Crítica
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Sinopse
David e Patrick decidiram se casar. Alexis não decidiu se irá se mudar com Ted. Johnny assume o controle de expansão dos hotéis Rosebud. E Moira vislumbra um futuro grandioso para a família!
Crítica
O argumento, em si, não é dos mais originais: pobres que viram ricos – ou ricos que ficam pobres, como é o caso por aqui – de uma hora pra outra são tão comuns na ficção que já estiveram até em novela da Rede Globo (quem por aí lembra de Brega & Chique, 1987?). Então, é bom deixar isso claro de imediato: não é por onde começa que Schitt’s Creek irá conquistar o espectador. Aliás, muito pelo contrário. Afinal, esse é um caso raro de série cujo sucesso foi crescendo à medida em que as temporadas foram se passando, até chegarmos a esta sexta e última, que se tornou um dos maiores fenômenos da história do Emmy (o Oscar da televisão norte-americana), tendo conquistado nada menos do que 9 das 15 indicações recebidas! E com 100% de aproveitamento nas mais disputadas: Melhor Série, Ator, Atriz, Ator Coadjuvante, Atriz Coadjuvante, Direção, Roteiro e Elenco, todos em Comédia! O mais curioso disso tudo? É constatar que ainda foi pouco!
Sim, é possível dizer que o programa merecia mais, pois toda essa avalanche de troféus veio com certo atraso. Afinal, as quatro primeiras temporadas receberam quase nenhuma atenção nas premiações norte-americanas, por mais que já viessem se destacando... no Canadá (a série foi inteiramente filmada em Toronto e arredores de Ontário). Presença constante no Canadian Screen Awards, Canadian Cinema Editors Awards, Canadian Comedy Awards e Directors Guild of Canada, entre outros, só começou a ser lembrado pelo Critics Choice, Screen Actors Guild of America e Emmy a partir da quinta leva de episódios. E por mais que o show demonstre grandes acertos desde o seu primeiro ano, a trama vai se desenvolvendo num crescente. Se no começo é divertida, aos poucos vai ficando cada vez mais relevante em sua narrativa, assertiva em cada nova decisão e profunda no desenvolvimento dos seus principais personagens. Sabe ser leve e descontraída quando necessária, sem nunca perder de foco seus principais interesses. E, justamente por isso, vai se tornando melhor, até chegarmos a essa sexta temporada, praticamente perfeita, encerrando uma trajetória que não poderia ter sido mais iluminada.
E se a maioria pegou esse ‘bonde’ quando já estava em plena velocidade, é bem-vinda uma contextualização. A família Rose, milionária, acaba perdendo tudo que tinha ao ser vítima de um golpe do contador. Quer dizer, quase tudo: como a dívida é com o governo, devido a impostos atrasados, a eles é permitido ficar apenas com uma única propriedade, para onde acabam se mudando: a minúscula cidade de Schitt’s Creek, que o pai, Johnny (Eugene Levy), comprou numa aposta com o filho, David (Dan Levy, filho de Eugene na vida real e criador da série), anos atrás – e nem mais se lembrava! Como esse lugar esquecido por todos acaba sendo tudo o que lhes resta, se vêem obrigados a irem para lá e, aos poucos, vão se familiarizando com os costumes locais. Johnny sonha em recuperar o status de antes, e para isso precisa desenvolver outros negócios, em especial com a administração do próprio hotel de beira de estrada onde acabam indo morar. David abre uma loja, Alexis (Annie Murphy), a filha, volta a estudar, e Moira (Catherine O’Hara), a mãe e esposa, termina como vereadora local – ao mesmo tempo em que segue sonhando com o sucesso da juventude, quando chegou a se arriscar como atriz de relativo sucesso.
