14 mai

Crise financeira e incertezas colocam Cinemateca Brasileira em risco

O patrimônio cultural de uma nação é uma de suas maiores riquezas. O Brasil, contudo, parece que ainda não atentou devidamente a isso, pois são recorrentes as narrativas de descaso estatal com a fortuna artística oriunda dos filhos dessa pátria nem sempre gentil. A Cinemateca Brasileira, sediada na cidade de São Paulo, um dos principais pontos de referência do cinema brasileiro, está passando por uma severa crise. De acordo com o jornal O Globo, a Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, entidade que gere a Cinemateca, parou de receber os devidos recursos federais desde o vencimento do contrato de gestão em dezembro de 2019. Representantes da entidade têm tentado negociar com membros do poder público, mas em vão. Onde está a nossa “digníssima” secretária especial da Cultura, a senhora Regina Duarte, quando mais se precisa dela, não é mesmo? Deve estar cantando Pra frente, Brasil por aí, seguindo a sua gestão inócua, ampliando a sensação de descaso com a Cultura.

Ainda segundo o jornal carioca, funcionários da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto disseram que a Cinemateca Brasileira está sendo mantida com recursos do caixa da instituição, já que sucessivas mudanças nas configurações da secretaria especial da Cultura têm emperrado as negociações. Salários de funcionários estão atrasados, algo agravado pelos efeitos da pandemia do COVID-19. Vale lembrar que, entre atividades formativas, sessões especiais e afins, a Cinemateca Brasileira é responsável pela gestão de mais de 250 mil rolos de filmes, além de além de um milhão de documentos que contam a História do cinema brasileiro. Não é pouca coisa. Para se ter uma ideia, eventuais cortes no fornecimento de energia elétrica por falta de pagamento (algo possível) colocariam em risco o acervo, já que o mesmo requer condições específicas de temperatura e umidade a seu armazenamento.

O Globo procurou a Secretaria Especial da Cultura que se limitou a dizer que o processo para selecionar a organização que gerirá a Cinemateca Brasileira segue em andamento. Vale ainda lembrar que sem esse contrato, a Cinemateca não pode, sequer, fazer contratações, entre elas as que dizem respeito aos serviços essenciais. É mais um capítulo triste do descaso do Estado com o nosso patrimônio cultural. É revoltante.

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Marcelo Müller

Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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