Nascido no dia 28 de setembro de 1924 na cidade de Lazio, Itália, Marcello Vincenzo Domenico Mastrojanni – ou apenas Marcello Mastroianni, como ficou eternizado na memória de milhares de cinéfilos e admiradores ao redor do mundo – nos deixou no dia 19 de dezembro de 1996 em Paris, vítima de um câncer no pâncreas. Ele tinha 72 anos, e estava ao seu lado uma das suas companheiras mais notáveis: Catherine Deneuve, com quem teve um relacionamento de 1971 a 1975 e se tornou mãe de sua filha mais nova, a também atriz Chiara Mastroianni. Com Deneuve ele também atuou em cinco filmes, mas foi com a conterrânea Sophia Loren com quem manteve uma parceria criativa nas telas mais constante: foram 11 títulos ao todo, entre eles clássicos absolutos como Os Girassóis da Rússia (1970), Ontem, Hoje e Amanhã (1963), Matrimônio à Italiana (1964) e o nostálgico Prêt-à-Porter (1994).

Logo após o seu nascimento, sua família se mudou para Turin e, em seguida, para Roma. A vida na capital italiana não foi das mais fáceis, e durante a Segunda Guerra Mundial chegou a ser preso pelos alemães e enviado a um campo de prisioneiros na Alemanha. Felizmente, conseguiu escapar, refugiando-se em Veneza. Sua estreia no cinema foi como extra em Marionetes (1939), comédia de Carmine Gallone. Sua participação foi mínima, mas a experiência o motivou a ir trabalhar no despertamento italiano da produtora Eagle Lion Films, em Roma. Em 1945 começou a ter aulas de teatro, e três anos depois veio a verdadeira estreia em I Miserabili (1948), de Riccardo Freda. Ao mesmo tempo, começou a participar de um clube de teatro, onde atuou em montagens de As You Like It (1948), de Shakespeare, e Um Bonde Chamado Desejo (1949), de Tennessee Williams. Foi durante uma das apresentações dessa peça que chamou a atenção do diretor Luchino Visconti. Desta amizade surgiram convites para integrar os elencos de Um Rosto na Noite (1957), do próprio Visconti, e Os Eternos Desconhecidos (1958), de Mario Monicelli. Mas seu grande momento ainda estava por vir.

Marcello Mastroianni se confirmou uma revelação mundial quando foi convidado pelo diretor Federico Fellini para estrelar A Doce Vida (1960). O sucesso desse projeto cultivou a imagem de ‘amante latino’ que o acompanhou até o fim da vida, ainda que volta e meia ele aceitasse papéis de personagens mais passivos e sensíveis, justamente para fugir do estereótipo. Com o passar dos anos desenvolveu uma importante parceria com Fellini, trabalhando sob sua condução em outros quatro filmes: 8 ½ (1963), Cidade das Mulheres (1980), Ginger e Fred (1986) e Entrevista (1987) – além de um longa nunca finalizado. Em 8 ½, ao viver um cineasta em crise em meio aos seus devaneios e fantasias, acabou criando uma persona muito próxima do próprio Fellini, a ponto de começar a ser visto como um alter ego do cineasta em muitos dos seus projetos.

Ícone do cinema italiano e europeu, Mastroianni trabalhou com os realizadores mais conceituados do seu tempo, vivendo os mais diversos personagens. Foi um escritor com problemas com a esposa em A Noite (1961), de Michelangelo Antonioni, um homem impotente em O Belo Antônio (1960), de Mauro Bolognini, um príncipe no exílio em Príncipe sem Palácio (1970), de John Boorman, e um anarquista traidor em Allonsanfàn (1974), dos irmãos Taviani. Dois papéis, no entanto, chamaram mais atenção: o sensível homossexual de Um Dia Muito Especial (1977), de Ettore Scola, que lhe valeu sua segunda indicação ao Oscar – a primeira foi por Divórcio à Italiana (1961), de Pietro Germi – e o turco Nacib, apaixonado pela Gabriela de Sônia Braga em Gabriela Cravo e Canela (1983), filmado no Brasil com direção de Bruno Barreto a partir do romance homônimo de Jorge Amado.

Mastroianni mantém até hoje o recorde de três indicações ao Oscar – nunca um outro intérprete estrangeiro conseguiu tamanho reconhecimento em Hollywood atuando em sua língua natal (os mais próximos de alcançá-lo são a italiana Sophia Loren, a japonesa – naturalizada sueca – Liv Ullmann, a francesa Isabelle Adjani e o espanhol Javier Bardem, cada um com duas indicações). Foi indicado também quatro vezes ao Globo de Ouro (ganhou uma, por Divórcio à Italiana), ganhou dois Bafta, dois troféus do Festival de Cannes e dois no de Veneza. Os críticos de cinema italianos o premiaram 8 vezes (e o indicaram em outras 12 oportunidades), enquanto que o Globo de Ouro Itália o premiou em cinco ocasiões, mesmo número de vitórias que obteve no David di Donatello – o Oscar da Itália. É, até hoje, quase vinte anos após sua morte, considerado o maior ator italiano de todos os tempos!

Filme imprescindível: A Doce Vida (1960). Afirmava que só havia sido contratado pelo diretor Federico Fellini para esse papel porque tinha “uma cara muito ordinária”.

Filme esquecível: Romance de Outono (1992), comédia romântica bobinha em que aparecia ao lado de Shirley MacLaine, uma das poucas produções que fez nos EUA

Primeiro filme: Marionetes (1939)

Último filme: Viagem ao Princípio do Mundo (1997)

Guilty pleasure: Gabriela Cravo e Canela (1983), feito no Brasil com direção de Bruno Barreto a partir do romance de Jorge Amado

Filme perdido: Il Viaggio di G. Mastrona, detto Fernet, de Fellini, filmado em 1966 e nunca finalizado por falta de recursos

Oscar: Foi indicado três vezes como Melhor Ator, por Divórcio à Italiana (1961), Um Dia Muito Especial (1977) e Olhos Negros (1987). Este número é um recorde entre atores estrangeiros. Apesar de nunca ter ganho, venceu cinco vezes o David di Donatello – considerado o Oscar da Itália.

Frase inesquecível:Eu somente existo quando estou atuando em um filme”.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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