8 ago

Top 10 :: Jornalismo

O jornalismo e os meios de comunicação são as principais armas do público para descobrir e entender o que se passa no mundo. Ainda que na era da globalização o acesso ilimitado a informações propagado pela internet seja subterfúgio para muitos, é no trabalho de apuração de um jornalista que a maioria ainda confia para saber o que se passa, em escala global ou menor, no dia a dia. A profissão vem enfrentando uma crise há anos com problemas que, se antes pareciam mais pontuais, hoje extrapolam os limites da ética e do sensacionalismo, mesclando de forma nem sempre digna o que é de interesse público com o que a audiência (supostamente) pede. O tema é debatido de forma ampla em O Mercado de Notícias, longa misto de ficção e documentário dirigido por Jorge Furtado. O assunto é fonte inesgotável de referências no cinema e, por conta disso, a equipe do Papo de Cinema resolveu apontar quais são os dez melhores filmes sobre jornalismo realizados. Quer saber se o seu favorito está aqui? Confira a nossa lista!

 

Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941)
Rosebud. Uma palavra misteriosa, a morte de um homem, uma investigação. Precisou pouco para Cidadão Kane surgir da mente de Orson Welles e passar de um conjunto abstrato de acontecimentos a uma referência – para muitos, um paradigma. Constantemente considerado o melhor filme já feito, o longa conta a reconstituição da vida do magnata da comunicação Charles Foster Kane (interpretado pelo próprio Welles) através dos esforços do jornalista Jerry Thompson (William Alland). Apesar de indicado em inúmeras categorias, foi apenas na de Melhor Roteiro Original, creditado ao diretor em parceria com Herman Mankiewicz, que o filme levou o Oscar, em 1942. Impressionante pela linguagem cinematográfica sofisticada, em especial pelo trabalho narrativo frente à simplicidade do mote, Cidadão Kane ainda surpreendeu por ter sido o trabalho de estreia de Welles no cinema, na época com 20 anos. Pela importância atingida, o longa abriu as portas para bem e mal de uma das carreiras mais brilhantes e conturbadas da história do cinema. – por Willian Silveira

 

A Montanha dos Sete Abutres (Ace in the Hole, 1951)
Billy Wilder fez uma mordaz crítica ao jornalismo marrom em A Montanha dos Sete Abutres, um de seus trabalhos mais contundentes. Estrelado por Kirk Douglas, o longa-metragem conta a história do repórter Chuck Tatum, um profissional sem senso de ética que acaba por explorar a tragédia de um mineiro preso em uma caverna para vender jornais. Apenas ele tem acesso ao homem soterrado e vai utilizando este privilégio para aumentar cada vez mais a situação, transformando o local em um verdadeiro circo midiático. Com esta carta na manga (como bem diz o título original), Tatum posterga como pode o resgate daquele sujeito, um jogo ambicioso que tem tudo para trazer consequências trágicas. Filme básico em qualquer faculdade de jornalismo que se preze, A Montanha dos Sete Abutres foi realizado em 1951 e, infelizmente, é um retrato nada distante do que vemos até hoje na imprensa sensacionalista. Wilder trabalharia novamente com a temática do jornalismo, mas de forma mais humorada, em A Primeira Página, com Walter Matthau e Jack Lemmon, em 1974. – por Rodrigo de Oliveira

 

Rede de Intrigas (Network, 1976)
Egresso da televisão, o diretor Sidney Lumet fez em 1976 talvez o filme que melhor explore a veia sensacionalista do veículo, a busca desenfreada por audiência a todo custo. Rede de Intrigas começa com o apresentador interpretado por Peter Finch (vencedor do Oscar póstumo pelo papel) que, demitido, ameaça suicidar-se ao vivo. Na iminência da tragédia televisionada, a audiência, antes minguada, chega a números impressionantes. O jornalista é então readmitido, “livre” para falar como um profeta apocalíptico no horário nobre. Contudo, o sucesso logo incomoda, aí a necessidade de um novo rearranjo das coisas em prol das lógicas dominantes. Lumet não apenas fez com Rede de Intrigas um filme sobre a mídia, essa quimera disforme tida como o quarto poder. A abordagem se estende ao espectador, ou seja, àquele que se torna cúmplice do sensacionalismo veiculado, pois seu consumidor voraz e passivo. Constatamos que os meios mudaram muito de lá para cá, as técnicas evoluíram, mas o elemento humano continua tão ou mais corruptível, o que torna Rede de Intrigas infelizmente atual. – por Marcelo Müller

 

