Sir Philip Anthony Hopkins não é apenas um dos melhores atores do mundo em atividade. A alcunha do eterno psicopata Hannibal Lecter é um mestre das artes cênicas e, consequentemente, fonte inspiradora para qualquer um que queira chegar perto de seu poder de interpretação. Seus 47 prêmios e outras 56 indicações chegam a parecer pequenos tamanha sua presença de tela. O ator trabalha com cinema há quase 50 anos e tem mais de 130 filmes no currículo. Hopkins nasceu no País de Gales, no último dia do ano de 1937. Hoje, completa mais um aniversário. Para celebrar esta data e, também, fechar o ano do 5+1 com chave de ouro, a equipe do Papo de Cinema resolveu escolher seus cinco melhores filmes – e mais aquele especial. Até o ano que vem!
O Homem Elefante (The Elephant Man, 1980)
David Lynch havia realizado há poucos anos aquela que para muitos ainda é considerada sua obra-prima, Eraserhead (1977), quando ingressou no posto de diretor deste complexo projeto. Complicado porque o filme apresentaria, a partir de uma narrativa clássica e atmosfera dramática, a vida de um homem deformado e incompreendido na Inglaterra Vitoriana. Baseado em dois livros sobre a história do verdadeiro Joseph Merrick, um deles escrito pelo personagem vivido por Anthony Hopkins, este filme possui algumas características que seriam recorrentes ao cinema de Lynch – de sua vertente experimental aos trabalhos mais “palatáveis”. Hopkins, numa interpretação esplêndida, constrói o retrato sutil e multifacetado de um homem dividido entre seu humanismo e a ética que o motiva a apresentar o personagem-título à sociedade, que o considera uma aberração. Ainda que constantemente ofuscado pela virtuosa atuação de um irreconhecível John Hurt, Hopkins revela aqui um excepcional desempenho, responsável por colocá-lo entre os maiores intérpretes do cinema. Entre os méritos do filme, alguns incontestáveis, estão suas oito indicações ao Oscar, incluindo Melhor Filme, Ator e Direção. – por Conrado Heoli
O Silêncio dos Inocentes (The Silence of the Lambs, 1991)
Hannibal Lecter é um dos mais emblemáticos personagens do cinema. Protagonista primeiro da série de livros escritos por Thomas Harris, o psiquiatra canibal ganhou notoriedade ao ser interpretado de maneira precisa por Anthony Hopkins, sob a direção de Jonathan Demme, em O Silêncio dos Inocentes. No filme, a jovem agente do FBI Clarice Starling (Jodie Foster) recorre ao cruel assassino, então enjaulado, para obter ajuda na caça ao serial killer conhecido apenas como Buffalo Bill. Nada melhor do que uma mente perversa para perfazer o caminho que pode levar outra a cometer uma série de assassinatos sem solução. Contudo, o mais importante no filme não é a caça do desconhecido, mas a dinâmica estabelecida entre Lecter e Starling, um misto de atração e repulsa, um jogo psicológico como poucas vezes se viu no cinema, sobretudo no cinema americano feito para as massas. Hannibal Lecter virou sinônimo de maldade no imaginário geral, maldade sem escrúpulos, destituída a priori de culpa e, o que é mais intrigante, atributo de alguém cuja inteligência é inquestionável. Se o personagem alcançou esse status, isso se deve ao trabalho complexo de Hopkins, sua interpretação mais impressionante. – por Marcelo Müller
Vestígios do Dia (The Remains of the Day, 1993)
Logo após ganhar o Oscar de Melhor Ator por O Silêncio dos Inocentes (1991), Anthony Hopkins voltava a ser convidado à maior festa do cinema mundial, mais uma vez na condição de indicado à estatueta dourada, por aquele que talvez seja o seu trabalho mais sublime. O mordomo James Stevens não tem o mesmo apelo popular do serial killer Hannibal Lecter, preferindo se posicionar numa outra via dentro do impressionante currículo do ator. Aqui, tudo que Hopkins explorou com intensidade em trabalhos anteriores precisou ser contido até um ponto mínimo, comprovando de uma vez por todas a máxima de que “menos é mais”. Após sacrificar-se por inteiro durante anos em nome de uma honra que talvez não fizesse mais sentido, ele representa com exatidão o símbolo de uma era perdida, esquecida e menosprezada. O duelo que estabelece em cena com a igualmente excelente Emma Thompson – repetindo a parceria de Retorno a Howards End (1992) apenas um ano depois – é literalmente antológico, numa performance que estabeleceu novos e mais exigentes padrões para qualquer ator que se preze. Indicado a 8 Oscars, não ganhou em nenhuma categoria, servindo também para mostrar que, muitas vezes, os melhores são como vinho, sendo reconhecidos somente com o passar do tempo. – por Robledo Milani
