A primeira vez em que conversamos, há quatro anos, Bruna Linzmeyer estava recém dando seus primeiros passos na sétima arte. Era o lançamento do coletivo Rio, Eu Te Amo (2014), no qual ela participa de um dos segmentos. De lá para cá, a jovem se tornou um dos nomes mais quentes no cenário cultural brasileiro, fazendo uma novela atrás da outra, além de outros cinco filmes – uma impressionante média de mais de um por ano! E entre todos estes trabalhos, talvez o mais esperado seja O Grande Circo Místico, exibido em uma sessão especial no Festival de Cannes, selecionado para a noite de abertura do Festival de Gramado e para a de encerramento do Festival do Rio, além de uma passagem disputada durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Sem esquecer de mencionar que este é o representante oficial do Brasil na disputa por uma indicação como Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2019. E foi sobre esse trabalho, que por muito pouco ela não deixou passar, que conversamos com exclusividade com a atriz. Confira nosso bate-papo a seguir:
Como foi entrar nessa trupe do Grande Circo Místico?
Ah, foi uma viagem. Na época, tava fazendo duas novelas ao mesmo tempo, terminando Amor à Vida (2014) e já começando os ensaios para Meu Pedacinho de Chão (2014). Trabalhando muito, quando a produção da Renata Almeida, responsável pelo filme, me escreveu convidando para fazer um teste. Acabamos marcando, mas por causa de uma gravação, não consegui ir. Perdi a oportunidade, e já estava quase me conformando, quando, meses depois, surgiu uma nova oportunidade. Veio outro convite, e dessa vez fui super objetiva, pois não queria furar. Mas era algo tipo: só posso na quarta-feira, às 22h. E, para meu espanto, responderam: ok, vamos lá. E no dia e hora combinados apareci, depois de um dia inteiro de trabalho, e tava todo mundo me esperando, até o Cacá. Nossa, que vergonha! Mas foi o que deu para fazer, e acabou rolando. Era para ser.
Você já tinha lido o roteiro? Conhecia a personagem?
Não. Só tinha uma ideia. Sabia do que se tratava, afinal. A ideia do teste era mais para eles, para verem se estavam a fim de me chamar para o projeto ou não. Tive muita sorte de ter sido aceita.
Qual é o peso de trabalhar com Cacá Diegues e ao lado de um elenco tão impressionante quanto esse?
Acho que é uma coisa que eu, Bruna, só vou ir descobrindo ao longo dos dias e dos meses que vão passando. E cada vez que olho em volto e vou me dando conta das pessoas que estão perto de mim. Artistas que sempre admirei, que possuem um trabalho impressionante. É muita responsabilidade, na verdade. E também uma super alegria, pois no final das contas foi um set delicioso, muito doce. O Cacá conduzia tudo com muita tranquilidade, com muita escuta e diálogo. Sempre conversando e disposto a ouvir. Foi maravilhoso.
Falando em responsabilidade, você tem a missão de abrir o filme. Como foi lidar com esse desafio?
Acho a Beatriz a personagem mais suave. Porque depois a treta só aumenta. É a partir dela que a família vai ruindo. Então, por mais que tenha, sim, essa responsabilidade de ser a primeira, ainda é a figura mais solar. É o tempo da família e do circo. Ela é a paixão que dá origem ao circo, e sempre dá um jeito de conseguir o que quer. Foi suave, uma delícia ter feito.
Você chegou a fazer algum treinamento das práticas circenses?
Sim. Frequentei a Escola Nacional de Circo. Tive aula de contorção, de Dança do Ventre, e muita, muita aula de ioga, todos os dias, durante seis meses. E de um jeito muito louco, mudou a pessoa que sou hoje. Afinal, a ioga é uma prática milenar, de muita transformação. Então, praticar quatro horas por dia, por meio ano, se é para um trabalho ou não, acaba mexendo contigo também. Foi muito importante para mim, posso dizer que virei uma iogue, ou ioguine, como eles falam. Pratico até hoje.
Aproveitando isso que você comentou sobre a Beatriz, o que você acha da representação dos personagens femininos em O Grande Circo Místico?
Comentei sobre isso com o Cacá quando assisti ao filme pela segunda vez. Sim, porque na primeira a gente não vê a história, só se preocupa com o nosso trabalho. E o que posso dizer é que, para mim, essa questão bateu muito forte. É muito trágico tudo o que acontece. Toda essa naturalização das violências, que é a história da opressão da humanidade, principalmente em relação aos corpos das mulheres, tudo isso está no filme. O tapa que o pai dá no filho, o estupro que acontece, essa cultura que está em torno dos sexos, é muito impactante. Acho que o Cacá retrata isso muito bem. Afinal, a naturalização disso é igual como se dá na vida real. Essa é uma tragédia que enfrentamos todos os dias, e está aí, dentro de casa, nessas famílias todas.
O filme teve sua estreia mundial no Festival de Cannes, e você estava presente. Como foi a passagem por lá?
Ah, foi surreal. Nunca, na minha vida, pensei que um dia iria para Cannes com um filme. Tudo que você acha que acontece por lá, é de fato. Se não maior. É um negócio enorme, é um festival de muita indústria, as pessoas estão lá reunidas também pensando em viabilizar coproduções e outros projetos. É uma engrenagem imensa, muita gente importante em uma cidade minúscula. E você tá lá no meio. Foi muito emocionante. É uma mistura de nervoso, expectativa e ansiedade, tudo junto. É o momento de entregar o filme para o mundo. E ficar observando para ver como ele vai viver a partir de então. Não depende mais da gente, agora é com o público.
(Entrevista feita ao vivo em Gramado em agosto de 2018)
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