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Sinopse

Um geólogo de 35 anos é enviado para realizar uma pesquisa de campo no sertão nordestino. No decorrer da viagem, a saudade de sua amada aperta e aumenta a sua consciência da geografia humana que preenche aquela região.

Crítica

Dois dos maiores nomes do novo cinema nacional se uniram num projeto que pode ser chamado de tudo, menos de convencional. E o resultado é Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo, um filme que abusa da poesia e da criatividade para falar mais com o sentimento do que com a razão. Uma aposta arriscada, pois não serão poucos os que se sentirão frustrados ao término da sessão, sem conseguir organizar todas as ideias dispostas pelo roteiro. Mas os que conseguirem absorver essa mensagem que fala de liberdade e solidão terão consigo não somente uma bela história de amor, mas também um sensível relato sobre como reinventar-se a cada nova derrota – e consequente renascer.

Os responsáveis por Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo são os diretores e roteiristas Marcelo Gomes e Karim Ainouz. Os dois sempre estiveram juntos, um colaborando no trabalho do outro, produzindo e ajudando sempre que preciso fosse. Gomes entregou o premiado Cinema, Aspirinas e Urubus (2005), enquanto que Ainouz realizou os igualmente ótimos Madame Satã (2002) e O Céu de Suely (2006). Ainouz escreveu e produziu também Cinema, Aspirina e Urubus, além de ter participado dos roteiros de Cidade Baixa (2005) e Abril Despedaçado (2001), enquanto que Gomes foi autor do texto de Madame Satã. Ou seja, são dois artistas influentes, ativos e representantes do cinema que vem sendo feito no Brasil na última década. E outra coisa em comum que ambos compartilhavam era a vontade de fazer algo diferente do que vinha sendo feito até então. E foi olhando para o passado que conseguiram criar algo novo.

Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo nasceu das recordações, memórias e lembranças que os próprios realizadores foram acumulando com o passar dos anos e com o desenvolvimento de suas obras. Cenas passageiras, imagens marcantes, rostos que não se apagavam. Tudo ia sendo coletado e colocado de lado, para não ser esquecido. Até o momento em que decidiram se unir e colocar uma ordem em todo este material. O que conseguiram foi um filme que mistura vídeo-arte com declaração de amor, poesia barata com ambições líricas, refinamento com breguice. Não é para todo mundo, mas somente para os que forem bem sucedidos na tarefa de identificar cada nova nuance e reconhecer as entrelinhas que nos movem durante o processo entre uma paixão desfeita e as esperanças geradas por um recomeçar.

O protagonista de Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo é um geólogo que tem como missão analisar a viabilidade de um projeto no interior do sertão nordestino. O que ele decidir irá mudar consideravelmente a vida de milhares de pessoas. Mas e a vida dele, em que pé se encontra? Quando começamos a acompanhá-lo, no início de sua jornada, ele é só sentimento, sofrendo com a distância do amor que teve que deixar para trás. Mas aos poucos os limites do tempo passam a se confundir com as emoções, e cada vez mais vão se embaralhando com o que é fato e com o que é fantasia. Quem é a mulher que não está mais ao seu lado? Esse afastamento é somente físico ou também passional? Trata-se de um abandono por qual das duas partes? E se não há mais porque voltar, para onde prosseguir? São tantas as questões enfrentadas pelo nosso guia que poucas serão as decisões tomadas sem dúvidas.

Dois fatos são importantes durante o desenrolar do discurso de Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo: o fato de nunca vermos o rosto do condutor – não temos ideia dos seus olhos, das suas expressões, do seu linguajar corporal – e de só ouvirmos o que ele nos conta, sem presenciar suas interações com outros personagens. Temos que acreditar no que nos é dito, ou o princípio estará na própria desconfiança do espectador? Quem engana quem? E sem confiança, será possível compartilhar da dor exposta com tanta força durante o percurso? A solidão da estrada é só mais um comentário a respeito do quão difícil é, na verdade, lidarmos nós mesmos com os nossos demônios internos, e é curioso perceber que foi preciso dois autores para realizar algo tão íntimo e pessoal. Sinal de almas em perfeita sintonia. Quiçá essa ligação se estabeleça também no lado de cá da tela!

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é crítico de cinema, presidente da ACCIRS - Associação de Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul (gestão 2016-2018), e membro fundador da ABRACCINE - Associação Brasileira de Críticos de Cinema. Já atuou na televisão, jornal, rádio, revista e internet. Participou como autor dos livros Contos da Oficina 34 (2005) e 100 Melhores Filmes Brasileiros (2016). Criador e editor-chefe do portal Papo de Cinema.
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