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Sinopse

Dina Rocha é uma simpática e desastrada velhinha, que tem três filhos: Marcos Vinícius, César e Marcelo.  Eles vivem discutindo sobre quem deve cuidar da mãe. Durante uma das brigas ela desaparece, sem que os filhos percebam. À sua procura, logo ficam sabendo que no IML deu entrada uma velhinha atropelada por um ônibus, cuja descrição é muito parecida com a da mãe. Enquanto preparam o velório, dona Dina segue viva e precisa lidar com dois sequestradores desastrados.

Crítica

Há filmes ruins. Há aqueles péssimos. E há A Guerra dos Rocha. É preciso criar um novo ‘grau de ruindade’ para poder avaliar corretamente o terceiro longa dirigido por Jorge Fernando. Depois do mediano Sexo, Amor e Traição (2004) e do infantil Xuxa Gêmeas (2006), ele entrega agora uma obra amadora, indigna do elenco ou dos talentos envolvidos por trás das câmeras. É uma vergonha total, do início ao fim. Certamente o pior filme lançado nos cinemas brasileiros durante este ano, faria feio até mesmo numa mostra universitária. De chorar – ou rir – de tão ruim.

Talvez essa fosse a idéia: fazer algo tão constrangedor que acabasse provocando graça. Há quem se divirta com o trash, não? E nada por ser mais bizarro do que Ary Fontoura como uma velha octogenária, não mesmo? Aliás, não há razão alguma para a escolha do veterano ator para este papel feminino – por que não investir numa das tantas atrizes de terceira idade que temos? Talvez seja como forma de desculpa que aconteça um verdadeiro desfile de simpáticas – e históricas – velhinhas mais no final da trama. Aliás, é a presença delas que salva este filme do “0” total e absoluto!

Lembrando produções de humor negro como Parente é Serpente, produção italiana de 1992 dirigida pelo mestre Mario Monicelli, A Guerra dos Rocha mostra, aos trancos e barrancos, como os três filhos da velha – e suas respectivas famílias – lutam para se esquivar da presença dela, jogando-a de um lado ao outro. Ao perceber que não é querida, acaba indo parar na casa de uma amiga. Lá as duas terminam por serem assaltadas e mantidas como refém de dois assaltantes chapados. Enquanto isso, quando se dão conta da ausência da matriarca, os descendentes dela passam a procurá-la por todos os lados, e acabam por confundi-la com outro corpo no necrotério, providenciando, assim, um funeral às pressas. Quando tudo é esclarecido, a senhora descobre que o que todos querem é saber de sua suposta herança, e pra provar que ganância não leva a lugar nenhum ela decide partilhar de uma vez seu maior tesouro – os bons momentos que passaram juntos!

Se o breve resumo não lhe revirou o estômago, que ao menos sirva como alerta. O texto de Maria Carmem Barbosa – estreando no cinema, após novelas como A Lua me Disse (1990) e Salsa e Merengue (1996) e humorísticos como Sai de Baixo (1996) e Toma Lá Dá Cá (2007) – é puro clichê, com soluções óbvias, personagens rasos e motivações pífias. Outro problema é o elenco, totalmente fora de controle. Grandes nomes, como Giulia Gam e Taís Araújo, estão completamente fora de sintonia, exageradas ou simplesmente perdidas. Os ‘filhos’ Diogo Vilela (sem expressão de tanto botox!), Marcello Antony (deslocado) e Lúcio Mauro Filho (sem nenhuma orientação) são vergonhosos, e os demais coadjuvantes – uma irreconhecível Ludmila Dayer, Ângelo Paes Leme e Zéu Britto perdidos, Nicette Bruno esforçada, Felipe Dylon brincando de ser ator – parecem estar numa grande festa, deixando claro que a diversão do lado de lá da tela foi muito maior do que a proporcionada a quem cumpre a triste missão de assisti-los.

O cinema brasileiro é cheio de (poucos) altos e (muitos) baixos. Neste ano, mesmo, para cada Era Uma Vez (2008) e Linha de Passe (2008), há vários  Sexo com Amor? (2008), por exemplo. Mas nada se compara a A Guerra dos Rocha, indiscutivelmente a maior vergonha feita no nosso país em muito tempo. O melhor não é esquecê-lo. O ideal, mesmo, seria enterrá-lo, destruir todas as cópias e proibir qualquer reprodução. Para o bem geral de todos!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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