Revelações (The Human Stain, 2003)
Roteirista de Bonnie & Clyde (1967) e realizador de Kramer vs. Kramer (1979), Robert Benton pode ser considerado uma das mentes que ajudaram a construir o melhor do cinema americano lá nos anos 70 e Anthony Hopkins é, sem dúvida, um dos grandes atores do cinema americano, com auge nos anos 90. Em 2003, eles se reuniram para realizar esse drama, no qual Benton traça uma história, baseada no livro de Phillip Roth, que apesar de se encaixar perfeitamente em sua filmografia e ter ótimas atuações, parece não ter encontrado grandes entusiastas. Porém, entre todos é unânime o destaque a Anthony Hopkins, o professor universitário Colemann Silk, que inicia um romance com a misteriosa faxineira (Nicole Kidman) ao passo que é atormentado pelo seu passado após fazer um comentário racial em sala de aula. Dosando muito bem o drama e a dificuldade de aceitação do personagem quanto às suas origens, Hopkins entrega não só uma performance que vale dar mais atenção, mas como uma produção que merecia ser revisitada, que traz questões relativas a classe, raça e sexo nos Estados Unidos. – por Renato Cabral
360 (2012)
Fernando Meirelles é um dos cineastas brasileiros mais respeitados e gabaritados em atividade. Depois de ter assinado o irretocável Cidade de Deus (2002) e os interessantes O Jardineiro Fiel (2005) e Ensaio Sobre a Cegueira (2008), o diretor partiu para um projeto ainda mais ambicioso. Em 360, Meirelles arrisca um filme coral, no qual diversos personagens interagem em múltiplas tramas, com cenas capturadas nas mais diferentes locações espalhadas pelo mundo. O elenco é cheio de nomes talentosos, mas o destaque fica para Anthony Hopkins, entregando uma atuação bastante desdramatizada para os seus padrões. O ator é conhecido por ter dado vida ao hipnótico Hannibal Lecter e, aqui, aparece como um senhor comum, à procura de uma filha que não sabe se está viva ou morta. Seus diálogos com Maria Flor parecem genuinamente corriqueiros, bastante naturalistas. Sem falar em seu monólogo em uma reunião dos Alcóolicos Anônimos, soando agridoce na medida certa. Muito daquela cena, inclusive, foi um grande improviso do ator, que assim como seu personagem em 360, já teve problemas com álcool. Ao tomar experiências pessoais e misturar com as falas do roteiro, Hopkins dá um verdadeiro show, roubando aquele filme – que deveria ser coral – em um show de um homem só. – por Rodrigo de Oliveira
+1
Hannibal (2000)
Anthony Hopkins, para muita gente, é sinônimo do refinado psicopata que o ator encarnou pela primeira vez em O Silêncio dos Inocentes (1991). Mas em Hannibal, segundo filme da franquia, é que o personagem pode brilhar absolutamente como protagonista. Se por um lado a crítica considerou que o filme saiu meio caricato nos aspectos canibais e por outro alguns fãs defendem o longa como uma grande continuação para seu predecessor, ambos concordam que Hopkins constrói o Hannibal mais empático que o cinema poderia desejar. Vilão por excelência (estamos falando de um serial killer que come, literalmente, suas vítimas) é difícil achar quem não goste, ou pelo menos simpatize, com o criminoso. Aliado aos gestos ligeiramente afetados e uma voz que parece nunca subir de tom – o que torna a mordaça ainda mais assustadora – Hopkins é, e sempre será, um pouco Hannibal. – por Dimas Tadeu
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