Crítica


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Sinopse

Em um cenário de total decadência social e dificuldade para manter a ordem entre as pessoas, um policial busca vingança após seu parceiro ser assassinado junto com a mulher e o filho. Max passa a ser juiz, júri e executor da sentença dos criminosos.

Crítica

Num futuro não muito distante, é nas estradas que se resolvem a maior parte dos conflitos entre bandidos e policiais. As cidades estão em rápido processo de deterioração, causado por uma crise generalizada. No asfalto, geralmente em alta velocidade, se define quem vive e quem morre. Os crimes são cometidos muitas vezes em função da escassez de combustível, da gasolina que impulsionava e agora faz falta. Em Mad Max, nem sempre dá para diferenciar, sem enganos, os bons e os maus. Max (Mel Gibson, então jovem e desconhecido), policial que mais adiante vai sofrer o pão que o diabo amassou e retribuir na mesma moeda, decide dar um tempo da corporação antes que se torne tão desequilibrado quanto os motoqueiros nômades que tocam o terror sob a liderança de Toecutter (Hugh Keays-Byrne).

As primeiras sequências apresentam a perseguição a um delinquente que acelera seu V8 pelas rodovias australianas. Mesmo habilidosos, os policiais nada podem fazer, caindo pelo caminho, um a um. Paralela à caçada, a câmera capta detalhes dos preparativos de Max para entrar na jogada. A combinação mostra que estamos diante de alguém diferente, de um homem da lei com condições que o colocam à frente não apenas de seus colegas, mas também do banditismo a ser combatido. Não há economia na violência, vemos tudo acontecer como consequência natural da realidade em colapso. Os atos de barbárie, dos motoqueiros e dos policiais, contam a história dessa humanidade diante de novos horizontes desconhecidos e imprevisíveis.

Mad Max retrata um mundo adoecido e, por isso mesmo, vulnerável.  A direção de arte cria com muita habilidade uma inconfundível atmosfera retrô-futurista. Nada de carros voadores, inteligências artificiais, raios laser e viagens interplanetárias. O amanhã desenhado por Miller é, na verdade, retrógrado. O sangue escorre pelas rodovias poeirentas como sinal desse tempo. Nesse cenário, Max reafirma a suspeita anterior, de que mocinhos e bandidos diferenciam-se apenas por usar ou não um distintivo, ao tomar o caminho da vingança após a morte da mulher e da filha. Não importa se cabeças rolarem, se mais pessoas se perderem entre um ponto e outro, desde que se vá à forra contra o mal, de preferência com as próprias mãos. No fim das contas, todos são praticamente iguais, já que não há contenção antes de puxar o gatilho, de investir contra a vida alheia.

De um lado o binômio moral e ética, do outro o instinto de sobrevivência. No meio, a justiça definhando. Fora toda essa contextualização, o filme de George Miller, que viria a ter sequências mais grandiloquentes, é um ótimo exemplar de ação, principalmente no que diz respeito às cenas de estrada. O ronco dos motores é, ao mesmo tempo, sinal de poder e agonia, disto porque evidencia a extinção cada vez mais próxima da gasolina e, por consequência, da civilização construída com o auxílio de sua força. Os carros, extensão tecnológica dos motoristas, são os meios pelos quais, e em virtude dos quais, a trama avança ritmicamente tão carregada de tensão. Menos eficiente nas passagens um tanto desnecessárias do breve idílio amoroso de Max com a esposa, Mad Max garante a força que o sustenta até hoje, entre outras coisas, pela maneira como prediz um futuro apocalíptico em diversos aspectos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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