JOHN CHO: “Obrigado pelo seu serviço!” (em português) Falei certo? Isso foi português?
PAPO DE CINEMA: Sim, está correto. Porém, é algo que geralmente falamos no final da conversa, e não no início (risos).
JC: Oh, erro meu. Desculpa! Mas estou tentando, viu?
Foi nesse ritmo de descontração que começou nosso bate-papo com os astros John Cho e Mia Isaac. Ele, veterano de sagas de sucesso, como American Pie, Madrugada Muito Louca e Star Trek, tem se envolvido cada vez mais em projetos autorais. “Sou muito fã do seu trabalho em Columbus (2017)”, comentei no final dessa entrevista, o deixando nitidamente surpreso e emocionado pela lembrança. Ela, por sua vez, é uma novata, um jovem talento que está recém no seu primeiro trabalho no cinema. Os dois interpretam pai e filha no drama Não Me Diga Adeus, exibido no Festival de Tribeca e já disponível no Brasil, na plataforma Amazon Prime Video. “Estou com vergonha agora do meu péssimo português”, disse John ao se despedir. Não sinta, meu caro. Afinal, a nossa conversa foi ótima. Confira!
Olá, John, Mia, tudo bem? Assisti ao filme de vocês recentemente, parabéns pelo trabalho.
JC: Muito obrigado. Temos muito orgulho do que alcançamos com esse filme.
Bom, vamos começar pelo princípio. O que mais atraiu vocês nestes personagens, Max e Wally?
MIA ISAAC: Wally é uma adolescente, assim como eu. Isso me permitiu crescer junto com ela. Foi muito legal. Nós duas passamos por situações similares, e foi importante aprender como lidar com isso através do exercício de interpretar a Wally.
JC: A jornada pela qual Max atravessa junto com Wally encontra espelho, em grande parte, na minha própria vida. Quando nos tornamos pai, percebemos essa obrigação de ser uma figura de autoridade e ser capaz de ensinar a lidar com todas as coisas da vida, mas na verdade tudo é muito mais confuso do que isso. No final das contas, acabamos aprendendo muito dos nossos filhos e também a respeito de nós mesmos e sobre o mundo. Acredito que isso está em Não Me Diga Adeus, afinal os dois estão nos seus próprios caminhos de descoberta. Max, do seu jeito, também é um tanto adolescente, como se estivesse em uma segunda adolescência. Por tudo isso, o personagem me soou familiar, autêntico e bastante real.
John, conversei com a diretora Hannah Marks, e ela comentou que percebe similaridades entre você e Max. Portanto, gostaria de te perguntar: o que há de mais diferente entre vocês?
JC: Deixa ver… Talvez o fato dele ser um pai solteiro. Nunca passei por essa experiência, ter que criar uma criança sozinho. Essa foi uma diferença grande entre nós, algo que tive que levar em consideração em como iria afetar no nosso relacionamento. Na minha família sempre houve uma mãe e um pai, e por isso a dinâmica era diferente. Então, foi algo que tive que buscar na minha imaginação.
Quais os maiores desafios que vocês tiveram que enfrentar na construção desses personagens?
JC: Não saberia dizer se houve, de fato, um grande desafio. Tudo acabou surgindo de modo muito natural, acredito que para nós dois. Se houve alguma coisa que exigiu de mim maior atenção foi ter que tratá-la como igual, por mais que estivesse sendo colocado em uma posição de autoridade dentro da história. Precisava me lembrar da necessidade de dar a ela espaço para trabalhar e desenvolver sua própria atuação, alguém que também demanda um mesmo tempo de tela e de importância na história. Ainda que, na trama, eu fosse o pai e ela a filha, no dia a dia éramos colegas, e não um superior ao outro.
Mia, esse é o seu primeiro longa-metragem, certo? E já ao lado de alguém como John Cho. Como foi dividir essa responsabilidade e o que você considera ter sido o mais importante aprendizado dessa relação?
MI: Nossa, só tenho a agradecer ao John por ter estado ao meu lado. Confesso que teria sido mais assustador se tivesse que assumir um filme sozinha, sem ter alguém comigo. No começo lembro de ter ficado preocupada, até mesmo nervosa com tudo que tínhamos pela frente, e foi ele que tornou esse processo mais simples e fácil. Aprendi com ele, principalmente em como me sentir mais confortável no set e em como interpretar uma personagem e fazer justiça a sua natureza. Quando se está só, é mais fácil se deixar levar pelas preocupações, independente se diante de um momento mais emocional ou mesmo numa cena cômica. John me fazia lembrar que o importante no final é o arco da história, e cada detalhe conta no todo, e não individualmente. Isso é o que fica no final.
John, no começo da nossa conversa você arriscou algumas palavras em português. Você já veio ao Brasil?
JC: Nunca estive no Brasil. Não sei dizer porque isso nunca aconteceu, como pode ter escapado essa oportunidade na minha vida. Mas quem sabe você me convida e remediamos isso? Será que posso ficar no seu quarto de hóspedes?
Mas é claro. Aliás, vocês dois podem vir. Tenho também um bom sofá aqui em casa, para qualquer emergência.
JC: Nossa, mas esse é um convite ao qual não se pode recusar.
MI: Também nunca estive no Brasil, com certeza vou aproveitar essa oportunidade e ir junto com o John te fazer uma visita.
Vocês são incríveis, mas isso não quer dizer que vou deixar as coisas mais simples. Me digam, já assistiram a um filme brasileiro?
JC: Puxa, não sei dizer se sim. Uau, você me colocou numa posição difícil agora. Assim, de pronto, não consigo lembrar. Será que nunca assisti a um filme brasileiro? Certamente gostaria, mas não tenho certeza.
Bom, aconselho que procurem por filmes brasileiros, então. Há muita coisa boa sendo feita. E já que estamos falando nisso, como esperam que o público daqui receba o Não Me Diga Adeus?
MI: Penso que Não Me Diga Adeus conta algo universal, ainda que seja uma história de estrada pelos Estados Unidos. Muitos dos temas que abordamos, afinal, são comuns em qualquer lugar do mundo. John disse em outra oportunidade que qualquer pessoa é ou pai, ou filho, e é sobre isso que falamos nesse filme.
JC: É um filme acessível a qualquer tipo de audiência, ainda mais hoje em dia. Não quero filosofar em excesso, mas estamos saindo de uma pandemia, e o pior de tudo foi como as relações sociais se tornaram frágeis. Familiares tiveram que se manter afastados uns dos outros, tivemos que ficar longe das pessoas que são as mais importantes das nossas vidas. Esse filme, portanto, acredito que valoriza esse tipo de relacionamento e o encoraja a ser mais íntimo daqueles que você ama. Independente de onde você venha, é um sentimento com o qual é fácil se identificar. Torço para que espectadores de todos os cantos do mundo consigam acessar às mesmas emoções.
(Entrevista feita por zoom, entre Brasil e Estados Unidos, em junho de 2022)
Últimos artigos deRobledo Milani (Ver Tudo)
- Dahomey - 13 de dezembro de 2024
- Um Homem Diferente - 12 de dezembro de 2024
- Marcello Mio - 12 de dezembro de 2024
Deixe um comentário