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Sinopse

Max Simkin é dono de uma sapataria que há gerações pertence à sua família. Cansado da rotina que leva, e acostumado a resolver somente os problemas das outras pessoas, ele encontra a chance de mudar sua própria vida, ou pelo menos, viver a de outras pessoas. Usando uma antiga relíquia para consertar sapatos, Max descobre que pode enxergar tudo o que os donos dos calçados vêem, e para isso, basta colocá-los em seus pés.

Crítica

Ainda na pegada que o fez receber uma “segunda fama” de ator dramático, Adam Sandler protagoniza o mais recente filme do alternativo Tom McCarthy, cuja temática se assemelha às dramédias ácidas e ao nonsense que fez há um bom tempo, como Click (2006) e Reine Sobre Mim (2007), ainda que seu teor seja bem menos expositivo comicamente. O ex-astro do Saturday Night Live vive Max Simkin, um sapateiro de comportamento melancólico. Essa composição faz lembrar demais sua faceta em Homens, Mulheres e Filhos (2014) e no último trabalho em parceira com Judd Apatow, Tá Rindo de Que? (2009). Ainda que em Trocando os Pés o comediante comece sua atuação em um tom mais sombrio de depressivo.

Os momentos pregressos à ação moderna da fita mostram um encontro estranho entre pessoas cuja origem é um tremendo mistério. Elas discutem eventos possivelmente mágicos que só vão ganhar contornos reais em tempos mais atuais, quando o resignado sapateiro encara seus serviços. A loja de consertos de calçados está em sua família há anos, e não mais do que de repente ele arruma uma fuga para a sua medíocre rotina através de uma máquina que o permite mudar de corpo de acordo com os sapatos que veste, abrindo assim uma gama enorme de desventuras em torno, é claro, das descobertas de identidade.

O número de atores que copiam os trejeitos e maneirismos de Sandler faz uma espécie de ode ao modo de atuar do astro, por vezes menosprezada ao extremo pela crítica de cinema mundial. Personalidades como Dustin Hoffman emprestam seu talento e sobriedade neste filme para revelar a miséria existencial presente no cotidiano de Max, eco emocional de uma autoestima abalada e de um subconsciente fragilizado. Essas ocorrências são decorridas dos abandonos que sofreu a vida inteira, mas que não o impediam de viver um altruísmo raríssimo, capaz de se “fantasiar” para agradar sua convalescente mãe. O uso das máscaras começa para atender alguns fetiches lugar-comum, mas prevalece a corrida por obras cujo louvor é a honra e ao ethos, trabalhando até como justiceiro.

A trilha sonora burlesca serve de rima narrativa junto à trama, que torna-se cada vez mais curiosa e idílica com o decorrer da fita. Neste processo, assemelha-se o modo de contar a história a comédias absurdas, como o antigo seriado Pushing Daisies (2007-2009). O enredo envolvendo o crime organizado é demasiado fantasioso, e faz o filme perder um pouco de força, mas não ao ponto de comprometer o carisma da singela história.

Próximo ao final, todo o legado é revelado por meio do pai de Max, Abraham (Hoffman), que revela um novo mundo de comércio ligado ao bizarro, além de demonstrar que a condição de “consertador” está presente nas ações do clã Simkin há muitas gerações, aspecto que serviria para amenizar a ausência paterna ocorrida até então. Sem grandes pretensões de ser um produto de extremo renovo, Trocando os Pés entrega um conto de fácil identificação e empatia, calcado, claro, na força de seu protagonista, mas sem abusar de piadas escatológicas e/ou físicas típicas das parcerias antigas de Adam Sandler. Ao contrário, apresenta uma agridoce mensagem de aceitação mútua e própria, sem ferir grandemente o bom gosto cinéfilo.

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é Jornalista, Escritor e Editor do site Vortex Cultural (www.vortexcultural.com.br). Quer salvar o mundo, desde que não demore muito e é apaixonado por Cinema, Literatura, Mulheres, Rock and Roll e Psicanalise, não necessariamente nessa ordem.
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