Medida Provisória (2021) é o primeiro longa-metragem de ficção dirigido de Lázaro Ramos. Depois de ser exibido em alguns festivais internacionais, ele teve sua première brasileira no Festival do Rio, evento que atualmente está acontecendo na capital fluminense. Nesta quinta-feira, 16, depois da segunda exibição do filme, foi realizado um debate com a presença de Lázaro, da coprotagonista Tais Araújo e de boa parte da equipe técnica. E chamou a atenção que entre os perfilados no palco do Estação Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, estivesse uma advogada. Para quem não sabe, a produção do filme vem enfrentando um calvário burocrático que já provocou diversos adiamentos na data de estreia comercial. Respondendo à primeira pergunta vinda da plateia, justamente sobre tais entraves, a representante legal da produção disse que na verdade tudo se resume à falta da confirmação da autorização dada para a troca da distribuidora da produção. Para quem não sabe, toda e qualquer mudança num projeto que tenha incentivos públicos precisa ser autorizada pela Ancine, a Agência Nacional do Cinema. Essa autorização já aconteceu, mas precisa ser chancelada pela autoridade competente da instituição.

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Provocado pelo mediador do debate, Lázaro Ramos não quis tipificar como censura (talvez uma estratégia legal?) o que vem acontecendo nos bastidores, embora tenha dado sinais de que acredita realmente estar sendo boicotado de alguma maneira. Curiosamente, o filme aborda a utilização de meios legais para a instituição de políticas excludentes. Vale lembrar que o presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, fez duras críticas ao projeto e chegou a pedir (assim, sem vergonha nenhuma) que ele fosse boicotado. “O filme, bancado com recursos públicos, acusa o governo Bolsonaro de crime de racismo —deportar todos os cidadãos negros para a África por Medida Provisória. Temos o dever moral de boicotá-lo nos cinemas. É pura lacração vitimista e ataque difamatório contra o nosso presidente”, publicou Camargo em seus perfis nas redes sociais. O Papo de Cinema já assistiu ao filme (confira aqui a crítica) e pode garantir que não há nenhuma menção a Jair Bolsonaro no filme, até porque se trata de uma distopia ambientada num tempo indeterminado.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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