Crítica

Luz de Inverno (1962) foi a primeira produção do diretor Ingmar Bergman após ele vencer o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com Através de Um Espelho (1961). É, portanto, o segundo filme da chamada “Trilogia do Silêncio”, também conhecida como “Trilogia da Fé”, que termina com O Silêncio (1963). Em comum, estes dramas abrangem questões como crise existencial, amor, religião e morte.

Em Luz de Inverno, Tomas (Gunnar Bjönstrand), pastor de uma pequena localidade sueca, vive uma crise de fé.  Ele perdeu a esposa há quatro anos e, ao que tudo indica, está tão fisicamente doente, com tosse e cansaço, como desmotivado em sua função. A depressão é evidente. Sua amante, a professora Marta (Ingrid Thulin), insiste em lhe dedicar cuidados, mas ele ora demonstra repulsa, ora pede que ela se reaproxime. Nesta atmosfera, percebe-se que o inverno não está apenas no mundo exterior, mas no interior de personagens. Neste sentido, a luz corrobora o clima melancólico na fotografia em preto e branco do genial Sven Nykvist.

Este drama começa com 12 longos minutos de um culto para poucos na igreja. Ao fim da cerimônia, um casal procura o reverendo para aconselhar-se. Na verdade, quem fala é a esposa, uma dona de casa (Gunnel Lindblom). Ela relata que seu marido, um pescador (Max von Sydow, parceiro do diretor em outros trabalhos como O Sétimo Selo, 1956), está atormentado e mais deprimido que de costume depois de ter lido sobre a possibilidade de a China criar uma bomba atômica, assim não vendo mais sentido para viver. A história se passa durante a Guerra Fria.

Mas a busca se mostra inglória, tanto quanto procurar água em um deserto, pois o pastor também está em crise. Num diálogo anterior, ele menciona ressentir-se do “silêncio de Deus”, ou seja, não encontra consolação nem respostas aos seus questionamentos na divindade. Tomas revela que também se sente indefeso. Depois que o casal vai embora, demonstra angústia por não ter ajudado o homem desesperado, e fica esperando seu retorno, pois o mesmo disse que voltaria. Enquanto isso, discute sua própria relação com a amante.

A crise existencial é, portanto, o cerne deste filme, do início ao fim.  Luz de Inverno levanta questões como o sentido de existir, já que tudo pode se esboroar com uma bomba a qualquer momento - o que era factível com a guerra -, e se vale a pena viver sem o grande amor ao lado. Embora se declarasse ateu, Bergman debatia questões da fé. Talvez a sua criação, com princípios religiosos, visto que seu pai era um pastor luterano, tenha gerado as variações deste mesmo tema ao longo de sua filmografia.  Para os padrões do século XXI, o filme é lento e triste. Mas não se pode negar que ele convida à reflexão.

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é Mestre em Comunicação Social pela PUCRS, com ênfase nos Estudos Culturais. Formada em Publicidade e Propaganda e em Jornalismo pela UFRGS. Trabalha como repórter na área cultural no jornal Correio do Povo, em Porto Alegre.
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