Todos os Homens do Presidente (All the President’s Men, 1976)
O caso Watergate foi um dos episódios mais polêmicos da história política dos Estados Unidos e levou o presidente Richard Nixon a renunciar durante seu segundo mandato, em 1974. Quem revelou a conspiração e ajudou a derrubar Nixon e seus comparsas foi uma dupla de jornalistas novatos do Washington Post que, com grande faro para a investigação, desvendaram o mistério guardado a sete chaves por seus idealizadores. Uma história como essa daria um excelente filme e, tendo isso em vista, apenas dois anos após a renúncia do presidente, Todos os Homens do Presidente chegava aos cinemas. Produzido por Robert Redford, que também atua no filme como um dos repórteres, o longa-metragem é um bom exemplo de como trabalhar corretamente em cima de uma história verídica. O roteiro é adaptado do livro de Bob Woodward e Carl Bernstein, os jornalistas que investigaram e escreverem a matéria sobre o caso Watergate, e é assinado por William Goldman. No papel dos autores da trama, Redford e Dustin Hoffman. A direção é de Alan J. Pakula, uma escolha totalmente acertada para comandar este suspense político. O diretor consegue imprimir um ritmo sufocante a trama, mesmo que já saibamos previamente o que acontecerá. Sabemos que Nixon renuncia no final, que os envolvidos no caso Watergate tinham rabo preso e que os jornalistas que escreveram esta matéria estão vivos e bem. Mesmo assim, a narrativa é totalmente imersiva. Para quem estuda jornalismo, Todos os Homens do Presidente é uma verdadeira aula de como se exerce a profissão. – por Rodrigo de Oliveira

 

Superman: O Filme (Superman, 1978)
Ele voa, tem uma força sobre-humana, visão de raio-x, sopro de gelo e raios laser nos olhos. Mas basta arrumar o cabelo diferente e colocar seus óculos e ele torna-se apenas um jornalista. Este é Clark Kent (Christopher Reeve), que esconde sobre a fachada de bom moço pateta, a identidade secreta do Superman, um super-herói de escala global – alguns diriam, como apontado em Kill Bill: Volume 2 (2004), que é o contrário, sendo o herói a esconder a identidade de Kent. Eternamente apaixonado pela colega Lois Lane (Margot Kidder), Clark é um ser natural do planeta Krypton, que devido a um desastre natural, foi extinto. Enviado pelos pais antes do acontecido para a Terra, o menino extraterrestre cresceu entre os humanos para se tornar o super herói que viríamos a conhecer, enfrentando no caminho o decidido vilão Lex Luthor (Gene Hackman). O filme de Richard Donner é divertido e leve, tendo faturado o Oscar de efeitos visuais na época, representando também uma das primeiras e bem sucedidas adaptações e heróis dos quadrinhos para a telona, além de um retrato leve e interessante do trabalho jornalístico. – por Yuri Correa

 

A Síndrome da China (The China Syndrome, 1979)
Uma equipe de televisão presencia acidente em uma usina nuclear, filma a quase-tragédia, mas é proibida de veicular o ocorrido. A sinopse de A Síndrome da China, apesar de simples, dá conta das várias problemáticas abordadas no filme de James Bridges: os perigos envolvendo radioatividade, as artimanhas do governo para tentar encobrir a história e as questões éticas envolvendo filmagens não autorizadas. Esta última é a mais interessante. Afinal, a repórter Kimberly Wells (Jane Fonda) e seu cinegrafista Richard Adams (Michael Douglas) devem ou não revelar a verdade ao público, mesmo sem o consentimento da própria emissora? O dilema vai muito além do aspecto profissional, mostrando o lado humano do jornalismo ao narrar os diferentes pontos de vista da questão, especialmente do engenheiro Jack Godell (Jack Lemmon), que também questiona onde foi parar a real natureza do seu trabalho. Um interessante estudo sobre as questões de interesse público que tanto permeiam o jornalismo e que são estudadas a fio na academia, mas que parecem se perder no dia a dia da prática. – por Matheus Bonez

 

