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Não há como gostar de filmes no Rio de Janeiro sem ter uma ligação estreita com o Estação. Espalhadas pela cidade, as seis salas do Grupo abrigam novidades do circuito dito alternativo, além de exibirem cópias restauradas de clássicos e de, uma vez por ano, se transformarem nos pilares mais sólidos do Festival do Rio. Verdadeira referência cultural do Rio, o Estação também apoia diversas iniciativas periféricas que visam ampliar as ressonâncias do cinema.

Infelizmente, num mundo em que o capital dita regras, manda arbitrariamente soltar e prender, nem mesmo um exemplo como o Grupo Estação passa incólume diante de eventuais problemas financeiros. Em 2010, repleto de dívidas por conta da expansão que levou uma sala ao tradicional bairro da Gávea, entre outros contratempos, os sócios do Grupo o venderam a um fundo de investimentos que, além de descumprir as cláusulas do acordo inicial, ainda aumentou o montante do saldo devedor. Os antigos proprietários solicitaram Recuperação Judicial e aguardam desde então pela votação – marcada para o início de abril – que definirá se os credores concordam ou não com a proposta de pagamento. Caso a mesma não seja aceita, o Grupo Estação infelizmente encerrará suas atividades.

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Desde que Marcelo França Mendes, um dos sócios, externou nas redes sociais tal situação preocupante, diversas manifestações de apoio surgiram, demonstrando que a comunidade carioca está ao lado de quem lhe traz alguma relevância. Conversamos com Marcelo para saber um pouco mais sobre a triste realidade que ele enfrenta para manter o Estação aberto.

Marcelo, qual a situação real do Grupo Estação?
Temos uma dívida grande que se arrasta há vários anos. Pedimos Recuperação Judicial em fevereiro de 2011 e agora, três anos depois, nosso plano de pagamento será votado pelos credores. Para que todos entendam, trata-se do seguinte: você entra com um processo na justiça dizendo que sua empresa é saudável, mas que com o perfil da dívida que tem (prazo, juros, etc) não conseguirá sobreviver e fechará. Em 15 dias (ou menos) o juiz analisa a proposta e os números da empresa e se julgar que é pertinente aprova o início do processo. A partir daí a empresa tem que elaborar um plano de pagamento da dívida. Se o plano for aprovado pelos credores, ok. Caso contrário, a falência é decretada. Estamos a poucas semanas dessa reunião que votará o Plano.

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Desde que o problema veio a público, houve qualquer contato de alguma instância privada ou governamental oferecendo apoio?
Sim. Da esfera privada algumas empresas e, literalmente, milhares de pessoas. Hoje mesmo (quarta-feira) tenho uma reunião com um possível patrocinador que nos procurou a partir da repercussão. Na governamental, apenas uma pessoa ligada a Prefeitura nos procurou oferecendo ajuda para encaminhar a situação internamente, mas o caso nem é da área dela.

 

Vocês já trabalham com um plano alternativo, caso os credores não aceitem a proposta de pagamento das dívidas?
Estamos trabalhando com dois cenários, mas ambos têm que ser aprovados pelos credores. Se não aprovarem não há outra possibilidade legal a não ser a falência.

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Quem mais perde com o eventual fechamento do Estação?
Além dos 150 funcionários do Estação, muita gente perde, a começar pela própria população que não terá muitas alternativas além do cinema convencional; o cinema brasileiro alternativo, que carece de espaços de exibição; a cidade que verá esses cinemas virarem provavelmente academias de ginástica ou igrejas.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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