Crítica
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Sinopse
Frank é motorista de ambulância durante a noite turbulenta de Nova Iorque. Ele sofre com a pressão do trabalho, com o constante senso de urgência e, angustiado, começa a enxergar as pessoas que não conseguiu salvar.
Crítica
A rotina do paramédico Frank Pierce (Nicolas Cage) é feita basicamente de estresse. O protagonista de Vivendo no Limite atende emergências durante a madrugada, período em que Nova Iorque parece um purgatório, quando não o próprio inferno. No início dos anos 1990, a cidade figurava entre as mais violentas do mundo, inclusive diferente do passado marginal que Scorsese já havia abordado, dos pequenos núcleos de brutalidade, nichos de gângsteres, sobretudo na periferia. Tudo se generalizou, a Big Apple ardia em chamas, consumida por sua incapacidade de incluir a todos. Nesse cenário, Frank é, antes de qualquer coisa, uma testemunha que vaga moribunda e condenada a sofrer.
Frank vê fantasmas, principalmente Rose, menina cuja morte ele não conseguiu evitar. Esse “espírito” insistente o lembra de sua impotência diante de certos casos, algo não muito bem assimilado por esse salvador que há muito tempo não salva alguém. Há quem diga que Frank é uma espécie de primo-irmão de Travis, o protagonista de Taxi Driver (1976), já que ambos são perturbados pela existência da “escória”, vagam insones à noite, e, lá pelas tantas, assumem para si o projeto de salvação de uma garota, como se bem sucedidos estivessem salvando a si próprios. Levando em consideração as semelhanças citadas e o fato dos mesmos Martin Scorsese (direção) e Paul Schrader (roteiro) estarem à frente dos dois filmes, veremos que a aproximação não é de todo forçada e tem lá suas razões de ser. Mas enquanto Travis quer acabar com a “escória”, Frank parece mais disposto a acalentá-la, orientá-la, tal e qual um anjo da guarda cheio de marcas de cansaço.
Assim, de chamado em chamado, Frank e seus parceiros de ocasião resgatam bêbados, suicidas, vagabundos e traficantes, levando-os a hospitais superlotados e sem equipamento, onde a ordem de chegada determina quem morre e quem vive. Toda essa pressão é demais para Frank, que se refugia no álcool, no café, e às vezes na exacerbação do trabalho, para tentar diminuir a angústia que ameaça paralisá-lo. Vivendo no Limite se equilibra bastante entre perdição e salvação, algo inerente à doutrina cristã presente na formação e nos filmes de Scorsese. Nicolas Cage, por sua vez, constrói um dos papeis fundamentais de sua carreira, o narrador desgraçadamente privilegiado da urbanidade noturna, das doenças sociais que se proliferam rapidamente num meio degradado. O inferno não são os outros, somos todos.
Nos balanços a respeito da carreira de Martin Scorsese, poucas vezes Vivendo no Limite é citado como um dos trabalhos memoráveis. Injustiça pura, pois, a meu ver, está perfeitamente alinhado e proporcional aos frequentemente celebrados. Nele, há observação do estado das coisas, do mal-estar congênito da civilização em vigor. Quanto ao protagonista, razão de ser do filme, Frank entende a duras penas que não pode impedir tudo de ruim ao seu redor, com isso alcançando relativa paz. Grosso modo, está ali para socorrer e não literalmente salvar, função esta pesada demais para meros e limitados mortais.
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Grade crítica
Crítico | Nota |
---|---|
Marcelo Müller | 9 |
Chico Fireman | 7 |
Ailton Monteiro | 7 |
Alysson Oliveira | 7 |
MÉDIA | 7.5 |
Primeiro filme que eu vejo Nicolas Cage representar convincentemente um papel.