparecendo do filme rápido demais. Por esse desempenho, foi indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro na categoria Melhor Ator. – por Rodrigo de Oliveira

 

Entre Nós (2013)
Caio Blat é um ator admirável em sua versatilidade, além de sempre mostrar carisma e sensibilidade, independentemente de quem sejam seus personagens. Aqui, ele só não é um destaque absoluto porque o elenco inteiro se revela sensacional, encarnando seus papeis de maneira tocante e complexa. Dirigido por Paulo Morelli, o filme conta a história de sete jovens amigos e aspirantes a escritores que, em 1992, se reúnem em uma casa de campo, onde enterram uma caixa com cartas que devem ser lidas por eles mesmos dez anos mais tarde. O que não esperavam é que um deles morreria naquele dia, e que sua reunião uma década depois traria de volta sentimentos fortes e memórias amargas. Com muita delicadeza, mostra como a ingenuidade da adolescência nos impede de enfrentar os obstáculos da vida, que dificilmente corre da maneira como planejamos inicialmente. Nisso, Caio Blat encarna com brilhantismo Felipe, rapaz que esconde o fato de ter roubado a autoria do livro de seu talentoso amigo falecido e que sofre com isso e com a própria mediocridade como escritor, tendo ainda uma dinâmica excepcional com seus colegas de elenco, aspecto que contribui muito para a humanidade de todo o conjunto. – por Thomas Boeira

 

+1

 

Lavoura Arcaica (2001)
Pérola do cinema nacional, este denso e poético exercício cinematográfico conta com o irretocável estilo e assinatura autoral de Luiz Fernando Carvalho. De forma primorosa, narra o drama de um pai rígido e seu filho rebelde a partir da parábola do herdeiro pródigo. Numa complexa construção narrativa baseada na obra homônima de Raduan Nassar, Carvalho apresenta André, que vive no limite entre seus instintos naturais e as imposições e censuras familiares, morais e religiosas. Num elenco em que Selton Mello, Leonardo Medeiros, Juliana Carneiro da Cunha e Raul Cortez compõem interpretações brilhantes, emocionais e emocionantes, o então jovem Caio Blat não fica atrás, e carrega em significações e nuances cada sequência protagonizada como o jovem Lula, caçula da família. Com inspirada concepção artística, a fotografia granulada e melancólica de Walter Carvalho soma à direção de arte orquestrada por Yurika Yamasaki, arrematadas pela inesquecível trilha sonora de Marco Antônio Guimarães. Um pouco sublimado pelo sucesso de Cidade de Deus (2002), lançado no mesmo ano, passou desapercebido pelos cinemas brasileiros – talvez por conta de seu longo e contemplativo desenvolvimento. Ainda assim, é uma das obras-primas do nosso cinema e o primeiro trabalho de destaque de Blat na tela grande. – por Conrado Heoli

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