Crítica


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Sinopse

O cotidiano de uma pequena comunidade no Rio Grande do Sul marcada por um dialeto e um ritmo próprios.

Crítica

O documentário Walachai é um filme maravilhoso. Por diversos aspectos. Ele retrata uma comunidade de descendentes de alemães que vivem na localidade de Walachai (que significa lugar longínquo), pertencente ao município gaúcho de Morro Reuter. A diretora, Rejane Zilles, viveu lá na infância. Atriz de formação, está radicada há mais de 20 anos no Rio de Janeiro. Por isso, este documentário apresenta um retorno da cineasta ao lugar onde nasceu e ela própria admite que este é um filme afetivo. "Trilhei um simbólico caminho de volta", confessa. O resultado é um registro simples, porém intenso, de um lugar sui-generis no Brasil. Também é uma pesquisa antropológica de um grupo que viveu isolado por muito tempo, criou um sistema de vida autossustentável e que também gerou um isolamento linguístico.

Os moradores de Walachai e arredores (incluindo os povoados de nomes singulares como Jamerthal, Batatenthal, Padre Eterno e Frankenthal) ficaram cerca de 100 anos falando só alemão, mesmo nas escolas. Na verdade, falam um dialeto da região do Hunsrück, hoje, raro até na Alemanha. Nesse sentido, o filme mostra como foi prejudicial a ação de Getúlio Vargas nos anos 40, quando proibiu as colônias alemãs do país a falar outro idioma que não fosse o português. O resultado foi que, de um dia para o outro, as crianças que estavam sendo alfabetizadas em alemão passaram a ter aulas em uma língua que não entendiam. Não houve um período de transição.

E hoje toda uma geração se ressente disso. "Não se aprende uma língua por decreto", diz um professor em entrevista no filme. Essa atitude fez com que a comunidade se fechasse ainda mais naquela época, porque tinham medo de serem presos se falassem em sua língua materna. Muitos tampouco aprenderam a ler. A diretora abordou a comunidade, portanto, através de quatro eixos: o isolamento, a língua, o cotidiano e a relação com a Alemanha, da qual mostram saber pouco. A rotina dos moradores é inteiramente dedicada ao trabalho. Muitos são pequenos agricultores e outros oferecem serviços, como ferreiros. O senso de coletividade é um dos aspectos mais emocionantes do filme.

A escolha da trilha sonora foi bastante feliz para apresentar uma comunidade rural. Com arranjos para obras de Bach e Vivaldi, além de composições próprias, a trilha é assinada por Felipe Radicetti.

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é Mestre em Comunicação Social pela PUCRS, com ênfase nos Estudos Culturais. Formada em Publicidade e Propaganda e em Jornalismo pela UFRGS. Trabalha como repórter na área cultural no jornal Correio do Povo, em Porto Alegre.
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