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Sinopse

Larry é um detetive particular esquisito que mora numa comunidade litorânea da Califórnia. Ele aceita a missão sugerida por uma ex-namorada: encontrar o namorado dela, um bilionário do mercado imobiliário.

Crítica

Dentre todos os possíveis e majoritariamente lisonjeiros apontamentos cabíveis à obra de Paul Thomas Anderson, talvez o mais certeiro é que o diretor faz um cinema único e exclusivamente pessoal. Autor na definição mais específica do termo emprestado por François Truffaut para destacar grandes cineastas, o norte-americano imprime em seu mais novo e desconcertante filme, Vício Inerente (2014), algumas das melhores características definidoras de sua singular filmografia, o que já faz valer o ingresso.

Sétimo filme de PT Anderson e primeira adaptação cinematográfica para um livro de Thomas Pynchon, Vício Inerente apresenta o estranho, obscuro e lisérgico novo caso de Larry “Doc” Sportello, investigador particular que a pedido da ex-namorada se envolve no caso do suposto sequestro de um milionário desaparecido, possivelmente arquitetado por sua esposa e o amante dela. Além de improváveis conjecturas, a busca de Doc revela um mundo psicodélico e misterioso, repleto de tipos ainda mais estranhos do que ele e seus amigos: surfistas, viciados, detetives peculiares e um saxofonista disfarçado são apenas alguns deles. Depois de Boogie Nights: Prazer sem Limites (1997), Anderson possuía crédito de sobra – entre crítica e audiência – para realizar o filme que desejasse. Nos anos seguintes ele dirigiu Magnólia (1999), Embriagado de Amor (2002), Sangue Negro (2007) e O Mestre (2012), ultrapassando quaisquer expectativas geradas por seus trabalhos prévios e gradativamente ampliando as perspectivas otimistas para seus projetos futuros. Nesse cenário, Vício Inerente não decepciona e funciona como um retorno ao universo de Boogie Nights com direção e montagem frenéticas, numa narrativa ritmada pelos pontos de giro e trilha sonora setentista – química amplificada por conta de um elenco afiado e afinadíssimo.

Em parte um recorte da subcultura de sexo e drogas da costa californiana no início dos anos 1970, em parte um thriller cômico e errático que subjuga as regras do cinema noir e se direciona para algum lugar entre a paródia e a sátira. Vício Inerente se perde entre pontas soltas e uma sincronicidade confusa, complexa também pela inacabável lista de personagens secundários que entram e saem da trama quando é conveniente ao roteiro também assinado por Anderson, indicado ao Oscar. Ainda assim, tais particularidades são intrínsecas a obra de Pynchon, um intelectual reconhecido por sua literatura densa repleta de digressões, temáticas e gêneros, o que garante autenticidade e explicita a homenagem ao estilo do autor, traduzido soberbamente para o cinema. Como de costume, Joaquin Phoenix mergulha na composição de seu personagem sem qualquer reserva ou vaidades; como Doc, ele aparece com um cigarro de maconha praticamente em todas as sequências do filme, numa performance inebriada, paranoica e irretocável. Como a premissa sugere, a trama labiríntica segue oferecendo personagens ilimitados, que se validam em maioria pelas atuações que os acompanham – Josh Brolin, Katherine Waterston, Jena Malone, Benício Del Toro, Reese Witherspoon, Maya Rudolph e até Eric Roberts e Owen Wilson são alguns dos nomes estrelados.

Seja pelo material de origem ou pela aproximação de Paul Thomas Anderson, Vício Inerente oferece muitas qualidades para sublimar problemas com artifícios que compensam a sessão. Em algum ponto do filme você deve lembrar de O Grande Lebowski (1998), e isso não é ruim. Os dois filmes funcionariam maravilhosamente bem numa sessão dupla – isso se você tiver quase cinco horas à disposição de uma viagem alucinógena e com efeitos permanentes.

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é crítico de cinema, membro da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul. Graduado em Publicidade e Propaganda, coordena a Unidade de Cinema e Vídeo de Caxias do Sul, programa a Sala de Cinema Ulysses Geremia e integra a Comissão de Cinema e Vídeo do Financiarte.
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