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A sexta e última aula do workshop Desenhando Audiências: Quem São Seus Públicos? – evento virtual organizado pela produtora e distribuidora Boulevard Filmes – teve como tema a área de licenciamento de títulos audiovisuais para diversos suportes/players e a dinâmica das janelas de mercado. Qual é o tempo ideal para um filme chegar a outras telas depois de ter passado pela cobiçada telona do cinema? Qual é a importância desse tipo de estratégia pata potencializar o sucesso comercial das produções? Para tentar responder essas e outras questões, a atividade contou com a mediação de Simone Oliveira (Globo Filmes) e as participações de Igor Kupstas (O2 Play) e Paula Gastaud (Sofá Digital). Após a habitual apresentação inaugural de Letícia Friederich, sócia da Boulevard Filmes – no qual ela cita os apoiadores e a equipe envolvida na organização desse evento tão importante para pensar um dos principais gargalos do nosso audiovisual –, a palavra foi cedida à mediadora e aos convidados para suas participações iniciais. Paula compartilhou uma tela com os virtualmente presentes no workshop, cujo conteúdo era um conjunto de informações para oferecer contextos palpáveis sobre esse universo atrelado aos licenciamentos de filmes para diversas janelas diferentes. “Três palavrinhas viraram chaves desse universo, sem as quais a gente não pode viver hoje: relevância, curadoria e marketing (…) a pandemia acelerou diversas coisas que estavam por vir, que prevíamos acontecer, mas de uma maneira que nunca pensamos. Nos vimos num cenário de distribuição difícil”, complementou.

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Simone Oliveira

Paula continuou sua fala sinalizando que nos dois últimos anos, justamente os marcados pela pandemia da Covid-19 – com a aceleração do consumo doméstico, inclusive porque os cinemas estavam fechados –, o âmbito do streaming foi caracterizado pela possibilidade de muitos modelos de negócios, quantidade enorme de títulos e entrada em cena dos grandes estúdios com seus serviços próprios de SVOD (Subscription Video on Demand – oferta de conteúdo ao usuário por meio de uma assinatura). “Tentamos compreender esse mercado em transformação, buscando respostas para o consumidor, nos conectar com o público a partir da nossa perspectiva de distribuidor independente que não necessariamente tem produtos que possam bater de frente com a oferta desses serviços digitais enormes”, afirmou Paula. A profissional da Sofá Digital também mostrou uma timeline da evolução das mídias sociais e pontou a importância de compreendê-las para sobreviver atualmente no universo da internet. Dados disponibilizados mostram que no Brasil há praticamente 50 plataformas de streaming atuantes no mercado. Saindo das estatísticas atreladas à relevância, Paula passou ao tópico curadoria: “A curadoria é uma ferramenta que podemos trabalhar para alcançar relevância nesse mundo de informações demasiadas e oferta massiva. Quando temos pensamento de curadoria específico, trabalhamos as conexões com o público e entendendo as demandas existentes. E isso se dá em muitos níveis”.

Paula citou como exemplo mercadológico positivo a Vitrine Filmes, empresa que trabalha de modo bem-sucedido com o conceito de curadoria dentro de seu modelo de negócio. Ela também falou da MUBI como um desses paradigmas de curadoria. “Não precisamos estar apenas no universo arthouse para nos conectarmos com o público e formar audiências”, disse Paula antes de apresentar ações específicas da Sofá Digital como sintomas em sua explanação inicial: o Adrenalina Pura, canal SVOD voltado a filmes de ação; o Adrenalina Free Zone, canal AVOD (Advertising-Based Video on Demand – oferta gratuita sustentada pela venda de anúncios); e o Filmelier, site que funciona como uma espécie de guia que ajuda o público a saber onde os conteúdos estão disponíveis. A palavra foi para Igor que apresentou como modelo de atuação o case do lançamento do documentário Chorão: Marginal Alado (2019): “A O2 Play entrou relativamente no começo do projeto (…) os produtores tinham um corte em andamento, parte do financiamento, entramos no FSA (Fundo Setorial do Audiovisual) para conseguir mais recursos. Era um trabalho em construção com diversas frentes (…) a campanha estava seguindo todos os protocolos de uma campanha de divulgação para a tela do cinema”. Igor afirmou que a explosão da pandemia em 2020 mudou os planos, pois os cinemas estavam fechados e não era possível seguir o plano de lançamento em abril de 2020. As estratégias foram remodeladas.

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Igor Kupstas

Igor disse que, com a persistência da pandemia, foi preciso pensar em algo híbrido: lançamento nos cinemas e simultaneamente em TVOD (Transactional Video on Demand – no qual o usuário paga apenas pelo conteúdo desejado), que se tornaria a janela principal do lançamento de Chorão: Marginal Alado. O profissional da O2 Play detalhou a campanha de ativação do filme, ela que começou com um burburinho em torno do teaser trailer, passou por estratégias de assessoria de imprensa de aproximação com os veículos de comunicação e englobou também o engajamento dos fãs do Chorão nas redes sociais – isso sem a compra de espaços de mídia. Até mesmo para cumprir requisitos técnicos da Ancine, a Agência Nacional do Cinema, a empresa precisou fazer uma estreia em salas de cinema, o que aconteceu em março de 2021, numa sala de Roraima, e uma semana depois num Drive-in em Brasília: “Infelizmente, o lançamento nos cinemas foi bastante reduzido por conta da pandemia, então o TVOD acabou sendo a nossa prioridade”, encerrou Igor. A palavra voltou a Simone que pediu a Paula uma explicação sobre os termos adotados até então (TVOD, SVOD, AVOD, etc.), questionando especificamente sobre o TVOD, se ele não estaria perdendo espaço para a predileção do público pelo sistema SVOD.

