Daniel Rocha, definitivamente, tomou gosto pelo cinema. Como ele próprio diz na entrevista a seguir, talvez nenhum outro ator brasileiro tenha feito tantos filmes nos últimos dois anos. O ritmo é intenso. Desde Sequestro Relâmpago (2018), sua estreia nas telonas, que a Sétima Arte vem tomando espaço significativo em sua carreira. Em Eu Sou Brasileiro (2019), Daniel vive um promissor jogador de futebol do interior paulista deparado com o infortúnio que ameaça abreviar o seu futuro como atleta. Tentando vencer a vida, inclusive a fim de dar uma condição mais confortável à mãe, às voltas com a frustração da melhor amiga, por ele apaixonada, o jovem experimenta uma reviravolta cujo intuito é sublinhar a capacidade de superação dos nascidos nessa terra abençoada por Deus e bonita por natureza, como diz a canção. Conversamos por telefone com Daniel Rocha para saber um pouco mais de seu personagem e dessa avalanche de filmes que vêm por aí. O resultado você confere agora em mais este Papo de Cinema exclusivo.

 

O que mais lhe chamou a atenção no roteiro, ao ponto de você aceitar protagonizar o filme?
Até então tinha feito apenas um longa, o Sequestro Relâmpago. Estava muito a fim de fazer cinema. Sempre foi um mercado no qual quis entrar, mas não estava dando por conta das novelas, em virtude do meu comprometimento consecutivo com elas. Por sorte, tive esse tempo para fazer o Eu Sou Brasileiro. O roteiro tem uma virada muito interessante na terceira parte. Foi exatamente essa virada que me levou a fazer o filme. Outra coisa que me instigou foi o fato de interpretar o personagem com idades diferentes, primeiro com 22, 23 anos, e depois beirando os 30.

Você tinha alguma familiaridade com futebol antes do filme?
Na novela Avenida Brasil (2012) interpretei um jogador de futebol, então minha experiência anterior mais próxima foi essa. Sou canhoto, mas nunca joguei necessariamente bem (risos).

 

Você chegou a fazer algum laboratório com alguém do futebol?
Fiz uns dois meses e meio de aula. Mas, no fim das contas, o papel era mais atuação do que desempenho futebolístico. Nesse laboratório, tomei contato com um mundo cruel. São tantos sonhos envolvidos, muita gente quer ser jogador profissional. Para tantos o esporte é a única oportunidade de sair da pobreza. Dar certo é loteria, pois há as lesões, carreiras promissoras abreviadas por conta de empresários gananciosos. Gente talentosa fica pelo caminho. É preciso ter estrela.

No filme você contracena com um timaço: Fernanda Vasconcellos, Zezé Motta, Cristiana Oliveira, Letícia Spiller, entre outros. Como foi o trabalho com o restante do elenco?
Tivemos umas diárias de preparação. Consegui realizar o sonho de contracenar com a Zezé Motta. Não conhecia a Fernanda pessoalmente, mas ela é amiga de uns amigos, então já existia esse vínculo indireto. Foi muito legal trabalhar com todo mundo, houve bastante afinidade. Se não me engano, a Letícia estava gravando uma série, por isso a participação dela é menor, mas foram ótimos esses poucos momentos em que trabalhamos juntos.

 

E como foi contracenar com o Cafu, o capitão do nosso título mundial em 2002?
Foi massa, ele é um ótimo ator. Cafu teve de decorar um texto relativamente grande, mas fez muito bem.

 

O filme de apoia na mensagem de perseverança, numa trajetória sublinhada pela superação. Era uma preocupação sua que as coisas não descambassem para o piegas?
Cara, pensando assim, claro que as chances de incorrer no piegas são grandes e em alguns momentos poderíamos, mesmo, ir parar nesse terreno. No que diz respeito à minha interpretação, tentei não cair nisso. Logo depois das filmagens interpretei o Popó (boxeador) em Os Irmãos Freitas, série que deve estrear em breve, na qual também a superação é uma constante, afinal de contas esse cara sai de uma favela em Salvador para ser campeão mundial. Mas, voltando a Eu Sou Brasileiro, o texto ajudava a não cair no piegas.

Sua carreira cinematográfica é relativamente recente, mas pode-se dizer que é o tipo de trabalho que veio para ficar na sua trajetória como ator?
Então, em dois anos fiz sete filmes e duas séries. Devo ter sido o ator brasileiro que mais filmou nesse período (risos). O cinema começou a me acolher, a me ver como alguém que poderia estar na telona. E isso aconteceu na hora certa, pois eu já tinha maturidade e experiência para tanto. Falando nisso, me preocupa bastante a atual situação da Ancine. Eu estava atrelado a projetos grandes, legais e necessários. Agora não sei como serão as coisas. O nosso cinema realmente é incrível e já provamos que podemos fazer excelentes filmes e também séries. Mas estou preocupado com isso da Ancine e como essa insegurança pode ter impacto nas nossas carreiras.

(Entrevista concedida por telefone em agosto de 2019)

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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