Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald

12 ANOS 109 minutos
Direção:
Título original: Fantastic Beasts: The Crimes of Grindelwald
Ano: 2018
País de origem: EUA / Inglaterra

Crítica

5

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Sinopse

Newt Scamander reencontra os queridos amigos Tina Goldstein, Queenie Goldstein e Jacob Kowalski. Ele é recrutado pelo seu antigo professor em Hogwarts, Alvo Dumbledore, para enfrentar o terrível bruxo das trevas Gellert Grindelwald, que escapou da custódia da MACUSA (Ministério da Magia dos EUA) e reúne seguidores, dividindo o mundo entre magos sangue puro e seres não-mágicos.

Crítica

Ainda antes dos créditos de abertura de Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald, segunda aventura da saga que dá continuidade ao Mundo Mágico de J. K. Rowling, o personagem-título empreende uma fuga fantástica da prisão ao ser transferido de Nova York para Londres. Com isso, encerra-se o capítulo norte-americano, para voltar-se, mais uma vez, aos ambientes europeus tão característicos na série Harry Potter. Grindelwald, agora definitivamente sob o rosto de Johnny Depp (após ter dividido a composição com Colin Farrell no longa anterior), está à solta, e aparentemente, tentam vendê-lo como a encarnação do mal absoluto. No entanto, como fazer frente ao de fato assustador Voldemort (Ralph Fiennes) que tanto se esforçou para acabar com a raça do menino-bruxo? Ainda mais diante dos modos educados e métodos elaborados de conquista desse inimigo, que demonstra estar preocupado, sim, em reatar laços do passado, e não apenas em ambições megalômanas, como conquistar o mundo ou eliminar qualquer tipo de oposição. E é neste cenário que o diretor David Yates tenta inserir o herói ao acaso Newt Scamander (Eddie Redmayne), uma figura não desprovida de talento, mas de alcance tão limitado que chega a ser curioso perceber a sua inadequação diante de desafios muito além dos seus méritos.

Após o rebuliço em que se envolveu na América, Scamander ficou proibido de realizar viagens internacionais pelo Ministério da Magia Inglês, mesmo contando com o apoio do irmão, Theseus (Callum Turner, de Apenas um Garoto em Nova York, 2017), um renomado profissional do governo. E isso se deve, basicamente, pela recusa de Newt em colaborar com a captura de Credence (Ezra Miller), que descobre não apenas estar vivo, mas mais poderoso do que nunca, enquanto parte atrás das suas origens. Quem também está atrás do garoto é Grindelwald, que segue com a intenção de atrair o jovem órfão para a sua causa, para poder fazer uso do potencial do menino a seu bel prazer. Mas eles não estão sozinhos, e mais uma figura está disposta a interferir de forma decisiva nessa busca: ninguém menos do que Alvo Dumbledore (Jude Law). O futuro diretor da Escola Hogwarts nesse ponto da história não é mais do que professor de Defesa contra a Arte das Trevas, e, além de ter sido tutor de Newt (a quem trata como protegido), foi colega do próprio Grindelwald. As ligações entre essas duas duplas – Dumbledore e Scamander no momento presente, e Dumbledore e Grindelwald no passado – compõem o cerne desta trama.

David Yates era não mais do que diretor de televisão, responsável por séries como State of Play (2003) – premiada no Bafta e refilmada em Hollywood como o thriller Intrigas de Estado (2009) – ou telefilmes como The Girl in the Café (2005) – indicada ao Globo de Ouro e vencedora de 3 Emmys – quando foi alçado à posição de grande nome por trás das adaptações cinematográficas dos livros de J. K. Rowling a partir de Harry Potter e a Ordem da Fênix (2007). Ele não só dirigiu os longas seguintes da série, como também está confirmado para todos os títulos da saga Animais Fantásticos. E se no começo se demonstrava um tanto inseguro para tamanho desafio, a repetição tem lhe feito bem, a ponto de agora revelar mais segurança diante do tamanho e das ambições deste episódio. Diferente, no entanto, da própria Rowling, que desde Animais Fantásticos e Onde Habitam (2016) assumiu, também, a função de roteirista. Afinal, uma coisa é escrever um romance, em que a riqueza de detalhes e nuances fazem a diferença. Outra, bem diferente, é redigir um roteiro, no qual a capacidade de concisão e a habilidade em reduzir movimentos é que determinam a agilidade e o dinamismo do produto final. São movimentos opostos, algo que não parece estar muito claro para a escritora. Como resultado, se verifica mais uma vez uma vontade evidente em inserir o máximo possível de subtramas e elementos paralelos, não mais do que distrações em uma história que ganharia com uma maior objetividade e uma eliminação de tantos pormenores que em nada contribuem com o desenrolar dos acontecimentos.

Um bom exemplo disso é a presença do no-maj (não-bruxo) Jacob Kowalski (Dan Fogler), que antes até funcionava como ligação com o mundo real, mas que a partir do mergulho nos dilemas dessa fantasia se verifica uma presença descartável e sem muita utilidade. A desculpa utilizada para o tirarem de Nova York e o levarem até a Europa é absurdamente gratuita, uma vez que logo é descartada pelo abandono daquela que por ele se dizia enamorada, Queenie (Alison Sudol). A própria trajetória dela, que acaba seduzida por uma outra possibilidade de existência, se revela fraca: afinal, ela faria tudo o que empreende sem nem ao menos conversar com a irmã (Katherine Waterston), com quem parecia ser tão ligada? E o que tem a ganhar, de fato, com tamanha mudança de posição, se nem parece mais se importar com o homem que a levou a tal atitude? Por outro lado, o suposto romance entre Tina (Waterston) e Newt mostra mais uma vez ter pouca empatia, dada a dificuldade em avançar em meio a tantos eventos e poucos resultados. A inserção passageira da personagem de Leta Lestrange pode até causar algum efeito entre os defensores do casal ou junto aos aficionados que encontram no sobrenome da antiga colega dele um aviso de complicações futuras, mas na prática tudo o que verificamos é a presença desperdiçada de uma atriz como Zoe Kravitz.

Animais Fantásticos: Os Crimes de Grindelwald chega aos cinemas com o anúncio de ser um capítulo mais sombrio do que o segmento anterior, e tal aviso faz sentido dentro da ótica deste universo – basta conferir os filmes conduzidos por Harry Potter, cada um mais perturbador do que o seu antecessor. No entanto, como foi confirmado que esta é uma franquia que se desenvolverá ao longo de cinco capítulos, o certo é que não se está nem na metade do enredo a ser desenvolvido, e há muito no que se aprofundar ainda. E se continuamos com poucos ‘animais fantásticos’ em posição de destaque (o gato gigante chinês é o único a ter alguma atenção), desta vez o título se mostra equivocado também em relação ao próprio Grindelwald, alguém que até pode ladrar, mas que aqui, ao menos, pouco morde. Seus ‘crimes’, tão alardeados, ou são apenas citados, ou não mais do que sugeridos. Por fim, o que resta como ponto positivo é a indicação de que, talvez, seja ele somente uma figura trágica, que sofre por um amor perdido – ou talvez não correspondido. Os indícios são evidentes, e até declarados (como ignorar a afirmação de que “nós éramos mais do que irmãos”?). A expectativa, agora, reside na esperança de que seja esse o caminho a ser perseguido. Isso, sim, é que faria a diferença e seria capaz de elevar Animais Fantásticos a não mais do que um mero caça-níqueis, justificando a existência de toda a série.

Robledo Milani

é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.

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