Continuando a série de entrevistas com críticos de cinema, reproduzo a valiosa contribuição de André Setaro, célebre crítico baiano que há muitos anos faz do cinema sua paixão, e a quem aproveito para agradecer.
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André Setaro é crítico de cinema do jornal TRIBUNA DA BAHIA (Salvador), da revista eletrônica TERRA MAGAZINE, e Professor do Departamento de Comunicação da Universidade Federal da Bahia, onde ensina OFICINA DE COMUNICAÇÃO AUDIOVISUAL E LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA. Publicou recentemente um box com três livros denominado: ESCRITOS DE CINEMA: TRILOGIA DE UM TEMPO CRÍTICO (Azougue/Edufba).
Blog de André Setaro: http://setarosblog.com.br/
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Como nasceu em você a paixão pelo cinema?
Minha paixão pelo cinema nasceu indo ao cinema nos tempos áureos da década de 50, quando a produção comercial tinha qualidade e não se assemelhava ao lixo contemporâneo. Sou formado pelo cinema de gênero, mas, adolescente, vim a entender, vendo Antonioni e Bergman, que o cinema também era uma expressão artística.
Qual é o sentido de ser crítico nos dias de hoje?
Se, antes, ia ao cinema todos os dias, atualmente sou muito seletivo. Vejo mais em DVDs. A crítica é sempre arrogante, dona da verdade. É preciso mais generosidade, e o crítico deve ser, antes de tudo, um leitor intermediário entre o espectador e a obra cinematográfica. Diria um intérprete privilegiado.
Qual sua posição frente a nova crítica de cinema, que germinou na era dos blogs e das revistas virtuais?
Há excelentes revistas virtuais, com gente séria e competente: Contracampo, Cinética, Polvo etc. Mas há também muito lixo no espaço virtual. O tempo se encarregará de pô-lo na lixeira do infinito.
Como vê o academicismo de certas linhas de pensamento na crítica cultural? Acredita que a dissecação de um filme, tornando a análise o mais objetiva possível, tende a enfraquecer a importância da análise subjetiva?
Sim, há uma tendência a cientificizar a análise, principalmente uma crítica que vem da academia. Alguns chegam a analisar o filme como um cientista diante de um rato no laboratório. E a emoção, onde fica? A emoção é fundamental.
Quais são seus críticos de cinema favoritos? Os de outrora, que influenciaram ou ainda influenciam seu trabalho, e os de agora, que acredita sustentarem com talento a causa da crítica de cinema.
Atualmente, gosto muito de Inácio Araújo. Antes, Paulo Emílio, Walter da Silveira, José Lino Grunewald, Moniz Viana etc.
É célebre a história de Antonio Moniz Vianna parou de escrever quando da morte de seu maior ídolo, John Ford, pois acreditava que nada tinha mais a acrescentar como pensador diante da crise criativa contemporânea. Qual diretor cuja morte já lhe provocou semelhante desalento?
É verdade. Li no próprio Correio da Manhã, onde Moniz escrevia. Nenhum diretor me provocou desalento semelhante.
A perda de espaço de textos críticos nos veículos impressos é sintoma da falta de interesse público, ou a busca ávida dos veículos pela adequação a tempos de pouca reflexão?
A perda de espaço se vincula à falência da cultura literária e a preguiça mental da arte de ler.
Discutir “comércio versus arte” ainda é válido quando percebemos qualquer cinematografia?
Sim, embora seja ponto pacífico que se o filme é uma arte o cinema é uma indústria.
Como vê o cinema brasileiro atual?
Acossado pela exigência da captação de recursos e submetido aos ávidos gerentes de marketing das empresas e sem possibilidade da criação de filmes mais inventivos.
* Entrevista concedida em Maio de 2011
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