Wajib: Um Convite de Casamento
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Annemarie Jacir
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Wajib
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2017
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Palestina / França / Colômbia / Alemanha / Emirados Árabes / Catar / Noruega
Crítica
Leitores
Sinopse
Depois de anos vivendo na Itália, Shadi retorna à Nazaré com uma missão: entregar os convites para o casamento de sua irmã individualmente para cada convidado, de acordo com o costume palestino local. Para isso, terá que realizar a atividade ao lado do pai, Abu Shadi.
Crítica
Pai e filho transitam pela Palestina, mais especificamente a cidade de Nazaré, a fim de entregar os convites de um casamento, seguindo o costume local. Nas entrelinhas desse percurso repleto de lembranças, mágoas e senões reside a potência de Wajib: Um Convite de Casamento, longa-metragem que, entre outras coisas, demonstra um complexo embate entre o velho e o novo. Tal conflito é acrescido de camadas pelo fato do filho, Shadi (Saleh Bakri), morar na Itália, e do pai, Abu (Mohammad Bakri), ter sua experiência de vida umbilicalmente ligada àquele cenário deteriorado e tensionado. Grande parte da trama acontece no carro, com apenas os dois personagens interagindo, tentando comunicar-se e estabelecer equilíbrio entre o afeto alimentado pelas histórias do passado e as frequentes desavenças proporcionadas pelas transformações do seu elo com o passar do tempo. A cineasta Annemarie Jacir se vale de protagonistas homens, mas atribui às mulheres funções capitais, utilizando isso como instância imprescindível da discussão, inclusive, política.
O enlace da filha de Abu, Ama (Maria Zreik), irmã de Shadi, é o motor desse trato truncado, oscilante, por isso orgânico e bastante verossímil. A tradição, portanto, fornece a esses personagens a motivação para o empreendimento de um percurso atribulado entre as casas de parentes e amigos. A ausência da ex-mulher de um, mãe do outro, fornece um componente vital e inflamável a essa relação cujos contornos não são refratários a viradas momentâneas, rompantes de indignação e/ou tentativas de estabelecer um diálogo mais consistente sobre tópicos espinhosos. Durante o trajeto, particularidades da sociedade palestina são abordadas, algumas com maior, outras com menor intensidade e atenção. O pai deseja encontrar uma namorada local para o filho que já possui um relacionamento. O intuito é ancora-lo na terra natal, resgatando-lhe da Europa à qual o enviou com medo da retaliação israelense à inclinação dele por questionamentos de um entrevero milenar. A realizadora instila informações aos poucos, demonstrando sensibilidade diante das diversas controvérsias.
Mohammad e Saleh Bakri, pai e filho na realidade, possuem desempenhos excepcionais que garantem a profundidade dos personagens, permitindo-os transcender uma possível utilização arquetípica. As diferenças de pensamento, principalmente oriundas das referências ideológico-culturais distintas, são bem valorizadas por Annemarie Jacir por meio dos diálogos precisos e da encenação econômica que privilegia a entonação das vozes, os meneios, enfim, o repertório dos atores que se encarregam de tornar crível a sintomática dissonância doméstica com respingos no âmbito coletivo. Do ponto de vista simbólico, o cigarro, teimosamente aceso por Abu mesmo após a recomendação médica, é uma espécie de transgressão a que o sujeito experiente se permite, isso numa comunidade inflamada por hostilidades seculares, em que adequar-se é fundamental à sobrevivência. Já o café é uma espécie de catalisador dos afetos familiares, pois disponível em boa parte das paragens, frequentemente sorvido em meio a conversas amenas e rememorações de um passado bom.
Wajib: Um Convite de Casamento é fruto de uma direção bastante segura, da interpretação densa de um texto repleto de demãos que elevam conjunto para além do que as palavras representam meramente na primeira instância. Poucos gatilhos geram situações catárticas, opção deliberada por um andamento calcado nas frestas, nos pequenos estilhaços que vão se avolumando um pouco abaixo da superfície, com isso criando uma pressão contida. O filme é bastante contundente pela maneira como delineia as não concordâncias e incompreensões mútuas. Shadi chama atenção local por seu cabelo grande, pelas roupas consideradas extravagantes – camisa rosa e calça vermelha –, ainda que, fora seu pai, poucos verbalizem o que os olhares maliciosos deixam escapar. Abu é uma instituição, professor reconhecido constantemente nas ruas, cidadão acima de qualquer suspeita. Sem forçar a barra com uma dicotomia redutora, o drama extrai sua relevância desse choque entre dois sujeitos que se amam, incapazes de conviver, especialmente, por fazerem parte de mundos díspares.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
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Marcelo Müller | 8 |
Marcelo Müller | 8 |
MÉDIA | 8 |
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