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Sinopse

Uma verdadeira jornada de desafios para super-fãs da cantora Beyoncé Knowles, grupo que forma uma comunidade improvisada capaz de encarar até dois meses de fila para assistir a um show.

Crítica

Literalmente, a tradução do nome deste filme significa “Esperando por B.”, assim, encerrando com um ponto final – o que depreende, para os mais atentos, o entendimento de uma sigla. Quem seria, portanto, “B.”? Não demora muito, no entanto, para que o mistério se desfaça – tanto em relação à essa identidade quanto pela opção do estrangeirismo no título. Afinal, Waiting for B. está se referindo à cantora pop Beyoncé. Mas o documentário de Paulo Cesar Toledo e de Abigail Spindel – ambos estreantes no formato – não é sobre a estrela da música internacional. Pelo contrário, ela nem chega a aparecer durante toda a narrativa. O foco, aqui, está direcionado aos fãs mais radicais e menos favorecidos dela. E este curioso ponto de vista é que resgata o resultado da vala comum, concedendo-lhe uma distinção que merece ser percebida com maior cuidado.

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Durante a última turnê mundial de Beyoncé, um dos lugares anunciados como palco do seu show foi o estádio do Morumbi, em São Paulo. Assim que a data foi confirmada, alguns admiradores se mobilizaram para garantir um lugar de destaque na plateia, com a intenção declarada de ficarem mais próximos da musa. O Brasil tem cada vez mais se tornado destino destes grandes eventos musicais, e nomes como Paul McCartney, Guns ‘n’ Roses, Aerosmith, Marron 5, Madonna, Lady Gaga, U2 e muitos outros já aportaram por aqui com toda a sua parafernália, coisa que algumas décadas atrás era literalmente inviável. No entanto, com a desvalorização da nossa moeda, criou-se uma estrutura absurdamente elitista dentro destes concertos, dividindo a plateia entre VIP, Extra VIP, VIP Premium, camarotes, arquibancadas e o diabo a quatro. A proximidade do palco virou desculpa para preços exorbitantes, enquanto que aqueles sem tantas condições se veem obrigados a se contentarem com posições ingratas. Ou cometer loucuras como as que aqui presenciamos.

Não que tenham entrado em alguma gincana ou protagonizado barbaridades para serem presenteados com ingressos privilegiados. Em Waiting for B., quem ganha vez são os fãs do subúrbio, aqueles que juntam cada trocado para poder conferir de perto a estrela que admiram. Por isso, sem condições de adquirirem um convite mais caro, acabam tomando atitudes extremas. Neste caso, se mudarem para o entorno do estádio exatamente dois meses antes do espetáculo! Sim, lá estão eles, em barracas, acampados, esperando pelo momento mágico. Mesmo que esse só vá acontecer daqui há sessenta dias. E não que sejam desocupados ou simplesmente desvairados. A maioria ali tem trabalho, família, compromissos. Por isso que se unem, pois quando um precisa se ausentar, o outro preenche seu espaço. Há confiança e esforço em conjunto mesmo diante às situações mais adversas – se é que podemos considerar assim este cenário.

E quem são estes dispostos a uma loucura como essa em nome do seu ídolo? É neste ponto que o filme ganha um diferencial, quando os diretores optam por mergulhar nas vidas de algumas destas figuras. Entre os meninos, o primeiro ponto de identificação é o fato de todos serem, praticamente sem exceção, homossexuais. O que a figura de Beyoncé lhes diz, porque tamanha adoração e, mesmo num contexto assim, é possível críticas a ela? Há ainda as transformistas, as que se fantasiam e que se imaginam vivendo como ela – se não se pode tê-la, então que se copie. Mas há as garotas também, e estas ganham espaço como dubladoras, artistas cover e performistas. É um grupo bastante sui generis, que aqui é observado sem julgamentos nem avaliações, apenas retratando-os em pleno momento de manifestação sócio-cultural. O que buscam esses jovens? A admiração é cega ou provém de uma realidade já acostumada a outras formas de dissimulação? Estão todos em um mesmo barco, como se a uniformidade lhes conferisse uma característica única, ou cada um possui uma particularidade que justifique sua presença ali.

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Waiting for B. também pode ser lido sob outra forma: “b”, ou “bee”, é como todos se chamam. E não por qualquer tipo de relação com a Beyoncé em si. “B” vem de bicha, de bissexual, de se assumir quando e onde se pode, sem olhares de censura e reprovação. São adolescentes ou adultos em formação que estão esperando pelo momento de se revelarem – não para si, talvez não para os amigos e familiares mais próximos, mas para a vida. É quase um rito de passagem, muitas vezes tolo, mas necessário. E que aqui ganha um retrato sem condescendência e nem aprovação, mas também longe de acusatório ou debochado. No final das contas, é o que lhe torna válido. Pois cumpre sua missão de documentar com elementos suficientes para uma reflexão, não apenas sobre os retratados, mas, principalmente, sobre o contexto que possibilita suas existências. Independente do que se pense a respeito delas.

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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