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Sinopse

Aos doze anos de idade, T.S. Spivet é um garoto superdotado, apaixonado por cartografia. Quando ganha um prêmio científico prestigioso, o garoto decide abandonar sua família em Montana e atravessar sozinho os Estados Unidos, até chegar a Washington. O único problema é que o júri não sabe que o vencedor ainda é uma criança.

Crítica

O desejo de ser reconhecido é o que move T.S. Spivet (Kyle Catlett), um pequeno gênio da ciência, em seu trajeto pelos Estados Unidos no filme Uma Viagem Extraordinária. Após vencer um importante concurso, o garoto de 10 anos decide empreender sozinho sua jornada de Montana a Washington. Porém, não é o reconhecimento científico que T.S. busca. O que lhe interessa é ser aceito pela própria família. No filme, T.S. vive na minúscula Divide, aos pés das Montanhas Rochosas, com a mãe, Clair (Helena Bonham Carter), o pai sem nome (Callum Keith Rennie), a irmã mais velha, Gracie (Niamh Wilson), e o irmão gêmeo, Layton (Jakob Davies). O esperto T.S. é física e psicologicamente diferente de Layton, um cowboy mirim limitado, idêntico ao pai. T.S., pelo contrário, é parecido com Clair, uma bióloga especializada em insetos e dispersa em pesquisas. O distanciamento entre o pai e T.S. cresce depois da morte violenta de Layton, que abala a família como um todo.

Assim como em alguns de seus filmes anteriores, o diretor Jean-Pierre Jeunet valoriza a estética das imagens para ressaltar o teor fantástico da história que conta. Porém, agora a direção de arte, a cenografia e o uso de cores, luzes, sombras e filtros ganham tons muito mais naturais do que em produções como Delicatessen (1991), Alien: A Ressurreição (1997) e O Fabuloso Destino de Amélie Poulain (2001).

Mesmo assim, Jeunet mantém o gosto por elementos simbólicos que alteram a percepção puramente realista da obra, apostando em certo realismo mágico tardio aplicado sobre comédia dramática para aliar a rigorosa esfera da ciência à dimensão fabular infantil. O diretor propõe colagens pictóricas, inserindo sobre as imagens principais complementos como diagramas, fórmulas, equações e equipamentos técnicos citados pelo menino de forma a adornar a narrativa com representações sobre a imaginação de T.S. – imaginação que, como se sabe, é a própria base da ciência. Outros pontos ressaltam o que há de fantástico em Uma Viagem Extraordinária, como os diálogos imaginários com o irmão morto, com o cão da família e com um professor presunçoso.

A perda do irmão e grande amigo provoca o isolamento familiar e levam T.S. a participar de um concurso científico do Instituto Smithsonian. O garoto cria uma máquina de movimento perpétuo, capaz de gerar energia sem consumir eletricidade ou combustível. Sem contar aos pais, pega um trem em direção à capital federal norte-americana, onde fará um discurso e receberá um prêmio.

A descoberta de que o vencedor do concurso é uma criança surpreende a todos. Mas, como norte-americanos adoram prodígios, ciência e mídia percebem no menino uma mina de ouro livre para ser explorada. O circo montado ao redor de T.S. é a ponte pela qual sua família busca a reaproximação com o menino e a revisão sobre o que houve com Layton, assunto até então proibido entre eles. De uma forma geral, o longa tem um tom ingênuo que pode parecer desconexo com a contemporaneidade. Porém, talvez resida nele a efetiva capacidade crítica social do filme baseado no livro O Mundo Explicado por T.S. Spivet, de Reif Larsen, que centra foco no núcleo familiar e nas indústrias científicas e midiáticas.

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é jornalista, doutorando em Comunicação e Informação. Pesquisador de cinema, semiótica da cultura e imaginário antropológico, atuou no Grupo RBS, no Portal Terra e na Editora Abril. É integrante da ACCIRS - Associação dos Críticos de Cinema do Rio Grande do Sul.
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