“Michael, Michael, eles não ligam para a gente”, diz uma voz angustiada sobre a exclusão social antes do começo do clipe They Don’t Care About Us, de Michael Jackson. Mas, poderia ser a atriz Mia Goth falando sobre o fato de que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Los Angeles não dá muita bola para os filmes de terror na hora de indicar ao Oscar, especialmente no que diz respeito às atuações. Celebrada como um talento emergente por conta do sucesso de X: A Marca da Morte (2022) e, sobretudo, pelo ainda inédito no Brasil Pearl (2022), a intérprete foi questionada sobre o fato de poucos atores e atrizes que trabalham em filmes de terror terem sido indicados ao Oscar na sua quase centenária história. E ela não se fez de rogada na resposta, soltando os cachorros:

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“Acho que o Oscar é muito político, não totalmente baseado na qualidade do projeto em si. Acho que tem muita coisa acontecendo aí, muitos trabalhadores na cozinha que não são reconhecidos quando se trata de indicações e categorias. Talvez eu também não devesse dizer isso, mas acho que é a verdade. Acho que muita gente sabe disso. Não sei por quê. Acredito que uma mudança é necessária. Uma mudança deve ocorrer. Se eles quisessem se envolver com o público em geral, acho que seria realmente benéfico.”

Mas, será mesmo que a Academia tem um ranço com filmes de terror? Se formos citar apenas um exemplo indicativo, O Exorcista (1973) foi indicado a 10 estatuetas em sua época, incluindo a de Melhor Filme, e venceu em duas categorias. Mais recentemente Corra! (2018) foi indicado a quatro Oscar e ganhou um (Roteiro Original). Porém, de fato, a partir de alguns parâmetros Mia Goth poderia ser considerada uma “esnobada” pelo Oscar, pois figurou em várias premiações prévias, no entanto geralmente de entidades e associações críticas. Então, talvez o que tenhamos de perceber (e discutir) é a natureza das premiações, o que cada uma delas ressalta e respalda. E, como bem sabemos, o Oscar é uma festa da indústria em que, geralmente, amigos premiam amigos.

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Jornalista, professor e crítico de cinema membro da ABRACCINE (Associação Brasileira de Críticos de Cinema,). Ministrou cursos na Escola de Cinema Darcy Ribeiro/RJ, na Academia Internacional de Cinema/RJ e em diversas unidades Sesc/RJ. Participou como autor dos livros "100 Melhores Filmes Brasileiros" (2016), "Documentários Brasileiros – 100 filmes Essenciais" (2017), "Animação Brasileira – 100 Filmes Essenciais" (2018) e “Cinema Fantástico Brasileiro: 100 Filmes Essenciais” (2024). Editor do Papo de Cinema.

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