Além do que cada um deles faz, no entanto, são os caminhos que percorrem que serão determinantes para garantir a atenção – e a admiração – da audiência. Tanto é que, apesar do plano original de contar com apenas cinco temporadas, essa última acabou se dividindo em dois anos, após a renovação da quarta leva – que já era bastante superior às três anteriores. Eugene Levy oferece uma grandeza justa ao patriarca Johnny Rose, aliada a uma humildade cheia de sentimentos e sensibilidades. Ele é o coração da família, o que se preocupa com todos e que, apesar das adversidades que estão vivendo, segue preferindo enxergar o copo “meio cheio” – tanto é que é o único a ver algo positivo nos quatro estarem morando em dois quartos conectados (é a primeira vez, em muitos anos, que estão todos reunidos). Levy sabe ser duro quando necessário – principalmente em suas interações com o prefeito Roland Schitt (Chris Elliott, sempre um tom acima do necessário) ou com o mecânico Bob (John Hemphill, um tipo simplório, mas surpreendente). Ao se associar à Stevie (Emily Hampshire, a grande coadjuvante da trama, cuja história estará ligada aos quatro Rose do início ao fim do programa) na condução do motel, surge o empreendimento Rosebud e a possibilidade de retornarem ao antigo status. Está nas costas dele, sabe bem, mas será que realmente quer que tudo volte a ser como antes?
Annie Murphy, uma mulher de fato deslumbrante, é a grande surpresa pelo talento cômico que revela em cena. Entre as duas paixões – Mutt (Tim Rozon, mal aproveitado), que há muito ficou para trás, e Ted (Dustin Milligan, perfeito entre o nerd e o sexy), seu verdadeiro amor – que via mais como um meio de sair dali (um recurso que sempre usou), aos poucos vai descobrindo ser uma mulher de muito potencial – e o melhor, sem precisar de um homem ao seu lado para, enfim, se encontrar. Em caminho inverso, o irmão David – Dan constrói um tipo eficiente, porém repetitivo, deixando claro que seus méritos são maiores nos bastidores do que em frente às câmeras – finalmente começa a dizer a que veio com o início de sua relação com Patrick (Noah Reid, servindo de contraponto perfeito ao namorado – enquanto um é extravagante e inseguro, ele é a rocha, sólida e ordinária). O casamento dos dois, aliás, irá determinar o andamento desse último ano, delineando o fim dessa jornada familiar e estabelecendo as indicações necessárias para que cada um siga em frente, não mais como crianças mimadas, mas adultos maduros e cientes de seus anseios e responsabilidades.
Por fim, quem temos? Moira (Catherine O’Hara é praticamente uma entidade, estando acima do bem e do mal, em uma criação nunca menos do que certeira) já viveu dias piores, e sabe que tudo o que estão vivendo agora será não mais do que uma nota de rodapé em suas histórias. Da emoção pelo novo filme (quem não morre de curiosidade em assistir à Os Corvos tem Olhos 3?) à impaciência educada que faz questão de manifestar toda vez que se vê obrigada a lidar com Jocelyn (Jennifer Robertson, a primeira-dama) ou Ronnie (Karen Robinson, a quem menos paciência tem em toda a cidade), ela é tanto a transformação constante – basta prestar atenção no figurino exótico ou em cada uma das suas bebês (as perucas!) – como aquela que nada precisa abrir mão para ser exatamente o que é, a que tem um destino claro a seguir e com quem trilhar. Ela está tanto no centro da família como além dessa, apegada e independente. Retrato delicioso de um grupo do qual nunca se sabe o que esperar, além da certeza de que, indiferente a tudo e todos, sempre encontrarão um novo trajeto a ser percorrido. Encerrar uma jornada na hora certa é demonstração de sabedoria, mas também é quase impossível evitar uma sensação agridoce nessa partida: impossível não querer mais. Mas assim como Twyla (Sarah Levy, filha de Eugene e irmã de Dan) – a que nada precisa, mas tudo faz – ensina: há o momento certo de seguir, mas também o de parar. E um é tão importante quanto o outro.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Robledo Milani | 10 |
Daniel Oliveira | 8 |
Rodrigo de Oliveira | 9 |
MÉDIA | 9 |