O grande mérito deste curta-metragem de Dácia Ibiapina é seu personagem central, não necessariamente a maneira como ela o aborda. Valendo-se de uma montagem apenas burocrática e um registro simples, embora funcional, a cineasta nos apresenta a Dedé Rodrigues, artista gráfico que produz e dirige filmes com pouquíssimos recursos no sertão do Piauí. Aliás, o documentário cresce sobremaneira quando Dácia oferece excertos das realizações de Dedé, especialmente os da trilogia Cangaceiros Fora do Tempo, na qual o papelão, o improviso e a criatividade estão na ordem do dia. Dedé, apaixonado confesso pelo cinema de ação, é um protagonista para lá de carismático que reflete, de certa maneira, as dificuldades de fazer cinema no Brasil. Mas, ao contrário de cineastas independentes que utilizam leis de incentivos e editais para continuar trabalhando, ele é movido pura e simplesmente pelo amor. É curiosa a profusão de efeitos especiais (toscos) contidos em seus filmes que inserem figuras míticas do sertão em tramas rocambolescas, sem pé nem cabeça, mas que encantam justamente pela precariedade. Dácia tem o mérito de trazer à tona essa história, valorizando Dedé, lançando sobre ele uma luz de reconhecimento e admiração.

 

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.