Responsável por filmes como Daritidzé, Aprendiz de Curador (2003) e Waiá Rini, O Poder do Sonho (2001), Divino Tserewahú é um cineasta indígena da tribo xavante nascido em 1974. Tendo começado sua trajetória como diretor nos anos 1990, é um dos grandes líderes do audiovisual dos povos originários. Além disso, é conhecido por passar seu conhecimento adiante também como professor. No CineOP 2022, por exemplo, foi convidado para atuar como palestrante. Para falar sobre a situação indigenista atual e a produção cinematográfica nas aldeias, o realizador conversou com o Papo de Cinema. Confira este bate-papo exclusivo abaixo.
Divino, é um prazer falar contigo. Durante a abertura do CineOP, tribos de diferentes aldeias do Brasil e, inclusive, da América Latina, se uniram pela causa dos índios em um só canto. Sobre essa junção, existe alguma dificuldade? É preciso superar algum desacordo para tal?
Não, isso passou. Não temos mais tempo para qualquer desavença entre nós. Somos irmãos. Em função do governo atual estamos sendo muito ameaçados. Ameaçam nossa terras, nossos direitos, nossos costumes, etc. Para eles (governo), tudo o que fazemos é errado. Por isso estamos mais unidos do que nunca, precisamos ser fortes. Mas, infelizmente, não somos suficientes. Precisamos de instituições de apoiem nossas causas.
Você citou instituições. O que você achou do CineOP dar espaço para o cinema feito nas aldeias?
Esse foi um gesto muito grandioso da parte do festival. Nós carecemos de uma maior distribuição dos nossos projetos e também precisamos reexibir produções antigas. E é o que está acontecendo aqui. Durante esses dias, vocês (imprensa) estão debatendo e expondo nossas causas para diversos cantos do país. Isso ajuda muito para que pessoas que nunca tiveram contato conosco, descubram nossa causa. O CineOP está definitivamente nos tornando reconhecidos.
Você comentou na primeira roda de conversas do evento que quer mais indígenas filmando seus pares. Qual seria essa importância?
A diferença é grande. As imagens de capturamos é completa e sem cortes. Mesmo que alguns digam que nosso trabalho possa soar artesanal, é importante dizer que esse é nosso jeito, independente dos recursos. Eu sempre digo nas aulas que leciono: “olhares não se cruzam“. Um cinema indigenista com muitos cortes, se perde na nossa linguagem. Eu diria, inclusive, que nosso olhar é mais atento que o dos brancos.
Considerando esse cenário atual adverso, dentro do campo social e cinematográfico, qual sua expectativa para os próximos anos?
Se a situação política nos privilegiar, esperamos contar com mais representantes indígenas de cantos brasileiros que ainda não alcançamos. Estamos em bom número aqui, mas poderiam ser ainda mais. Queremos os povos se conheçam e formem alianças ainda mais sólidas. São muitas pessoas, muitas! Tenho esperança que possamos produzir ainda mais.
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