Mestre de taekwondo, Halder Gomes iniciou sua carreira no cinema em 1991, como dublê de lutas em filmes de artes marciais, em Los Angeles. Sua primeira realização como diretor foi o curta-metragem Cine Holiúdy: O Astista Contra o Caba do Mal (2004). Depois, veio o longa independente Sunland Heat: No Calor da Terra do Sol (2004), lançado diretamente em home vídeo. Halder também dirigiu a produção norte-americana Cadáveres 2 (2008) e assinou, ao lado de Glauber Filho, o drama espírita As Mães de Chico Xavier (2011) até alcançar seu primeiro grande êxito com Cine Holliúdy (2013), todo falando em cearencês e com legendas em português. Com uma estratégia de distribuição setorizada, partindo do Nordeste e se espraiando gradativamente ao resto do Brasil, o filme alcançou quase 500 mil espectadores. Três anos depois veio O Shaolin do Sertão (2016), com a mesma pegada cômica e nostálgica do antecessor. Enquanto prepara as sequências desses dois sucessos de público, ele volta ao circuito com Os Parças (2017), filme que reúne nomes conhecidos da comédia. Halder gentilmente nos atendeu para este Papo de Cinema. Confira a conversa exclusiva e “ispilicute”.
O que mais lhe atraiu na possibilidade de dirigir Os Parças?
Venho da realização de quatro projetos de época. Por mais que sejam comédias, eles foram tecnicamente muito complexos, no que diz respeito ao enquadramento, à direção de arte, por exemplo. Isso impõe um esforço grande. Eu estava querendo fazer um filme com mais liberdade de enquadrar, assim como ansiava por contar uma história urbana, contemporânea. Outra coisa importante, que me atraiu no filme, foi o fato dele possuir um protagonismo nordestino, personagens que não são necessariamente do Rio de Janeiro ou de São Paulo.
Aliás, mesmo que o Nordeste seja o nosso grande celeiro de humor, isso não fica evidente no cinema. Seus filmes, de certa maneira, levam o comediante nordestino à telona, certo?
Vejo o cinema sempre como uma janela. É importante ter esses talentos gigantes da comédia e dar essa visibilidade a eles, fazer jus ao que eles representam. Veja só o Tom Cavalcante que nunca tinha feito cinema. O cinema já merecia ter o Tom como protagonista há muito tempo. E esse elenco de Os Parças é legal, pois é a reunião de três gerações do humor nordestino. Tom, o mais velho, o Tirullipa o do meio e o Whindersson, que ainda é um bebê (risos). Isso, embora o Whindersson já seja um mostro da internet. O cinema pode ser uma forma de equilibrar, de aumentar essa representatividade de humoristas nordestinos, pois, atualmente, eles não ocupam os espaços que merecem.
Levando em consideração as características do elenco, houve espaço para improvisações?
O primeiro desafio era o fato dos protagonistas serem comediantes, não atores. O cinema é muito amarrado, milimétrico, por conta da luz, das marcações, enfim. Por exemplo, era necessário que o foquista antecipasse os movimentos inesperados, quando acontecia alguma improvisação. Obviamente, gênios do humor, como nesse caso, permanecem em processo criativo o tempo todo. Seria um verdadeiro desperdício não aproveitar. Não faria sentido, principalmente quando você trabalha com esse calibre de comediante. Até o ultimo ensaio as coisas surgiam. A cena do Tom Cavalcante deitado na cama, conversando com ele mesmo, foi escrita na noite anterior. Depois pedi paro o Tom trazer o texto. Coisas foram efetivamente se construindo ao longo do filme. A participação do Wesley Safadão, por exemplo. Como recusar, sabendo que ele queria participar? Escrevi uma cena para ter ele, mas, claro, precisava ter importância dentro da história, sem comprometer o ritmo, como de fato foi.
Que tipo de humor não te interessa fazer, seja no cinema ou na televisão?
O humor previsível. Gosto do humor que pode ir até a linha do clichê, mas que dá uma quebrada e subverte o clichê. Gosto de certa ingenuidade no humor. Outro traço que me agrada no gênero é a utilização de muitas camadas de informação. O humor, ao mesmo tempo, popular mas com toques político-sociais. Gosto desse humor que você pode destrinchar e chegar a lugares diferentes. Se for livre para se distanciar do estritamente crível, desde que incorporando à história, como O Shaolin do Sertão, que tem elementos fantásticos, aí sim embarco. Tudo o que puder promover o riso, sem a necessidade do apelo, eu curto.
Como foi dirigir Tom Cavalcante neste que é o primeiro longa-metragem dele?
Foi muito tranquilo. Ele tinha bem a consciência de que era seu primeiro filme, de que as demandas do cinema são completamente diferentes. Trabalhávamos 12 horas por dia, seis dias por semana, ou seja, num ritmo muito intenso. Cinema é outra linguagem, bem mais complexa, elaborada, minuciosa. O Tom teve a humildade de compreender, de se colocar na condição de aprendiz. E ele esteve ali, confiando na direção, se integrando com o pensamento da direção, algo imprescindível para o ator se situar. Ele se entregou por completo e isso foi muito bacana.
(Entrevista concedida por telefone em novembro de 2017)
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