O Quarto Poder (Mad City, 1997)
Um segurança desesperado. Uma turma escolar inteira mantida sob sequestro. Um jornalista que visualiza nesta situação uma oportunidade de ouro para sua carreira. Nas mãos de um cineasta menos inexperiente, teríamos aqui todos os elementos para um desastre cinematográfico – mais ou menos como o equivocado Nick Cassavetes fez no constrangedor Um Ato de Coragem (2002). Mas quem está sob o comando é o genial Costa-Gavras, que elegeu dois dos maiores astros de Hollywood da época – Dustin Hoffman, como o repórter, e John Travolta, como o homem pronto para medidas extremas – e fez deste um dos melhores thrillers sobre o jornalismo. Travolta, que aparentemente é o vilão – ou seja, o responsável pelo ato criminoso – consegue com bastante habilidade reverter a opinião do público a seu favor, ao mesmo tempo em que vai revelando seus motivos e fraquezas. Hoffman, por outro lado, de operário da notícia, aos poucos começa a manipulá-la de acordo com os seus interesses pessoais, abrindo um valioso espaço para discutir ética e moral na profissão. E Costa-Gavras constrói um cenário em que nenhuma resposta é fácil, independente de qual lado da tela você esteja. Afinal, qual é a verdadeira dimensão do poder da mídia? – por Robledo Milani

 

O Informante (The Insider, 1999)
Fama tem uma vida de quinze minutos. Infâmia dura um pouco mais”, diz um personagem em determinado momento de O Informante, obra-prima de Michael Mann. Baseado em uma história real, o filme retrata como Jeffrey Wigand (Russell Crowe), com a ajuda de Lowell Bergman (Al Pacino), produtor do telejornal 60 Minutos, buscou tornar público o fato de que as empresas de tabaco não só sabiam do mal que seus produtos poderiam causar, mas também os manipulavam de forma a deixar as pessoas mais dependentes à nicotina. No entanto, a própria emissora do programa veio a meter o dedo na história, fazendo-a ir ao ar com sua importância diminuída e com seu informante correndo o risco de ter seus esforços jogados no lixo. Com um elenco afinadíssimo, em especial Crowe, Pacino e Christopher Plummer, O Informante se mostra envolvente e fascinante no modo como mostra os caminhos árduos pelos quais uma notícia pode passar até chegar ao público, e de como os interesses de determinadas pessoas acabam influenciando na maneira como ela será levada ao ar, com a verdade sendo essencialmente deixada de lado. Sem dúvida, é um grande filme sobre jornalismo com instigantes disputas morais e éticas. – por Thomás Boeira

 

O Custo da Coragem (Veronica Guerin, 2003)
Joel Schumacher tem uma carreira extremamente questionável e repleta de péssimas realizações, porém O Custo da Coragem não é uma delas. Este drama biográfico, que talvez seja o melhor esforço cinematográfico do cineasta, apresenta em notas trágicas um retrato da jornalista irlandesa Veronica Guerin, responsável pela denúncia de um poderoso cartel de drogas na Dublin dos anos 1990. Sem medir esforços e ignorando ameaças e consequentes retaliações, esta corajosa e irreprimível mulher ganha contornos ainda maiores sob a pele de Cate Banchett, que desenvolve toda a dualidade entre egoísmo e altruísmo das ações de sua personagem, amplificando o caráter singular dessa notável mulher. Escrito por Carol Doyle e Mary Agnes Donaghue, O Custo da Coragem retrata fidedignamente os perigos do jornalismo investigativo e sua capacidade em influenciar mudanças sociais, transformar a opinião pública e moldar a história. O filme vai além da mera advertência ao enfrentamento a instituições poderosas e corruptas e demonstra a capacidade de algumas pessoas, muito iluminadas e destemidas, em se posicionar e combater os males contemporâneos com as armas que possuem. No caso de Guerin, sua arma era a palavra. – por Conrado Heoli

 

O Preço da Coragem (A Mighty Heart, 2007)
Provavelmente muitos lembrem deste filme como a melhor atuação de Angelina Jolie nas telonas por sua face desglamurizada, mas o pano de fundo de O Preço da Coragem é de caráter emergencial sobre as investigações jornalísticas no Oriente Médio, onde a liberdade de imprensa é praticamente nula. Ao focar suas atenções na busca de Mariane Pearl (personagem de Jolie) por seu marido, um jornalista sequestrado durante a apuração da guerra e o suposto encontro com um homem-bomba, o longa de Michael Winterbottom mostra os perigos aos quais a profissão está submetida em zonas de conflito. Não é segredo revelar que Daniel, seu marido, foi morto de forma cruel semanas depois por um grupo terrorista. Situação que realmente ocorreu na vida real dos protagonistas da história e que é similar a de muitos outros correspondentes de guerra. Por sinal, a própria investigação de Mariane e seus colegas é um relato puramente jornalístico, onde a emoção está imersa na objetividade de tal feito. Uma produção impressionante por sua veracidade e, especialmente, por denunciar a falta de atenção dirigida ao trabalho dos repórteres não apenas durante guerras, mas quando em conflito com os interesses de grupos criminosos e/ou ideológicos. – por Matheus Bonez

backup

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *