Crítica
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Sinopse
Após acordar convencida de que vai morrer no dia seguinte, Amy entra numa vertiginosa espiral emocional. À medida que seus delírios se tornam contagiosos àqueles ao redor, perde seu controle, numa tendência para a loucura.
Crítica
Amy tem um problema. Ela vai morrer amanhã. Não há o que lhe possa ser dito: essa é uma ideia que está fixa em sua cabeça. Sozinha em casa, até tenta buscar ajuda, mas tudo o que consegue dizer é: “vou morrer amanhã”. Veja bem, não chega a ser uma dúvida: “acho que vou morrer amanhã” ou “pode ser que eu morra amanhã”. Não, pelo contrário: está mais para uma certeza. Ela vai morrer amanhã. Está certa disso. Como se o tempo e o espaço tivessem parado e uma verdade universal houvesse se apresentado em sua frente. O mais curioso? Ela está disposta a compartilhar desse conhecimento. Afinal, se vai morrer amanhã, por que sua melhor amiga, o irmão dessa, ou um ex-namorado, até mesmo os conhecidos dos vizinhos, não pensariam o mesmo? Irão todos morrer amanhã? A premissa de Vou Morrer Amanhã, como se percebe, é das mais instigantes. No entanto, sua realização vai gradualmente perdendo força durante os pouco mais de 80 minutos de duração do longa, resignando-se em apenas estimular uma curiosidade que nunca chega a ser satisfeita.
Escrito e dirigido por Amy Seimetz, esse é o primeiro filme da cineasta a ser distribuído no Brasil. Até então, era conhecida por aqui por ter comandado alguns episódios de séries como The Girlfriend Experience (2016-2017) e Atlanta (2018), por exemplo. Em comum, esses programas tem o propósito declarado de subverter expectativas a partir de uma releitura conceitual de figuras sólidas da sociedade, como a presença feminina ou da população negra. Aqui, no entanto, ela deixa essas inquietações de lado, optando-se por se concentrar em um debate mais filosófico e/ou espiritual. Essa poderia ser uma decisão que surtisse efeito a serviço de um debate mais profundo. Afinal, todo mundo irá morrer um dia – e como muitos dos personagens chegam a racionalizar – por que esse não poderia ser, de fato, amanhã? Mas, afinal, esse amanhã seria... quando?
Pois essa parece ser a grande questão a envolver os “contaminados”: a partir do momento em que começam a se convencer de que, sim, irão morrer amanhã, a aceitação surge – após momentos de pânico, desespero e tristeza, é claro – e, com ela, uma paz quase inabalável. Não seria esse o instante, portanto, da suposta “morte”? O momento no qual os incômodos do dia a dia perdem importância e tudo o que passa a importar é o seu próprio bem-estar? Esse, é preciso reconhecer, talvez até fosse um caminho válido de ser seguido. Seimetz, no entanto, evita maiores digressões. Para ela, interessa apenas o óbvio declarado: sua protagonista e qualquer um dos demais que com ela tenha tomado contato nas últimas horas estão absolutamente convencidos de que, enfim... irão morrer amanhã. Então, mais interessante do que essa morte em si, é como lidar com esse conhecimento até o último suspiro.
Em cena, um material digno de atenção. Kate Lyn Sheil, que recebe a missão de defender a personagem central, precisaria ser a primeira a acreditar no que profere. Porém, a atuação que enverga, indecisa entre a alienação provocada pelo consumo de drogas e a apatia que lhe parece ser natural, resulta em um conjunto distante, inadequado, do qual pouco se retira para uma eventual identificação. Essa presença quase aleatória se torna ainda mais descartável quando ao lado de nomes mais experientes, como Jane Adams (Poltergeist: O Fenômeno, 2015) ou Chris Messina, ou ainda os conhecidos destes, alguns vividos por figuras como Josh Lucas e Michelle Rodriguez, todos em participações discretas, mas suficientes para distanciarem a atenção que a protagonista tanto necessitaria para fazer de sua jornada algo minimamente convincente. Afinal, por quê dela se compadecem? Que efeito tem sobre os outros? E como tão facilmente consegue fazer com que também mudem de ideia? Respostas que poderiam ser trabalhadas caso se manifestassem, mas ignoradas pela simples ausência das mesmas.
Por fim, qual o significado do ataque de luzes estroboscópicas? O pisca-pisca vermelho-roxo-laranja parece atender a uma demanda recente de múltiplos significados, abrindo diversas portas que não chegam a receber o cuidado necessário para se tornarem relevantes dentro do enredo proposto pela realizadora. O que se tem, portanto, é um caso típico de que, na ausência de uma explicação direta, todas as demais parecem possíveis – e quando não se há mais parâmetros, toda plausibilidade é tão justa quanto desnecessária. Vou Morrer Amanhã é um filme que precisaria ser construído em parceria com o espectador. Porém, como o tratamento concedido a esse implica em distanciamento e arrogância, a ligação esperada não chega a se concretizar. Dessa forma, por mais próximo que seja o fim, ele em nada contribui para dar sentido à discussão levantada, jogando ainda mais poeira em um vento que mais confunde e entedia do que se presta a qualquer tipo de alívio.
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