Crítica


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Sinopse

Daniel Rand é um bilionário, herdeiro da fortuna das Indústrias Rayne. Por 15 anos, todos acreditaram que ele estava morto, após um acidente de avião no Himalaia que vitimou seus pais, Wendell e Heather Rand. Mas Danny foi salvo e viveu todo esse tempo na cidade mística de K'un-Lun, uma das Sete Capitais do Céu. Lá, Danny aprendeu a canalizar o seu chi e se tornou o Punho de Ferro. De volta a Nova York, ele vai tentar retomar seu posto na empresa, agora sob o comando de seus amigos de infância.

Crítica

Toda fórmula mágica se desgasta. No caso da Marvel, os filmes do estúdio tiveram um boom desde o primeiro Homem de Ferro (2008), há quase dez anos, alguns títulos mais interessantes e diferenciados (Capitão América 2: O Soldado Invernal e Guardiões da Galáxia, ambos de 2014), e os que seguiram bebendo automaticamente na mesma linha narrativa, ainda que uns divertidos e outros mais do mesmo. Quando a série Demolidor foi lançada pela Netflix, há dois anos, se viu que o tratamento para os heróis urbanos seria outro. Logo veio Jessica Jones, no mesmo 2015, e Luke Cage, no ano passado. Ainda que as tramas fossem mais humanizadas e até complexas, não foi suficiente para que a curva de elogios diminuísse a cada lançamento. Não é de se espantar​, então, que o novo Punho de Ferro tenha tido olhares tortos desde a divulgação do primeiro teaser, alguns meses atrás. Mas os comentários negativos são justificados? Nem tanto assim, embora haja um fundo de razão.

Assim como suas predecessoras, a série tem 13 episódios. Acompanhamos a jornada de Danny Rand (Finn Jones), caçula da família que dá nome a uma mega empresa bilionária, que foi dado como morto após um acidente de avião com seu pais, há 13 anos. Ele retorna, tenta entrar em contato com seus amigos de infância, Joy e Wars Meachum (Jessica Stroup e Tom Pelphrey, respectivamente), agora comandantes da corporação, mas ninguém acredita que ele é, claro, o Danny Rand de verdade. Esse é apenas o início das histórias que vão indo e vindo em várias reviravoltas, apresentando novos personagens, como Colleen Wing (Jessica Henwick), a lutadora que será a grande parceira de Danny, o supostamente falecido Harold Meachum (David Wenham), sócio de seu pai, entre muitos outros. Além, é claro, dos já conhecidos das series anteriores, como Madame Gao (Wai Ching Ho), uma das cabeças do Tentáculo em Nova York, e a enfermeira onipresente Claire Temple (Rosario Dawson). Todos têm sua importância no grande quebra-cabeça montado para desvendar os rumos da série. E, claro, nesse caminho, nem tudo são flores. Tanto para o protagonista quanto para o público.


A trama é bem escrita. Sai um pouco do âmbito totalmente urbano de DD, JJ e LC, e, ainda assim, consegue tocar nos pontos mais humanos dos personagens, desenvolvendo bem cada um deles. Alguns acharam "muito lerdos" determinados episódios por conta disso, mas não dá para dizer que os personagens principais ficaram sem definição. E o elenco central está muito bem, especialmente o núcleo dos Meachum. Joy, Ward e Harold passam por jornadas aprofundadas que envolvem muito menos as cenas de ação, deixando o público criar empatia (ou não) por eles graças ao desenvolvimento. De mocinhos a vilões e vice-versa, há muita culpa, traumas, vontades renegadas que afloram. Talvez o mais problemático seja, justamente, o protagonista. Finn Jones, o Loras de Game of Thrones, bem que tenta, mas o roteiro às vezes parece querer seu personagem numa eterna dúvida sobre quem ele é (Danny Rand, Punho de Ferro ou ambos?), o que acaba prejudicando muito seu timing na tela.

Sim, a história parece a do Arrow, da DC. Jovem loiro de família rica dona de uma empresa bilionária perde a família num acidente e fica isolado do mundo real por anos, até voltar e descobrir que foi dado como morto. Infelizmente​, a origem de vários personagens de HQs são iguais. Com isso, vale lembrar que Rand é, realmente, caucasiano, por isso, nem vamos entrar no mérito da apropriação cultural sobre a qual o personagem foi acusado (ele existe há mais de 40 anos e só agora o descobrem, sendo que tem outro “fodão” das artes marciais no Universo Marvel chamado Shang-Chi, realmente oriental, e que, talvez, ganhe produção própria também).

Analisar cenas de luta pode ser complicado para quem não entende do riscado. Mas aquela "dança coreografada" parece encaixar muito bem com o espírito zen do Danny Rand, algo duramente criticado pelos fãs de “kung fu de verdade”. Mas, se repararmos, a luta fica bem menos "desenhada" e mais instintiva quando ele perde o controle da raiva. O que prejudica mesmo é a narrativa permeada por situações em que a maioria parece mudar de lado a cada momento, assim como novos personagens vão sendo enxertados na trama como puro filler, sem grandes propósitos. Talvez uma falha significativa que esteja atrelada à necessidade de se manter fiel ao formato original de 13 episódios. Com oito ou dez tudo se resolveria de forma mais substancial. Ainda que esse deslize não seja dos piores, pois o roteiro consegue prensar a atenção, independentemente das situações mais dramáticas ou do que pode parecer inútil.

E de uma coisa vocês podem​ ter certeza: faça chuva ou faça sol, Claire Temple, a enfermeira, vai aparecer sempre nas séries da Netflix. Ela é quem estabelece as ligações dos personagens novos com os apresentados nas outras produções, também nos representando. É por meio dela que os heróis mostram suas origens, de fato, no que podem influenciar o universo Marvel do streaming e os ganchos para as próximas temporadas. Esse é um ponto extremamente positivo, mesmo que suas aparições tenham se tornado cada vez mais encontros forçadamente bizarros e recheados de coincidências. No fundo estamos falando de uma produção da Marvel, não é mesmo?

Parece que há um consenso de implicar antes de ver, e foi o que aconteceu com Punho de Ferro. Não é uma série memorável, imperdível, mas boa para entender o que deve acontecer em Os Defensores, a ser lançada no segundo semestre. Falta um pouco de misticismo, apesar de todos os episódios falarem de K'un Lun (a terra onde o Punho de Ferro foi treinado), algo que deve ser resolvido numa eventual segunda temporada. Porém e, acima de tudo, diverte. Esse é o principal ponto. Não dá pra esperar sempre um produto originalíssimo. E, aqui, a reciclagem de ideias mostra que isso pode dar certo também. Só resta saber se haverá fôlego para novas tramas. As críticas em geral podem não ter sido positivas, mas se a audiência for acima da média, certamente a história de Danny Rand não deve terminar por aqui. Um bom gancho existe para continuar. É esperar para ver.

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é crítico de cinema, apresentador do Espaço Público Cinema exibido nas TVAL-RS e TVE e membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Jornalista e especialista em Cinema Expandido pela PUCRS.
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