Crítica


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Sinopse

Sem pistas sobre como encontrar os super-soldados dos Apátridas, Bucky e Sam se veem obrigados a recorrer à ajuda do Barão Zemo, assim estabelecendo uma aliança que os levará ao submundo de uma cidade de piratas.

Crítica

Chegando à sua metade (terá um total de seis partes), Falcão e o Soldado Invernal trouxe de volta velhos conhecidos no seu terceiro episódio. O principal deles é o Barão Zemo (Daniel Brühl), vilão trancafiado numa prisão supostamente de segurança máxima, acessado como única forma de estabelecer um elo entre a missão dos protagonistas e o submundo. No melhor estilo Hannibal Lecter, personagem de O Silêncio dos Inocentes (1991) igualmente consultado por saber como funciona a mente psicopata (pois é das piores), ele se torna uma engrenagem vital ao rastreamento dos Apátridas. Aparentemente, os criadores vão realmente deixar para um segundo (ou terceiro) plano a investigação mais profunda dos personagens, seus desafios íntimos diante de um mundo diferente daquele existente antes do Blip. Bucky (Sebastian Stan) e Sam (Anthony Mackie) são quase eclipsados aqui. O foco é direcionado à apresentação e compreensão da nação insular repleta de bandidos e segredos. Aliás, é lá que os personagens acabam encontrando uma amiga facilitadora dos seus caminhos.

O grande atrativo desse episódio é a presença dúbia e altamente perigosa de Zemo. Ele parece disposto a ajudar os companheiros de ocasião a encontrar e derrotar os super-soldados sob o comando de Karli Morgenthau (Erin Kellyman). Daniel Brühl cria novamente uma figura que mistura perversidade, habilidade e sofisticação. Vilão conectado ao ponto de parecer onipotente e onipresente, Zemo certamente adiciona um tempero à série. Sobretudo agora que ela soa inclinada a dissolver o drama dos personagens dentro da perspectiva maior que envolve, inclusive, a crise humanitária ocasionada pelo retorno de metade da humanidade dizimada quando Thanos estalou os dedos utilizando a Manopla do Infinito. O desconforto quanto à existência de um novo Capitão América surge rapidamente, mas é interessante notar que Bucky, pela primeira vez, verbaliza a ideia vaga de pegar o escudo para si. Em alguns quadrinhos, o Soldado Invernal assume o posto de Steve Rogers, levando adiante o legado do amigo e se redimindo. Caminhamos para isso?

Do mesmo modo que a menção à crise entre Bucky e Sam é ligeira, quase como se necessário cumprir um protocolo sem tanta importância em meio às descobertas sobre super-soldados, John Walker (Wyatt Russell) surge de relance, esbravejando contra a ação do Falcão e do ex-Soldado Invernal, talvez consolidando o quão vaidoso é. Em determinado momento, ao ser confrontado por um desconhecido, ele diz “você sabe quem eu sou?”, numa demonstração despropositada de autoridade, pois está trajado de Capitão América e ostentando o escudo icônico. Na verdade, a cineasta Kari Skogland lida com múltiplas possibilidades em pouquíssimo tempo, o que pode ocasionar dispersão diante de tantas potencialidades. A faceta trágica dos personagens principais é uma delas. Da forma como as coisas andam, por exemplo, é difícil imaginar que haverá espaço suficiente para entender John como uma vítima do governo dos Estados Unidos, soldado que atendeu ao chamado de sua vocação. Então, toda a introdução do episódio dois, pode não ter passado de uma distração?

Após uma fração inaugural que partiu dos problemas mundanos a serem enfrentados por Bucky e Sam e a segunda em que foi ensaiada a negação do aprofundamento psicológico em prol da ação, a terceira promove uma abertura de escopo. Há mais pessoas importantes em cena, não tantas piadinhas quanto à rivalidade dos protagonistas (aliás, poucos alívios cômicos), e uma concepção geopolítica ampliada desse mundo em perigo. Pelo que dá a entender, Karli Morgenthau possui intenções humanitárias, mas não parece distante do que John fala sobre fins justificarem meios. O problema quanto à densidade de Falcão e o Soldado Invernal é justamente o tempo para desenvolver tudo isso. Algumas “promessas” feitas nos episódios anteriores podem não ser cumpridas até o encerramento, isso porque outras tantas continuam sendo oferecidas. Dá a impressão que a série ainda não encontrou seu tom, a sua linha mestra, mas, mesmo assim, o andamento tem sido geralmente satisfatório, apesar dessa volatilidade. Vamos ver como as últimas partes resolvem certas questões complexas, se na porrada, na conversa ou tentando ambos. E, afinal de contas, quem é o Mercador do Poder?

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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