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Sinopse

Madrid, década de 1990. Verónica, uma jovem bonita e alegre de 15 anos, passa seus dias se revezando entre os cuidados de três irmãos mais novos e as brincadeiras com seus amigos adolescentes, já que sua mãe viúva trabalha por longas horas diariamente. O que ela não imagina é que, após participar de um jogo Ouija encontrado em sua escola, sua vida passará a ser terrivelmente atormentada.

Crítica

Paco Plaza dirigiu um dos melhores filmes de horror lançado dos anos 2000 pra cá, e que é também um marco no subgênero dos found footage – desses que fazem parecer que a história foi montada a partir de filmagens reais encontradas. [Rec] (2007) combinava claustrofobia e tensão com sustos armados com inteligência através do uso extremamente realista da câmera. Desde então o realizador investiu quase uma década em continuações do sucesso que, embora divertidos, jamais conseguiram alcançar a maestria do original. O que o trouxe até este Veronica, filme dono de uma narrativa mais tradicional que demonstra que o talento do cineasta não fica restrito ao estilo da sua saga de zumbis.

Primeiro que o cineasta já adota referências diferentes, desta vez se inspirando em John Carpenter na trilha eletrônica e mesmo em detalhes mais simples, como os planos em câmera lenta dos protagonistas andando até a escola. Além disso, Plaza adere a esse popular culto ao cinema oitentista de Hollywood e prefere afastar os adultos da vivência adolescente – quando surgem em tela, os mais velhos apenas questionam ou apontam o caminho aos jovens personagens em que a história se concentra. Algo que o roteiro trata de explicar de saída; Veronica (Sandra Escacena) cuida dos três irmãos mais novos dia e noite, já que sua mãe trabalha em dois turnos num bar, pois precisa sustentar as crianças sozinha agora que (como descobrimos mais tarde) o marido faleceu.

Cabe à personagem-título, então, acordar, dar café da manhã, levar e buscar da escola os três irmãos bem mais jovens que ela. O que torna compreensível a motivação de Veronica para procurar por uma forma de contatar o falecido pai. Porém, depois de se juntar com as amigas numa sessão de Ouija, a adolescente começa a testemunhar estranhas ocorrências na sua casa, o que por fim a leva a concluir que está sendo perseguida por alguma entidade do além, e que ela e sua família correm grande perigo.

A trama não muito original torna-se sensivelmente mais curiosa sob o olhar de Paco Plaza, que investe numa fotografia que é simultaneamente escura e bem iluminada – é macabra, para ser mais exato. Os ambientes do apartamento onde se passa boa parte da trama também são pensados com inteligência: uma janela na sala permite enxergar os quartos do outro lado do prédio, assim como uma série de aberturas fechadas com vidro constrói uma maneira de seguir qualquer coisa que caminhe pelo corredor. E tudo isso é usado com dosagem pelo filme, que consegue extrair arrepios (mais difíceis de se conseguir do que sustos) sem precisar apelar para subterfúgios fáceis, como estouros na trilha que sobressaltam o espectador.

Aqui não. Plaza consegue inspirar o medo, ao invés de impô-lo – como no instante em que a protagonista acorda e encontra alguém parado no canto do quarto, quando deixa de perceber um reflexo estranho no canto da TV, ou mesmo quando uma freira da escola, apesar de cega, parece enxergar atrás da menina algo que não conseguimos identificar. Ainda que boa parte dos créditos mereça ser dado ao elenco juvenil, já que em se tratando de horror, é difícil assustar uma audiência que não compra e torce pelos personagens.

E se Escacena vende bem a adolescente que vive frustrada por não conseguir agir como alguém de sua idade, devido as enormes responsabilidades que lhe são impostas, é Iván Chavero quem atrai toda a atenção para o seu carismático Antonito, que com os grandes olhos estrábicos e óculos fundo de garrafa inspira compaixão por carregar uma atitude alegre digna de uma criança da sua idade. Se mostrando, portanto, menos sobre as assombrações que atormentam essa família do que sobre os componentes da mesma, Veronica é um promissor ensaio do que podemos esperar de Paco Plaza a partir de agora – e tendo em vista sua sutileza ao sugerir um crucifixo de cabeça pra baixo ao filmar o vão de um prédio em contra-plongée, não seria exagero estar ansioso para seus próximos projetos.

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é formado em Produção Audiovisual pela PUCRS, é crítico e comentarista de cinema - e eventualmente escritor, no blog “Classe de Cinema” (classedecinema.blogspot.com.br). Fascinado por História e consumidor voraz de literatura (incluindo HQ’s!), jornalismo, filmes, seriados e arte em geral.
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