Crítica


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Sinopse

Prometendo vingança pela morte de uma amiga antiga, o Sr. Wednesday começa a preparação para a grande batalha. Laura e Mad Sweeney perseguem a luz de Shadow Moon depois dele ser sequestrado.

Crítica

Segundo episódio da temporada dois de Deuses Americanos, O Homem Sedutor dá passos significativos para que a importância de Shadow Moon (Ricky Whittle) na iminente guerra entre os velhos e os novos deuses seja finalmente esclarecida. Capturado anteriormente, ele é torturado num equipamento que o coloca visualmente na posição de crucificado, um dos vários momentos em que a iconografia cristã surge como indício de algo que, provavelmente, será revelado posteriormente. Obrigado a acessar reminiscências, ele apresenta-se jovem, chegando da França aos Estados Unidos, conversando com sua mãe sobre a deusa romana Libertas, que carrega uma tocha e a tábula que evoca as leis, tornada um símbolo norte-americano por conta da Estátua da Liberdade. Tal diálogo expressa a erudição da genitora.

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Paralelamente, Laura (Emily Browning), a esposa morta-viva, e Mad (Pablo Schreiber), o leprechaun obcecado por sua moeda da sorte, caem na estrada para tentar localizar o protagonista. Durante O Homem Sedutor, também há vislumbres dos movimentos dos novos deuses, como a tentativa de recrutamento da Mídia, durante o qual surgem pequenas reflexões sobre a suposta inutilidade da arte e a capacidade de criar distrações massivas para desvirtuar as atenções durante o imbróglio que se avizinha. Todavia, o maior bem desse fragmento de Deuses Americanos é mesmo o que a memória de Shadow nos apresenta, com ele constantemente sendo posto à prova num país que o recebe a pontapés, a despeito da alardeada hospitalidade a quem deseja vencer na Terra das Oportunidades. A crítica social vem forte nesses instantes.

A mãe de Shadow, interpretado na adolescência por Gabriel Darku, frequentemente fala de uma luz singular que habita em seu filho, talvez a mesma que Laura enxerga ao longe e que lhe sirva de farol. Sem, de fato, esclarecer o que esse poder significa, de onde deriva e como possivelmente desequilibrará uma batalha entre divindades, o diretor Frederick E.O. Toye instila habilmente indícios que apontam à imprescindibilidade do guarda-costas. Assim, a curiosidade aumenta consideravelmente. Do ponto de vista da violência, uma das características de Deuses Americanos, ela continua desbragada, gráfica, como quando alguém é eletrocutado na boca (isso mesmo) ou, mais acintosamente, assim que um capanga tem sua cabeça literalmente pisoteada até estourar por uma amada enfurecida em missão de resgate.

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O Homem Sedutor, as perguntas se adensam a partir de revelações oferecidas aos poucos. O fato de Shadow obviamente ser especial e ignorar completamente quem é seu pai dá margem a uma série de especulações que a série, por enquanto, não confirma, mas tampouco descarta. O segundo episódio da segunda temporada ainda oferece um ótimo gancho para a sua sequência, com Wednesday (Ian McShane) fazendo um ritual com o seu querido carro, evocando a origem por força dos operários norte-americanos de outrora, e um provável confronto imediato pela guarda de Shadow. Dessa vez, além do desenvolvimento da trama, os criadores mergulharam um pouco mais na relação estreita da contenda com os Estados Unidos, revelando-a de maneiras distintas, como quando Czernobog (Peter Stormare) diz que o país, efetivamente, não presta, se referindo, inclusive, à avidez com que nele se dá a substituição dos ícones, tais como os objetos de veneração.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.