E O FUTURO?
“Tivemos uma mudança enorme. A pandemia, o avanço dos streamings e ao mesmo tempo os editais públicos de fomento parados. Como vocês veem isso para o futuro? O cinema segue forte nesse momento em que a vacina melhorou muito o cenário, mas forte para blockbusters. Temos dificuldades maior para lançar os filmes médios e/ou brasileiros. Mas, queria ouvir de vocês o que esperar do futuro. É a pergunta de um milhão de dólares (risos)”, brincou Simone. Igor começou pontuando as suas expectativas e leituras: “O AVOD não é necessariamente uma novidade, mas o que o sacramenta é a possibilidade de a Netflix ter propaganda. Há muita gente ansiosa com isso. Não acredito que esse modelo de publicidade seja agressivo como na TV aberta, acho que será algo mais moderno. Entretanto, de fato, teremos propaganda. E isso deve crescer. Estamos num momento muito sensível, sem dinheiro, e essa opção é interessante numa realidade em que muita gente tem migrado à pirataria”. Simone puxou a questão dos lançamentos em cinema que a O2 Play tem feito em parceria com a MUBI, serviço de streaming que tem brindado o espectador com essa possibilidade de conferir antes os seus lançamentos brevemente nas telonas de cinema. “Obviamente, ir ao cinema oferece um poder à construção de marca. Recentemente lançamos o Crimes of The Future (2021) e a Folha de São Paulo deu uma página inteira de destaque. Me arrisco a dizer que se ele tivesse ido diretamente para o streaming isso dificilmente aconteceria. Existe a cultura de 100 anos da relação com o cinema”, disse Igor, que arrematou afirmando que as empresas de streaming desejam a aura do cinema.

Paula começou concordado com o colega: “e esse é o momento em que precisamos testar. Estamos enfrentando inúmeras mudanças. A queda do TVOD é bastante expressiva, ocasionada pela migração a outros modelos, mas também pela crise econômica. A janela do TVOD lida com a ansiedade do espectador de assistir àquele filme logo, de uma vez (…) estamos tentando nos defender, defender o faturamento dos filmes, caso a caso (…) às vezes o melhor é situar o filme no cinema para ele ganhar um impulso a fim de ser melhor vendido posteriormente em outras janelas (…) acho que as plataformas de TVOD estão ficando no passado, não estão conseguindo se conectar tanto com as audiências. E isso também é um problema nosso, pois estamos perdendo monetização pelo caminho (…) é fundamental ocupar o máximo de janelas possível. Me parece que o AVOD, por enquanto, e talvez por algum tempo, vai ficar adequado nesse lugar dos filmes de catálogo. É uma possibilidade de trazer monetização para esses filmes. Depois que a licença de dois anos vence, o que fazer com esses filmes? Alguns conseguem ser revendidos, mas outros acabam morrendo. O conteúdo infantil pode ter uma boa sobrevida no AVOD, pois é aquele que roda repetidamente. O acordo de publicidade da Netflix com a Microsoft é algo que a gente precisava para o modelo avançar (…) o filme não pode ficar velho, é preciso decidir”.

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Paula Gastaud

QUESTÕES
Simone chamou atenção a algumas questões propostas no chat pelos virtualmente presentes no workshop Desenhando Audiências: Quem São Seus Públicos?. A O2 Play tem lidado com a chamada distribuição de impacto? “Sobre a distribuição de impacto, temos alguns cases (…) o que aprendi com isso é que há alguns anos era mais fácil casar uma ativação de impacto com um melhor resultado comercial. Isso para documentários e filmes que não tinham uma audiência, embora sejam importantes. Atualmente, acredito que isso acontece bem menos, claro que com exceção dos filmes precedidos por uma grande expectativa”, respondeu Igor. Para arrematar a questão, Simone listou alguns cases bem-sucedidos nesse sentido da distribuição de impacto. A mediadora e os dois convidados reforçaram a importância de as estratégias de distribuição e comercialização começarem a ser traçadas nos estágios iniciais da produção. Eles também discorreram brevemente, mas sinalizando a importância destas ferramentas, sobre agentes de vendas, testes de audiência e outras estratégias que infelizmente nem sempre estão à disposição do produto brasileiro. O que nos fica disso é ainda a disparidade nas esferas industriais desde esses passos inaugurais do planejamento para uma produção ser lançada. Logo depois, a mediadora e os convidados fizeram suas considerações finais neste que foi o encontro derradeiro do enriquecedor workshop Desenhando Audiências: Quem São Seus Públicos?.

Projeto realizado com o apoio do ProAC Expresso Lei Aldir Blanc

:: CONFIRA AQUI O ARTIGO SOBRE A PRIMEIRA AULA DO WORKSHOP ::
:: CONFIRA AQUI O ARTIGO SOBRE A SEGUNDA AULA DO WORKSHOP ::
:: CONFIRA AQUI O ARTIGO SOBRE A TERCEIRA AULA DO WORKSHOP ::
:: CONFIRA AQUI O ARTIGO SOBRE A QUARTA AULA DO WORKSHOP ::
:: CONFIRA AQUI O ARTIGO SOBRE A QUINTA AULA DO WORKSHOP ::

As duas abas seguintes alteram o conteúdo abaixo.
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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.
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