Crítica
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Sinopse
Blanche volta para a casa de sua irmã, Stella, onde é atormentada por seu cunhado, o rude Stanley.
Crítica
“Eu sempre dependi da bondade de estranhos”. Esta que é uma das frases mais famosas da história do cinema (e do teatro, sua origem) traduz a essência de Blanche DuBois, personagem de Uma Rua Chamada Pecado (1951) que rendeu a Vivien Leigh seu segundo (e merecido) Oscar. Vivendo uma realidade à parte, ela se muda para a casa da irmã e passa a viver uma conturbada relação de desejo e repulsa com o cunhado, Stanley Kowalski (Marlon Brando, em sua segunda e impactante atuação em Hollywood). Naturalista ao extremo, o diretor Elia Kazan coloca sua protagonista num mundo que ela nem sabia que existia. E, provavelmente, nem a sociedade da época, tão acostumada à glamourização imposta pelos meios de comunicação e pela própria arte.
Blanche passa a viver com Stella (Kim Hunter) e Stanley após o suicídio de seu marido, uma informação que, aos poucos, vai ficando clara no desenrolar do filme. No embate entre a sulista e (antes) rica dondoca e a brutalidade da classe operária representada pelo cunhado, a tensão sexual entre ambos se instala, o que traz graves consequências ao estado mental da protagonista, já tão fragilizada. Não é de se estranhar que Blue Jasmine (2013), filme de Woody Allen que rendeu o Oscar à Cate Blanchett, traga tantos ecos do clássico de Kazan, dos personagens principais à própria história, ainda que a obra recente seja contada sob a veia tragicômica.
Em Uma Rua Chamada Pecado, Kazan mostra muito além da maestria na condução da câmera e na direção de elenco. O cineasta transforma o texto de Tennessee Williams (chamado no teatro de Um Bonde Chamado Desejo), já profundo o suficiente, numa colcha de retalhos das relações humanas, familiares e de paixão, numa luta entre antigos costumes da sociedade norte-americana com novos hábitos ou, talvez, antigos, mas reprimidos. O cenário teatral e claustrofóbico, ambientado quase que inteiramente no condomínio de classe baixa onde vivem Stella e Stanley, ajuda mais nesta atmosfera perturbadora, onde os diálogos e as atuações marcantes conduzem a narrativa à perfeição.
Para tanto, não há como ficar sem destacar a Blanche construída por Vivien Leigh. A eterna Scarlet O’Hara de ...E o Vento Levou (1939) encarna a personagem nos seus mínimos detalhes, desconstruindo-a à medida em que o longa avança e seus segredos são revelados. Teatral e afetada ao extremo, a protagonista vive num mundo de ilusões, algo que a própria faz questão de ressaltar quando fala “eu não quero realismo, eu quero magia”. Após a perda do marido, a então socialite precisa se adaptar não apenas à situação de pobreza em que se encontra, mas também ao estilo de vida de sua irmã, muito abaixo do que ela esperava nos costumes, no modo de se vestir, de se portar à mesa, entre tantos outros. Leigh denota a ambiguidade da personagem ao alternar a figurativa classe aristocrática com o desejo que leva Blanche a explosões de loucura. Ao final, completamente insana, Vivien prova a todos porque esta é uma das atuações mais lembradas da história do cinema. Ela foi a única peça do elenco nas telonas que não estava na equipe original que Kazan também dirigiu no teatro.
Por sinal, Marlon Brando foi descoberto na montagem da Broadway, o que fez o diretor leva-lo para sua primeira indicação ao Oscar por este trabalho. Sem modos, rude, violento e provocativo, além de extremamente sexy com os músculos exibidos na maior parte do filme (seja de regata branca ou com o peitoral despido), o Stanley de Brando é explosivo a toda hora, mostrando que ele era "o rei aqui dentro e é bom que não se esqueçam disso”, como o personagem faz questão de ressaltar. Com ele não há meias palavras, por isto a tensão com a cunhada só tende a crescer, ainda mais por considera-la superficial e falsa em suas ações e caráter. Algo que o próprio Stanley, para o bem ou para o mal, não conseguia disfarçar. Para isto também vale lembrar da Stella de Kim Hunter, vencedora do Oscar de Atriz Coadjuvante no papel da mulher traída e maltratada que tem uma paixão cega pelo marido.
Com tamanho realismo em seus diálogos e atuações, Uma Rua Chamada Pecado é referência até hoje qualquer obra do gênero. Não pense que Closer: Perto Demais (2004), exemplo, poderia ter a mesma força se não fosse este genial trabalho de Kazan, que colocou relacionamentos amorosos conturbados num novo patamar em Hollywood. Um trabalho inesquecível e que marcou a filmografia de todo o mundo.
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O nome do filme e da peça do Tennessee Williams é "um BONDE chamado Desejo".