Crítica
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Sinopse
Cabra frouxo e sem muita moral na praça, Virguley sonha em voltar rico para o Nordeste, mas está passando um perrengue no Sudeste. Misteriosamente, ele vai parar em 1927, quando é confundido com o cangaceiro Lampião.
Crítica
Há exatamente uma década , quando lançaram o divertido (e premiado) Cine Holliúdy (2012), o cineasta Halder Gomes e o ator Edmilson Filho se tornaram uma espécie de dupla-arauto do folclore nordestino para as novas gerações. Ainda que se utilizem de múltiplas referências cômicas aplicadas em outros mergulhos cinematográficos pela região - como O Cangaceiro Trapalhão (1983), para citar apenas um exemplo -, ambos conseguem transmitir com carinho e leveza as histórias de seus semelhantes. Em O Cangaceiro do Futuro, após diversas incursões pelas telonas, os artistas invadem o streaming para uma empreitada, de fato, não muito diferente do que se havia apresentado anteriormente, mas capaz de honrar o proposto.
Desta vez, Edmilson é Virguley, um retirante do agreste que agora reside na capital paulista. Dividindo-se entre inúmeros empregos não-formais para retornar a sua terra com mais dinheiro do que saiu, é submetido a perigos e constrangimentos. Numa de suas empreitadas, termina entrando em uma briga e, após uma forte pancada, acaba voltando no tempo. A época em questão é o nordeste de 1927, espaço "governado" por Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, o Rei do Cangaço. Após uma série de desentendimentos, vestido como tal, Virguley acaba se passando por Lampião e usufruindo de seus privilégios.
A partir daí, é interessante, claro, perceber como Filho, nesse universo particular cultural, parece, desde 2012, sempre interpretar o mesmo personagem. Embora tenham nomes distintos, em produções diferentes, seus papéis sempre reúnem trejeitos de um homem que parece entender de artes marciais, não tem dificuldades para se autodepreciar e, mais importante, possui o mais variado dicionário de palavras oriundas de naturais da caatinga. Em contrapartida, vale ressaltar que suas repetições são sinceras, e pouco atrapalham o desenvolvimento do sugerido. Cabe aqui ressaltar que, inclusive, astros como Samuel L. Jackson e Octavia Spencer também fazem algo do tipo, não é mesmo? E está tudo certo.
Sobre a trama, ela parece voltar ao núcleo de todo o ecossistema que compõe a compreensão geral do domínio narrativo tão explorado por Halder. Enquanto seus projetos anteriores se desenrolaram no final do século passado, este imerge o sertão ao ponto de conhecer, enfim, as figuras que moldaram o imaginário atual da parte mais quente do Brasil. Além de Lampião, o famoso Padre Cícero - tão referenciado em enredos nordestinos - aqui é de carne e osso, além de um tanto burlesco. Outro destaque fica por conta do Coronel Tibúrcio. Este antagonista, encarnado de maneira hilariante por Fábio Lago, personifica com clareza o cabresto oferecido pelos famosos senhores de engenho, hoje substituídos por chefes autoritários nos grandes centros.
O lugar de fala é um instrumento interessante da construção fílmica dos idealizadores. Há poucos anos, os responsáveis divulgaram a inicial trama de Halder como "a primeira aventura nordestina falada em 'cearencês' e com legendas", evidenciando a linha imaginária que aparta retrato e retratista. Quanto tempo ainda Gomes e Edmilson irão arquitetar projetos do gênero? Cabe apenas a eles e seus pares decidirem. Por ora, nos cabe o deleite do entretenimento confeccionado por profissionais de territórios do país cada vez mais empoderados de suas histórias.
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